domingo, 25 de março de 2012

10.000 a.C


Confesso que nunca tive o menor interesse em assistir 10.000 a.C, mas com a insistência de alguns alunos e comentários de quem já assistiu, resolvi dar o braço a torcer. Sempre utilizei em sala o clássico A guerra do fogo (apesar do dilema sobre as cenas de sexo e violência, ainda que indicado para alunos de 10 anos). Bem, assistindo o filme 10.000 a.C comecei a ficar em estado de choque! Como assim? Tipo assim? Talvez eu esteja errada... pois não é possível erros tão crassos em um filme que leva esse título. 

Após assisti-lo naveguei em alguns sites para confirmar minhas suspeitas e ufa... até que eu sei um pouquinho de História, menos mal. Li sites de defesa do diretor, afirmando que ele tem a liberdade de fazer como quer. Tá meu filho, mas depois que os alunos acreditam no que assistem, sobra é pra nós em sala de aula. Agora entendo porque meu sobrinho na quinta-feira passada me perguntou como as pirâmides tinham sido construídas e quando eu comecei a tentar explicar ele disse "foram os mamutes que levaram as pedras". Pensei comigo mesma "está me enrrolando para não estudar espanhol!". Agora eu entendo TUDO!

Inclusive li um site onde a professora passa um trabalho utilizando como fonte o filme... céus! Conclusão, meninos e meninas, passarei o filme, eu prometi, mas terei que falar o tempo todo, citando alguns detalhes imbecis que estão no filme. 

Tipo:
Mamute no Egito? Esse animal de grande porte é bem peludo, sobreviveria ao calor do Egito? E pequeno detalhe, ele foi um animal que habitou o norte: da Ásia e da América. Não sobrinho, não foram eles que construíram as pirâmides do Egito. 

Falando em Egito, no filme as pirâmides já estao em construção. Outro pequeno detalhe, o auge dessa sociedade foi de mais ou menos 4.500 a.C (sempre jogo a data mais ou menos por alto). Construção de pirâmides então, só há 2.500 a.C. 

O amor romântico na Pré-História, sinceramente, não vou nem comentar. Me nego!

Gente! O que aquele Tigre-Dente-de-Sabre está fazendo ali, todo dócil depois de ter sido salvo pelo mocinho? Ele foi um animal do continente americano. 

Pimenta e sementes de milho? Como assim? São vegetais da América também!

As aves carnívoras também são da América e foram extintas há muitos anos, muitos mesmo. Tipo 2 milhões de anos. 

O cavalo então nem se fala, pois foi um animal domesticado apenas 3.500 a.C. 

Parece que vi espadas e objetos cortantes? E algemas de ferro? Caraca! Sua utilização por alto começou há 3.500 a.C. 

Essas datas são importantes SIM! Há 10.000 a.C o homem estava no período Mesolítico (termo que nem ensino para meus alunos do 6º ano, eles vão estudar a Pré-História com mais detalhes no Ensino Médio). Período entre o Paleolítico (caça e coleta) e Neolítico (agricultura). Período da última Era Glacial (o diretor pelo menos nisso acertou) e início da Era Geológica que estamos até hoje. Período da formação de desertos, florestas tropicais e rios (falando em rios, os barcos só começaram a ser utilizados 4.000 a.C, logo aqueles lindos barcos navegando no Rio Nilo, também é sem noção.)

E no filme parece tudo tão pertinho né!? O povo oriental perto do povo caucasiano, bem pertinho dos povos africanos. Locais montanhosos e gelados que se misturam com florestas de aspecto tropical e os desertos. Oh! Coisa de louco! Vai tentar tirar isso depois da memória do aluno!

Finalizando: Não abro mão do clássico A Guerra de Fogo, com todo o seu dilema. 10.000 a.C utilizá-lo só se for para apresentar erros históricos e péssima produção de efeitos especiais.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Diário literário - A memória de uma amizade eterna




(14º livro - presente da minha querida amiga Maria Luiza Dalledone)

"O luto diz quem você é sozinha", é a frase que achamos na introdução do livro "A memória de uma amizade eterna" de Gail Caldwell. A autora decidiu escrevê-lo para relatar o início da amizade com a também escritora Caroline Knapp e desabafar a dor por sua perda. 

