sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sem filhos - Corinne Maier


A autora é francesa e cita várias críticas à algumas ações que estimulam a procriação na França. Se ela fosse brasileira então ... 


Os argumentos não são convincentes, ainda que verdadeiros. Chega ao nível de desabafo pessoal com detalhes da experiência da própria autora, que possui dois filhos.

Percebe-se no desenvolvimento do livro que os motivos dados pela autora são realistas. Demonstra como o capitalismo se utiliza do público infantil e como os pais têm se mantido cativos em um modelo idealizado de criação dos seus pequenos. Porém, em alguns momentos seus comentários maldosos ou rótulos dados às crianças desqualifica um pouco o seu trabalho.

A partir do capítulo vinte e seis o livro torna-se mais interessante, quando a autora envolve escola, equipe pedagógica e várias armadilhas criadas por um sistema que torna os pais obrigados a lutar pela felicidade dos próprios filhos. Problemas de aprendizagem na escola, crianças que não se encaixam em um sistema idealizado, são alguns dos itens que fazem entrar outros profissionais que mais atrapalham.

Não é uma leitura que desmotiva à procriação, mas é válida e corajosa em um mundo onde as pessoas estão mais preocupadas em ter, do que ser. Lógico que a realidade da autora é de um país diferente do Brasil, porém os resultados a longo prazo ao meu ver são os mesmos. Que cada um decida por sim mesmo. No fim, concordo com a autora.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Minha cirurgia - laqueadura tubária


A princípio, quero deixar bem claro, que gosto de crianças, de mulheres grávidas e de pegar crianças no colo. Há! Outro detalhe tenho um filho de 17 anos. Esse texto não é uma justificativa e nem muito menos uma abertura ao debate ou julgamento. Apenas quero evitar ficar falando a mesma coisa.

Na existência de 35 primaveras desejei apenas três vezes ter filho. A primeira aos 16 anos, contra a vontade do pai que dizia não termos condições nenhuma para tal. Ele tinha a razão, e eu a decisão. Aquele poderio feminino de não tomar  o contraceptivo diário e ainda por cima tomar uma garrafada para aquecer o útero. Eu queria ter um filho, não queria “até que a morte os separe”. Sequelas desse ato são visíveis até hoje (ainda que não justificáveis para as decisões do meu filho), pois ser mãe solteira – me desculpem as feministas –, não é tão simples assim.

A segunda vez que desejei ter um filho, aos 19 anos, foi aquele motivo ridículo de tentar forçar um homem ficar do seu lado. “Para todo o sempre, já que a morte da paixão já nos separou”. Talvez naquele ano eu tivesse êxito, mas não rolou. Ufa! Os anos passaram, quantos homens me amaram... e eu permaneci com a decisão original de ter apenas um filho. Esqueci de citar, sempre quis assim, talvez por traumas familiares. Enfim, alguns até que nos protegem de certas formas. Não me condenem.

A terceira vez, foi em 2010, no meu último relacionamento. De olhar a pessoa, e querer unir cromossomos. Mas, filho é muito mais que unir cromossomos. Ele não fazia questão, falamos disso na beira do mar, tudo tão romântico. Como a idade vai chegando, temos noções que certas decisões tomadas no estágio da paixão é via de mão única, e não de mão dupla. Seria mais uma vez uma mãe solteira. Sim, pensei nessa pessoa antes de concretizar ontem o resultado burocrático que enfrentei desde 2009, a laqueadura tubária. Realizada ontem. 

Então, todo esse discurso de novela mexicana, para narrar os fatos. Acredite, a sociedade religiosa e principalmente  feminina, tiveram durante todo esse tempo pedras em formas de palavras para me atacar:

- E se você arrumar alguém que queira um filho?



­­­­­­- E se o seu filho morrer?

- Quantas mulheres lutando para serem mães e você querendo cometer esse pecado contra o mandamento de Deus de multiplicação.

Sim, talvez eu me arrependa, talvez eu arrume alguém que queira filho e tenha que deixa-lo partir para formar família. Não adotaria, filho é filho, gerado no ventre ou não. Só sei que entre um talvez e outro, agi. Lutas burocráticas e decisões com fulcro na Legislação, consegui. Não sofro de ansiedade pelo futuro, a luta agora é me recuperar bem, pois ainda abrem o corte da cesárea, por ser serviço público? Não sei, sei que como cidadã me nego a pagar, afinal já pago impostos.

Posso agradecer a Deus, afinal nossas conversas não são baseadas em medos. Quem me dá o livre arbítrio de eternidade não haveria de dar o mesmo em relação a fecundidade? A interpretação é minha, não precisa debates teológicos, principalmente de pessoas que não tiveram filhos algum.

No próximo post, lançarei a resenha do livro “Mais de 40 motivos para não se ter filhos” que diga-se de passagem, não me influenciou em nada.

Vou almoçar, estou sendo muito bem cuidada. Tudo acontece no tempo certo. Ainda que demore.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

E sobre poesia ...

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada, 
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra cousa).
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são. 
SENTIR É ESTAR DISTRAÍDO. 

Fernando Pessoa