O livro “Sobrevivi para contar: o poder da fé me
salvou de um massacre”, foi escrito por Steve Erwin e narra a história de Immaculée Ilibagiza. É o tipo de livro que não me atrai em uma
livraria, mesmo estando em promoção. Foi um presente, um belo presente literário.
Os relatos históricos do genocídio de 1994 em Ruanda não são o foco da
narração, mas é uma ótima opção para quem deseja se informar mais sobre o
assunto.
A apresentação
inicial é de Wayne Dyer e o prefácio é de Immaculée que informa que o livro se
trata da sua vida pessoal e não do genocídio de 1994 em Ruanda, onde aprendeu
que "ser poupada não é o mesmo que
ser salva". Aos 22 anos, confinada num banheiro durante três meses com
mais sete mulheres, seus maiores inimigos foram o medo e o desespero.
Nascida e criada em Kibuye, província de Ruanda
Ocidental, Immaculée Ilibagiza tinha que caminhar 12km para estudar, assim como
as outras crianças. Fazia parte de uma família menos pobre e conhecida por suas
obras beneficentes. Há vários relatos de cada membro da família antes da
tragédia.
Immaculée só teve ciência das diferenças étnicas em
Ruanda, quando seu professor fez a chamada por tribo. Ela nem sabia à qual
pertencia. Os colonizadores alemães e depois os belgas fizeram a merda toda,
criaram um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça dos
indivíduos. A maioria hútu, uma minoria tútsi e um número insignificante de
twas (pigmeus). Aos 15 anos não ganhou a bolsa de estudo por ser uma tútsi e
após muito estudo, conseguiu entrar no Lycéé de Notre Dame d´Afrique,
uma das melhores escolas de Ruanda, com sua maioria de hútus.
No feriado de Páscoa, Immaculée pela insistência do
pai, vai passar com a família. Então, na manhã de 07 de abril de 1994 (ano de
Copa, da morte do Ayrton Senna, do plano Real, do nascimento do meu filho),
começou o genocídio. Ações extremistas contras os tútsis já estavam
acontecendo, o estopim foi o assassinato do presidente Habyarimana, que
prometera devolver a paz e igualdade entre hútus e tútsis.Vários relatos durante
o livro sobre as atrocidades praticadas pelo grupo hutu.
“Compreendi
que minha batalha para sobreviver seria travada em meu interior. Tudo que eu
tinha de bom - fé, esperança, coragem - era vulnerável à energia do mal. Se
perdesse a fé, eu não sobreviveria. Mas podia confiar em Deus como um aliado em
minha luta."
Esse era o pensamento de Immaculée escondida em um pequeno banheiro com mais
seis tútsis na casa de um pastor hutu moderado. O genocídio era total e apoiado
pelo governo. Sua família já havia sido toda assassinada, exceto seu irmão mais
velho que estava em Senegal.
Os belgas, antigos colonizadores foram os primeiros
a remover suas tropas. A ONU retirou sua força de paz assim que começou o
massacre, ficando apenas os canadenses com 200 soldados. Mais duas fugitivas
foram escondidas no pequeno banheiro, Malaba e Solange. Immaculée decideu
aprender inglês, pois tinha certeza que quando tudo acabasse, iria trabalhar
para o ONU.
Os franceses decidem enviar ajuda e os hútus acreditam que vão
apoiá-los, pois foram treinados por eles. O que eles não esperavam é que a Operação Turquesa, projeto francês de
enviar tropas para Ruanda, era para criar refúgios seguros para os tútsis
sobreviventes. Immaculée e as outras mulheres chegam à base da Operação
Turquesa, e lá encontraram outros tutsis fugidos e feridos. O mais interessante dessa
biografia é sua fé que mesmo vacilante acredita no futuro, mesmo com a perca
dos seus entes amados. “A fé move montanhas, mas se ter fé fosse fácil, a
montanha não seria removida, e sim desapareceria”
Immaculée chega a trabalhar na
ONU e ao se deparar com os assassinos dos seus pais, contrariando a todos,
oferece o perdão. Esse relato ajudou várias vítimas de terrorismos no mundo a
lidar com o trauma. Hoje, está casada e é mãe de dois filhos, atualmente sua
residência é em Nova York, onde trabalha para a ONU e direciona seus esforços à
organização que criou para amparar sobreviventes de guerras e genocídios.
INDICO!