domingo, 11 de setembro de 2016

Enterrada viva - A biografia de Janis Joplin


Todos sabem da minha paixão por Janis Joplin, inclusive nome dado à minha gata. Nada mais justo do que ler sua biografia, que aliás, é difícil encontrar. O livro começa tratando sobre sua cidade natal, Port Arthur, cidade petrolífera do Texas, e a mudança de perfil dos seus habitantes, que de forma geral eram conservadores. O pai de Janis, o senhor Seth Joplin  era suave, introspectivo, intelectual e a sra. Dorothy Joplin era disciplinada, trabalhadora e tinha o temperamento agressivo. O nascimento de Janis Lyn Joplin se deu em 19 de janeiro de 1943, sua infância foi normal, e ela foi dotada de dom para artes plásticas, leitura e música, com a participação em coro da igreja e conjunto vocal do colégio. Sua mudança de comportamento começou no décimo ano, quando estabeleceu estranhas identificações e com uma necessidade gritante de ser aceita

Então veio o desleixo com o corpo, a participação em grupo que a rejeitava, comportamentos bizarros que aumentava o ódio geral por ela e as experiências sexuais não existentes. Fatos e atos que fizeram parte do final do ano acadêmico de Janis. No fim do ginásio, o começo do contato com a música (cantando), a faculdade, a ida a Los Angeles e o contato com a cultura beatniks (começa seu jeito excêntrico de se vestir) em Venice. Além da biografia, a autora faz uma explanação da sociedade à margem do politicamente correto da época. 

Há vários relatos dos amigos que em um dado momento mudaram de rumo e entenderam tudo que era moda (heroína, maconha, anfetaminas...) era apenas uma fase. Porém, Janis viajou para São Francisco, depois para Nova York, retornando a Port Arthur em 1965. Matricula-se em Sociologia e passa dez meses limpas de drogas. Para ela só havia dois extremos: um mundo de impulsos primitivos e irrefreados ou um clima policiador. Travis Rivers chega para levar Janis de volta à Califórnia para participar da banda Big Brother and The Holding Company. 

Aos 24 anos, o aborto no México, os ensaios, a mudança física e o começo da carreira rumo ao sucesso. A banda Big Brother and The Holding Company vai se tornando conhecida, com a mistura de rock e folk. A personalidade excêntrica e singular de Janis se sobressai nas apresentações e chama a atenção do jornalismo rock, fenômeno da imprensa que surgiu em 1968. O Big Brother assina contrato com a CBS. O sucesso repentino, tendo a banda como pano de fundo apenas. Problemas entre Janis e a banda, na verdade, críticas de músicos em relação à banda, resultando em ausência de novas composições. 

A personalidade de Janis era egocêntrica, paranoica, megalomania e frágil ao mesmo tempo. O uso do seu corpo e aparência, que envolviam seu narcisismo como o seu desgosto de si própria. Quando se sentia bem e segura, o seu charme e a sua gentileza eram incomparáveis. O ano de 1969, ano que Janis costumava chamar de o ano dos Kozmic blues. Já tinha um Porsche, dinheiro, uma corporação e uma companhia editora dos seus discos. Tinha gastos moderados e até certa organização com suas finanças. Quando Janis rompeu com a banda, ela  se sentia culpada e infeliz. 

O clima agora era de profissionalismo. A crítica ao novo agrupamento foi ácida, cruel e Janis reagiu mal. Diferente da mídia americana, a Europa a recepcionou super bem. Mas, isso não a manteve longe da fuga na heroína. A prisão em novembro, Flórida, por desacato. Por pressão de amigos, o tratamento contra as drogas com Dr. Rothschild: "Intelectualmente, ela era quase brilhante, podia, realmente, manobrar muita gente. Um dos seus problemas era ser intelectualmente tão adiantada enquanto que as suas emoções eram infantis e incontroláveis. Tinha sempre a necessidade de falar. Não podia ficar quieta. Comia de forma completamente indisciplinada, se gabava da sua vida sexual. Eu não achava que isso fosse coisa para se gabar e, como ser humano, me chocava que alguém se vangloriasse de uma coisa que devia ser íntima 

Janis muitas vezes, por causa do seu complexo de inferioridade, conseguia ser imbecil de forma exibicionista. Exigia atenção, apregoava sua importância e exigia consideração especial. O terceiro e último conjunto de Janis (Full-Tilt Boogie) teve bons resultados devido a iniciativa de Janis tentar parar com as drogas. No entusiasmo da abstinência, ela sentiu-se mais confiante, musicalmente, do que nunca. Talvez o segundo conjunto tivesse sido melhor sucedido se não fosse o contrapeso da sua dependência do vício. Porém, não aconteceu uma metamorfose. O comportamento desesperado de Janis com os homens continuava, bem como as suas roupas extravagantes, os acesso de mau humor, o apego medroso aos símbolos da fama. Tudo isso era mais forte do que a música e a libertação do consumo de drogas. 