Gail é uma mulher do Texas, gosta de nadar, viver isolada e tinha uma cachorra Clementine. Caroline era mais nova que Gail, filha de um psicanalista e uma artista introvertida,remadora apaixonada e também tinha uma cachorra, Lucille. O que as duas tinham em comum além da paixão por seus animais de estimação era o alcoolismo e a luta contra a dependência, já superada no início da amizade. Gail veio de uma família onde todos bebiam e Caroline além do alcoolismo também teve que vencer aos 20 anos a anorexia. 

 Os primeiros capítulos vamos conhecer o início e a consolidação dessa amizade, assim como o crescimento do afeto que uma sentia pela outra. Vamos conhecer suas características, os conflitos em uma amizade por suas diferenças e as semelhanças que as unem. Depois a autora relata as causas da sua dependência alcoólica e o árduo caminho trilhado para deixar de beber. Rodeada de pessoas e incentivos ao consumo "social" de bebida, ela consegue parar de beber. 

 Os últimos capítulos relatam o diagnóstico de Caroline, câncer. Daí em diante, estar do lado de alguém que se tem ciência da morte é o que nos conta a autora de uma forma tão profunda, que é muito difícil não se emocionar. Principalmente para quem já conhece a dor do luto. "Sei que nós nunca superamos as maiores perdas; nós as absorvemos, e elas nos fazem criaturas diferentes, geralmente mais gentis. Às vezes, eu acho que a dor é que produzr a solução. O luto e a memória criam as suas próprias narrativas." (pg 170)

 Depois de 13 anos de convivência, Gail também perde para morte sua cadela Clementine, sendo também mais uma prova de superação a longo prazo. E com tantas dores a autora se despede, satisfeita por dentro de mesmo deprimida ainda estar viva e o que é melhor, sóbria. Com uma lista de projetos a seguir, pois a "o mapa da vida de uma pessoa é desenhado por sorte, circunstância e determinação". (página 171). Muito lindo! Indico!

domingo, 18 de março de 2012

Diário Literário Março/A cidade do Sol e A Letra Escarlate



Comecei a leitura do livro A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne ontem. Meu interesse por esse livro, primeiro é porque já havia assistido o filme em 1998 e segundo porque tem como plano de fundo a Nova Inglaterra puritana do século XVII. A introdução diga-se de passagem é muito massante, mas é nela que o autor relata o seu interesse em escrever a história de Hester Prynne. O título para quem conhece os costumes puritanos da época é a ignomínia obrigatória para quem fosse pego em adultério.  Bom... em leitura.


 (13º livro lido) A Cidade do Sol de Khaled Hosseine me acompanhou nesses dois últimos dias de atestado médico. Puts! Li em dois dias! Ele é o mesmo autor de O caçador de Pipas, então nem precisa falar muito, pois seu talento literário já é conhecido mundialmente. A história é de duas mulheres, Marian e Laila, que diga-se de passagem, parecem que nasceram para sofrer (óbvio que isso é uma ideologia, o desrespeito aos direitos das mulheres não podem ser baseados em destino ou vontade divina, coisa que acontece infelizmente não só na literatura). As duas por turbulências históricas acabam se tornando esposas do mesmo marido. Esse romance cita muitos fatos históricos ocorridos no Afeganistão (e que acabam por dar destino à vida dos personagens) e muitos costumes de opressão ao sexo feminino. É um livro que indico!

quarta-feira, 14 de março de 2012

Diário Literário - Março/2012


(12º livro) Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida é o primeiro livro da saga de Eduardo Spohr, mesmo autor de A Batalha do Apocalipse. Aliás, um não é continuação do outro, porém muitos termos e personagens são presentes nas duas obras literárias.

A literatura de Spohr é rica em situações que nos levam a usar a imaginação, isso é muito bacana. Não sei bem se é uma literatura que adultos também apreciem, pois o Batalha do Apocalipse foi indicação de um ex-aluno e o interesse por Filhos do Éden foi curiosidade de saber se o autor acertaria tanto nesse como no seu primeiro.

Confesso que gostei mais do primeiro pelos eventos históricos que o autor mesclou com o enredo. Spohr também utiliza nesse livro anjos e demônios bíblicos ou criados por ele. Também é baseado no conflito celestial entre Miguel e Gabriel, participando tanto os partidários de um como os partidários de outro.

