terça-feira, 14 de julho de 2015

Diário Literário - Mulheres






Terceiro romance de Charles Bukowski, publicado em 1978, trata do alter ego do próprio autor. Na pele do personagem Henry Chinaski, vamos percorrer nas aventuras que segundo uma entrevista do editor de Bukowski, quisera não fosse verdade pelo menos metade do que estava na obra "Mulheres". Bem na verdade, a maioria dos leitores focam em Chinaski, sem levar em conta o título do livro e claro, o perfil psicológico e acredite, psiquiátrico das mulheres que passaram pelo "falo" do poeta. Não se escandalize com o termo que escrevi em aspas, caso contrário, aconselho então que não leia. Chinaski é um escritor, soma de todos os erros: bêbado, preguiçoso, sem um deus, apolítico e com ciência da sua própria feiura. Viciado em corrida de cavalos, amante de músicas clássicas, um ser noturno que se sentia intimidado diante do público ao ler seus poemas. Se o leitor desejar ler apenas para o excitamento sexual, leia sem medo. Agora se o desejo for analisar a complexidade psicológica do autor e das mulheres que encontrou em sua vida, vai perceber o que disse Gabriel García Márquez: "O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança". Não há encontro de almas, de sentimento, e sim a pressa de viver o que não se viveu na juventude. Mulheres lindas, loucas, novinhas, de outro país, seja como for, o que não muda é Henry, o grande filho da puta, como sempre o chamavam. Mas, mesmo aparentando tratar a maioria como objeto (e vice-versa), elas não o odiavam. Seja como for, Chinaski é o que afirmou Marquês de Sade: Antes ser um homem da sociedade, sou-o da natureza.

Diário Literário - O amor nos tempos do cólera




34/2015 - Obra do colombiano Gabriel García Márquez, publicada em 1985 e parte do gênero considerado como realismo fantástico. Narra sobre a vida dos personagens Florentino Ariza, Fermina Daza e Juvenal Urbino. O período se dá em fins do século XIX (1870-1925 aproximadamente), período do surto do cólera e da guerra civil que dizimaram a população. Ainda que não nominada na obra, a cidade tem indícios de ser Cartagena das Índias pelas citações: maior mercado de escravos no século XVIII, Convento de Santa Clara, Portal dos Escrivães, Baía das Ânimas e pela presença da figura de São Pedro Claver, padre da Companhia de Jesus, nascido em Barcelona, também conhecido como S. Pedro Claver da Cartagenha das Índias, onde morou até morrer e se notabilizou na defesa dos escravos. Aliás, vale registrar que o autor morou e trabalhou na cidade na sua juventude. 
Seu início dá-se com o suicídio de Jeremiah de Saint-Amour e então o autor começa sua magnífica analepse. Parece sem sentido começar algo com um fato e um personagem que não aparece mais, porém vale ressaltar que Gaba nessa obra trata da questão do tempo e da sua consequência, o envelhecimento. Este é o fio condutor da narrativa. Enquanto os três personagens vivem o ciclo normal que resulta na velhice, Jeremiah resolve não enfrentá-la, dando fim à vida por não desejar envelhecer. 
Evitando spoiler, vou apenas ressaltar que diferente dos outros dois personagens principais, podemos perceber que a obra divide-se nas três fases da vida de Florentino Ariza. Primeira, quando jovem e se apaixona, segunda quando é rejeitado e vive suas aventuras eróticas (registradas em 25 cadernos, sendo 622 amores continuados e aventuras fugazes anotados) e a última, quando procura Fermina na velhice. Para o autor atento, a narrativa não descreve apenas a vida dos personagens, mas também a decadência da cidade colonial, a pobreza do bairro dos escravos e a vida das prostitutas.
Antes de finalizar, gostaria de registrar que sobre o amor de Fermina e Florentino, a chave para o contexto (menos sua continuação e final) foi o relacionamento dos pais do autor. Telegrafista, violonista e poeta, Gabriel Elígio García foi rejeitado pelo coronel Nicolas, pai de Luiza Márquez. Tal qual a obra, Luiza é obrigada a fazer a viagem do esquecimento e Gabriel Elígio com ajuda de amigos telegrafistas organiza uma rede de comunicação que alcançava sua amada onde ela estivesse. Super indico a leitura. Apaixonante.

“A sabedoria nos chega quando já não serve para nada.”

"À merda o leque que o tempo é de brisa."

"O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café."