Aliás, ela ainda não se libertara de outra droga: o álcool. Encorajava os outros a beber como eles a encorajavam, numa espécie de patologia de grupo que propiciava um estímulo em círculo vicioso para um constante estado de intoxicação. Janis dera a si própria um outro nome, Pearl. A ideia partira de Dave Richards, e fora apenas uma brincadeira. Mas Janis levou-a a sério. De um lado, Pearl, desbocada-farrista-promíscua-beberrona, florescendo sob a tirania de um aplauso que não vinha apenas das galerias. De outro, Janis, vivendo num isolamento tão doloroso quanto o de qualquer solitária de prisão. Para ela não havia aplausos, apenas o tédio, a solidão, o riso vazio, a revolta contra o ambiente que a rodeava, o horror à embriaguez. Mas Janis sabia quem aplaudia uma e outra. Quanto à troca de papeis, acontecia com uma rapidez alarmante, suas adaptações às exigências do momento perfeitas a ponto de quase não poderem se detectar. 

Não obstante, embora Janis sempre tivesse gostado de falar, no seu último ano de vida ela se tornara mestra em pirotécnica verbal, mesmo sem precisar ser encorajada. À maneira que a sua carreira progredia, ela ia ficando cada vez menos escrupulosa com a sinceridade dos seus comentários e, muitas vezes Janis distorcia completamente a verdade. Janis começou a citar a frase "Vou esperar oito meses e meio... e, se a coisa não melhorar... vou acabar com tudo." Frase citada a partir de abril último, pois fora o mês que ela abandonara o vício e formara um novo conjunto. Seu tom era implorativo, além de pedir apenas um pouco de atenção.

Então, infelizmente, Janis sucumbiu ao vício e uma dose de heroína pura a fez morrer vítima de uma dose excessiva no dia 04 de outubro de 1970. No seu sangue havia também álcool e seu fígado mostrava os efeitos de anos e anos de bebidas. Janis estava apaixonada e falava em casamento. Falava a seu noivo (Seth) que planejava diminuir o ritmo da carreira. Apesar da queda nas paradas de sucesso, a tentação de retomar a agulha parecia ser (segundo a autora) uma forma de danação:
- Sabe de uma coisa? - falei - Acho que você não suportar ser feliz.
Janis suspirou: "Você tem razão". 

Vou chamar a polícia - Dr. Yalom

Quinto livro do autor! 

"Esse sujeito, que ao falar pode identificar as raízes de seus sintomas, embora silenciados pela ciência em um dado momento, nunca deixou de viver nas tradições orais, nas narrativas épicas e mitológicas, na poesia e no romance e moderno. O que convencionamos chamar de literatura evidencia a necessidade que tem o homem de dar uma forma a seu sofrimento e de compreender melhor a complexidade dos dramas que o afligem."

"Vou chamar a polícia", primeiro capítulo do livro, é uma narrativa sobre seu amigo, Robert L. Berger. Devido um episódio na vida adulta, Robert faz um link com uma ação que estava recalcada em si mesmo. O autor então demonstra a importância da psicoterapia para auxiliar o paciente nesses feedbacks. Para o autor, a literatura pode instrumentar a psicologia, e para demonstrar o seu pensamento,  recorre, com frequência, a grandes autores, em busca de uma frase ou de um recurso literário que possibilite uma forte e clara compreensão. Também aborda temas como: Isolamento interpessoal, isolamento intrapessoal e isolamento existencial. O autor traça paralelos com a obra "Todomundo" (famosa peça medieval sobre a moralidade); Sobre isolamento existencial, ele utiliza Lewis Carroll para discutir uma dessas funções: usar o outro para corroborar nossa existência (e etc: Camus, A Queda; Guerra e Paz, Tolstói; As moscas, Sartre; Grendel, John Gardner). No capítulo "A viagem da psicoterapia à ficção", Yalom rescreve episódios sobre pacientes presentes no seu livro "O carrasco do amor". No capítulo: "O romance pedagógico", Yaslom trata sobre seu livro "Quando Nietzsche chorou". Interessante, pois muito do que sabemos sobre o filósofo está filtrado pela ação da sua irmã Elisabeth, e isso não é fonte segura e nem justa sobre ele. Yaslom traz muitas observações das suas pesquisas para elaboração da obra.No capítulo final  "Romance psicológico", ele conta sua experiência sobre seu livro, "Mentiras no divã". Na minha opinião, seu melhor livro ficcional. A grosso modo, esse livro é um diário sobre seu trabalho como escritor, que serve para autores e psicoterapeutas. Eu, como sempre, indico!