Nas duas ficções Yahew criou o mundo em seis dias com auxílio dos principais anjos que eram irmãos e descansou no sétimo dia, deixando para os anjos a missão de cuidar de tudo no seu descanso (que dura até hoje). Dotados de sentimentos contraditórios, há várias guerras civis no céu por causa da raça humana, dotada de eternidade e livre arbítrio. Há guerra civil nas camadas celestiais, segundo o autor, até hoje.

Os eventos catastróficos que ocorreram na História da Humanidade foram enviados por alguns anjos com o propósito de exterminá-los. Esse é o foco central das obras e para quem se sentir perdido o autor anexou no apêndice informações como as camadas celestiais, os personagens, glossário, cronologia etc.

Os personagens principais dos Filhos do Éden são: a arconte (Kayra), um querubim exilado, um querubim guerreiro, um ofanim, anjos e vários demônios. A missão é encontrar as ruínas da cidade de Atlântida. O ponto de partida é a cidade de Santa Helena no Rio de Janeiro e esse primeiro livro acaba em Brasília. Não vou contar tudo, mas a impressão que tenho é que o autor foi criando tudo conforme ia escrevendo, surgindo as ideias e colocando no papel. Não sei, posso estar errada, mas digo mais uma vez, o seu primeiro livro pareceu mais bem planejado.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Diário Literário - Triste Fim de Policarpo Quaresma


Hoje terminei o 11º livro do ano (enquanto o olho esquerdo lacrimejava o direito fazia o serviço, isso que é vício, affs), Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto. Li uma sugestão sobre ele e acho que buzinei tanto sobre o mesmo que minha irmã acabou me dando de presente. O autor descreve nessa obra as estruturas sociais e políticas do Brasil da Primeira República, enfocando os fatos históricos do governo de Floriano Perixoto. 

O livro (que foi publicado inicialmente em folhetins no ano de 1911) está dividido em três partes. Chamo essas partes de "o hiperfoco" (linguagem de TDAH) de Policarpo Quaresma, protagonista da obra. Nesses três momentos da sua vida ele se lança de corpo e alma a um ideal sempre baseado no patriotismo. 

Já na primeira parte o personagem é apresentado como patriota e não sei se o "seu triste fim" se deu por ter sido um patriota sem ambições políticas ou administrativas (pg 19). Gostei muito dessa parte sobre Policarpo que acho que vou até utilizar como texto da avaliação globalizada sobre História do Brasil (9º ano):

"Não se sabia onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não eram só os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara,não era a altura de Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves - era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro".

Ao meu ver o trecho acima descreve bem as riquezas do nosso país. Então, essa é a primeira parte do livro onde o protagonista conhecedor das nossas belezas naturais decide escrever um manifesto solicitando que a nossa língua geral seja a tupi-guarani. Óbvio que ele não vai ser levado a sério, chegando mesmo a ser internado em um hospício. Nessa parte gostei muito do personagem Ricardo Coração dos Outros que ensina Quaresma a tocar violão, instrumento que sofre discriminações na época. A descrição de Lima da alta sociedade suburbana carioca é maravilhosa. 

Na segunda parte Quaresma resolve ir cuidar de um sítio, plantar e colher e entre uma semente e outra analisa a pobreza da comunidade rural a sua volta e disputas políticas no campo. Pode-se conciliar com a República Oligárquica que substitui o Brasil já agrário do Império. Aliás ele faz críticas sobre a ajuda do governo aos estrangeiros e descaso do mesmo com o povo brasileiro. Sua luta contra as saúvas é o ponto alto dessa segunda parte. 

A terceira Quaresma se alista para o exército de Floriano contra um levante que realmente aconteceu na posição de major. Ricardo Coração dos Outros também se alista de forma "voluntária". Nessa última parte Lima Barreto dá maior ênfase ao presidente Floriano Peixoto e as formas como as posições e cargos são adquiridos nessa máquina administrativa chamada governo. Nada diferente da atualidade, aliás quantas semelhanças há na obra e na nossa realidade atual. Bem, sem contar o final do livro, o título já diz tudo e triste as reflexões que Policarpo faz sobre patriotismo e consequências. Agora é ir atrás do filme.

