terça-feira, 14 de julho de 2015

Diário Literário - O amor nos tempos do cólera




34/2015 - Obra do colombiano Gabriel García Márquez, publicada em 1985 e parte do gênero considerado como realismo fantástico. Narra sobre a vida dos personagens Florentino Ariza, Fermina Daza e Juvenal Urbino. O período se dá em fins do século XIX (1870-1925 aproximadamente), período do surto do cólera e da guerra civil que dizimaram a população. Ainda que não nominada na obra, a cidade tem indícios de ser Cartagena das Índias pelas citações: maior mercado de escravos no século XVIII, Convento de Santa Clara, Portal dos Escrivães, Baía das Ânimas e pela presença da figura de São Pedro Claver, padre da Companhia de Jesus, nascido em Barcelona, também conhecido como S. Pedro Claver da Cartagenha das Índias, onde morou até morrer e se notabilizou na defesa dos escravos. Aliás, vale registrar que o autor morou e trabalhou na cidade na sua juventude. 
Seu início dá-se com o suicídio de Jeremiah de Saint-Amour e então o autor começa sua magnífica analepse. Parece sem sentido começar algo com um fato e um personagem que não aparece mais, porém vale ressaltar que Gaba nessa obra trata da questão do tempo e da sua consequência, o envelhecimento. Este é o fio condutor da narrativa. Enquanto os três personagens vivem o ciclo normal que resulta na velhice, Jeremiah resolve não enfrentá-la, dando fim à vida por não desejar envelhecer. 
Evitando spoiler, vou apenas ressaltar que diferente dos outros dois personagens principais, podemos perceber que a obra divide-se nas três fases da vida de Florentino Ariza. Primeira, quando jovem e se apaixona, segunda quando é rejeitado e vive suas aventuras eróticas (registradas em 25 cadernos, sendo 622 amores continuados e aventuras fugazes anotados) e a última, quando procura Fermina na velhice. Para o autor atento, a narrativa não descreve apenas a vida dos personagens, mas também a decadência da cidade colonial, a pobreza do bairro dos escravos e a vida das prostitutas.
Antes de finalizar, gostaria de registrar que sobre o amor de Fermina e Florentino, a chave para o contexto (menos sua continuação e final) foi o relacionamento dos pais do autor. Telegrafista, violonista e poeta, Gabriel Elígio García foi rejeitado pelo coronel Nicolas, pai de Luiza Márquez. Tal qual a obra, Luiza é obrigada a fazer a viagem do esquecimento e Gabriel Elígio com ajuda de amigos telegrafistas organiza uma rede de comunicação que alcançava sua amada onde ela estivesse. Super indico a leitura. Apaixonante.

“A sabedoria nos chega quando já não serve para nada.”

"À merda o leque que o tempo é de brisa."

"O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café."