O Crime do Padre Amaro - O filme

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Depois de lido o livro O Crime do Padre Amaro de Eça de Queirós fui átras do filme. Puts! Assisti de óculos escuros pois estou com uma baita conjutivite e a fotofobia está tensa. Se os olhos são as janelas da alma, não sei nem como está a minha. Que agonia viu ...
O filme é do ano de 2002 e o enredo se passa no interior do México, diferente do livro que o local é em uma cidade de Portugal. Acho que os únicos que ficam com os mesmos nomes são Amélia e Amaro. Esse também é um padre recém ordenado e há também a crítica em relação à Igreja que com hipocrisia condenava as guerrilhas (período das guerrilhas comunistas na zona rural) mas fazia vista grossa às doações do tráfico de drogas e lavagem de dinheiro para construção de um hospital. 
A mãe de Amélia (Sra. Sanjuanita) também é amante de um padre (Benito), assim como na literatura. O inimigo da fé no filme é o comunismo, o ser herege para os católicos da região e da época, enquanto que na literatura é a Ciência. Totó no filme vai se chamar Getsemâni (um padre que a batizou assim, e que estranho, o nome do jardim das agonias de Cristo antes da Cruxificação).
O namoradinho de Améilia é Rúben e até que não pena tanto quanto o João Eduardo de Eça de Queirós. Rúben esnoba a protagonista quando essa tenta reatar (diferente da obra literária). No livro, o padre Amaro chega a desejar que a criança nasça morta, afinal será mais um anjinho no céu. Caso nasça viva seria dado para os outros criar. Já na versão cinematográfica, o assunto vai passa antes pela adoção.
Mas o que casa mesmo no filme com o livro é o final trágico de Amélia (maldita Eva) que ao seguir a ideia de Amaro (muito interessado na sua "vocação" ao sacerdócio e não ao matrimônio) decide fazer um aborto em uma clínica clandestina. Óbvio que se Eça de Queirós queria criticar certos males da sua época, o diretor do filme também teve lá suas intenções. 
Bem, mesmo não gostando muito da versão do filme achei possível analisar o lado rural do México e o sincretismo religioso que existe desde os tempos de colonização espanhola. Para finalizar, fiquei sabendo que antes da estreia em 2003, teve muitos movimentos para tentar impedir sua estreia o que não adiantou muito, trazendo mais pessoas às salas de cinema.


quarta-feira, 7 de março de 2012

Diário literário março/2012


Na minha humilde opinião de amadora, O crime do Padre Amaro é a melhor obra realista que já li até hoje. Eça de Queirós não me chocou apenas pelo romance avassalador entre o padre Amaro e Amélia, mas na riqueza de detalhes dos costumes de um período ainda impregnado de misticismo e pieguices. No início inocentei o Padre Amaro, pois nunca houve de sua parte vocação para batina e sim um destino planejado por uma carola que o criou desde novo. Mas, após os seus atos egoístas, profanos e nefastos para satisfazer seus instintos carnais, utilizando do seu poder clerical me fizeram condenar o padre.Eis o poder de Eça de Queirós! Aliás, o autor utilizou de personagens de batina praticantes dos sete pecados capitais e de situações onde foi mesclado das mais variadas formas os interesses seculares, políticos e mundanos com os interesses e poderes religiosos. Para muitos o preço pago por Amélia e seu filho foi o pago por ter se tornado uma barregã, mas psicologicamente falando (sou leiga no assunto) a devoção e a pieguice em excesso auxiliou e muito no seu fim. Fechado com chave de ouro, o autor conseguiu casar o pensamento religioso (e hipócrita na minha opinião) sobre uma realidade ilusória. A sociedade em declínio pelo pensamento místico, a pobreza, a miséria ao redor dos religiosos e a frase de um dos padres:
"vejam toda esta paz, esta prosperidade, este contentamento ... meus senhores , não admira realmente que sejamos a inveja da Europa!" Uma ótima leitura, indico!Meu 10º livro do ano já lido. :)

sábado, 3 de março de 2012

Portfólios Pessoais 6º ano A e B








De que adianta aprender sobre a História da Humanidade se não conheço a minha própria história? Foi com esse pensamento que os alunos do 6º ano A e B organizaram informações, documentos, fotos e objetos em um portfólio pessoal. Estou lendo cada um com muito carinho e me encantando. A participação da família na elaboração desse trabalho é visível e a orientação (SOE) vai elaborar uma carta de agradecimento. Aliás, é uma confiança que eu agradeço também, tem objetos desses alunos (dentinhos, umbigos, documentos originais, fotos...) que estou cuindando muito bem. Ontem a sala dos professores ficou em festa com esses portfólios. Um trabalho que encantou a todos nós.