sábado, 22 de outubro de 2016

Deus o ama do jeito que você é ...

26/2016 - Já li muita coisa do Manning, achei justo conhecer sua auto-biografia. A apresentação foi feita por outro autor que também gosto muito,  Philip YanceySensacional a sinceridade de Manning: "este livro foi escrito por alguém que imaginava estar muito longe agora, mas não está; foi escrito por um preso que prometeu à comissão da condicional que se comportaria, mas não se comportou; foi escrito por um míope que mostrou o caminho a outros, mas vivia se perdendo..." "Contudo, este livro também foi escrito para os mansos que passaram a vida em meio a lobos; este livro é para mim mesmo, e também para os que já passaram por tanta coisa por aí, e a tal ponto, que agora já podemos espalhar sem receio a notícia que nós, maltrapilhos, temos que dar: tudo é graça". Em resumo, ele foi para si mesmo, um filho indesejado, alcoólatra e evangelista itinerante. De forma resumida, ele conta os problemas que teve com sua mãe, na verdade, a ausência do amor materno. Não que ele não enxergasse ela vítima da própria estória, mas suas palavras o desmotivaram por muitos anos. Foi tão dolorida a relação dos dois, que ele se embebedou no dia do enterro dela. Manning também relatou nessa obra, como passou das Forças Armadas para à vida religiosa. Conta diversas experiências. Claro, seu contato com o álcool aos dezesseis anos e o alcoolismo que enfrentou durante toda a sua vida adulta. Contou como conheceu sua ex-esposa, Roslyn, os anos de casamento e os motivos para a separação. Contou seus últimos dias (câncer) sendo amparado pelos outros para poder sobreviver. No final, relatos de pessoas que fizeram questão de registrar o quanto ele é amado. Apaixonante! Deus e o seu amor pelos maltrapilhos. Indico!



Dançando sobre cacos de vidro

(Resumo tirado do site Skoob): Lucy Houston e Mickey Chandler não deveriam se apaixonar. Os dois sofrem de doenças genéticas: Lucy tem um histórico familiar de câncer de mama muito agressivo e Mickey, um grave transtorno bipolar. No entanto, quando seus caminhos se cruzam, é impossível negar a atração entre eles.
Contrariando toda a lógica que indicava que sua história não teria futuro, eles se casam e firmam – por escrito – um compromisso para fazer o relacionamento dar certo. Mickey promete tomar os remédios. Lucy promete não culpá-lo pelas coisas que ele não pode controlar. Mickey será sempre honesto. Lucy será paciente.
Como em qualquer relação, eles têm dias bons e dias ruins – alguns terríveis. Depois que Lucy quase perde uma batalha contra o câncer, eles criam mais uma regra: nunca terão filhos, para não passar adiante sua herança genética.
Porém, em seu 11° aniversário de casamento, durante uma consulta de rotina, Lucy é surpreendida com uma notícia extraordinária, quase um milagre, que vai mudar tudo o que ela e Mickey haviam planejado. De uma hora para outra todas as regras são jogadas pela janela e eles terão que redescobrir o verdadeiro significado do amor.Dançando sobre cacos de vidro é a história de um amor inspirador que supera todos os obstáculos para se tornar possível.

Cativante! Sem muito a declarar, pois não tem como não dar spoiler. Muito propício aos interessados em conhecer um pouco o universo do transtorno de humor bipolar. A autora é enfermeira e tem especialização em psiquiatria, o que justifica o domínio ao abordar os temas câncer e transtorno bipolar. Somente a literatura consegue romantizar ou florear a dor da realidade. Torná-la suportável. Indico! Garantia de lágrimas.


A hora da estrela - Clarice Lispector



Clarice Lispector cria um falso autor para narrar seu livro (Rodrigo S.M.), mas não consegue se esconder. "Pensar é um ato. Sentir é um fato". Quem perde esse começo, esse sentido, não entende muito o objetivo da autora: o livro é sobre uma moça nordestina com olhar perdido no Rio de Janeiro. "Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. Poucas se queixam e ao que eu saiba nenhuma reclama por não saber a quem. Esse quem será que existe?" "Mas quando escrevo não minto. A classe mais alta me tem como um monstro esquisito, a média com desconfiança de que eu possa desequilibrá-la, a classe baixa nunca vem a mim". O segredo de todo o livo está "escondido" nesses momento, de porta-voz e protagonista ao mesmo tempo. Sem contar que parece a visão da classe média sobre o povo nordestino. Sim, pois Macabéa é uma datilógrafa alagoana que parte para o Rio de Janeiro e lá vive uma vida sem luz e sem sombra. Sua rotina pálida vai cruzar com Olímpico de Jesus, nordestino ambicioso e diferente dela, e Glória, carioca da gema. A hora da estrela, sem dar spoiler, é o momento que morremos e deixamos de ser invisíveis. Leitura rápida. Indico livro e filme. 


O livro negro do Cristianismo

O livro negro do Cristianismo indaga em sua introdução, algo que todos nós queremos saber: como uma religião que pregava o amor, pôde ter se tornado justificativa para atrocidades em nome da mesma? Bom, como resposta, a priori, o Império Romano explica uma parcela, uma cultura mesclada em nome do Estado ao Cristianismo primitivo, que nem aceitou bem essa mesclagem na época. Mas, de fato, toda religião que se tornou oficial, tem como característica a violência para manutenção do poder. 

Alguns tópicos importantes:
Na primeira parte: quando o cristianismo se tornou religião de Estado, e as acusações de heresias e as disputas teológicas que se tornaram pretextos para jogos de poder. Quando pouco mais de cem anos após a morte de Jesus, já existiam movimentos que lamentavam a corrupção e a decadência da Igreja. Como Constantino transformou os bispos em funcionários do Império e lhes isentou do pagamento de impostos. Esses há muito tinham deixado de ser simples porta-vozes das comunidades cristãs eleitos pelas igrejas, tornando-se verdadeiros senhores que administravam a seu bel-prazer os bens da Igreja.A Igreja cristã do Oriente; Império Bizantino; conflitos entre doutrinas do Ocidente e do Oriente; Iconoclastia. Tudo resolvido na base da espada.

Carlos Magno (as conquistas e os crimes): Assim como Constantino, antes dele, Carlos também entendeu perfeitamente a formidável função agregadora e de instrumento de domínio espiritual que o cristianismo tinha em uma Europa ainda desunida e com as fronteiras ainda ameaçadas. Por essa razão, adotara uma política decisiva de cristianização dos povos a ele submetidos.

Na segunda parte: Idade Média, literalmente, das TREVAS! Quanto sangue em nome de "deus", com aquele anexo do motivo chamado política. Teria dito um fulano: "Papa, como saberemos distinguir os "hereges" dos cristãos?" "Mate a todos, que Deus reconheça os seus". Era desse modelo.

Na terceira parte: Os cristãos eram proibidos de ler a Bíblia (em alguns períodos, traduzir a Bíblia para uma língua compreensível pelo povo era crime que podia custar a vida. Ter o Evangelho em casa era proibido a quem não fosse sacerdote. Motivo: os hereges e aqueles que contestavam o poder da Igreja utilizavam as Sagradas Escrituras para demonstrar para o povo como a Igreja oficial havia se distanciado do mandamento originário de humildade). Os que fossem pegos estudando, traduzindo ou pregando a Bíblia eram acusados de hereges e mandados para a fogueira. A invenção da prensa e as novas proibições.

A Inquisição: já existia no século XI e XII as penas de morte para os hereges, mas a maioria do corpo eclesiástico ainda relutava em aceitar a situação. Em suma, na Igreja, observava-se várias tendências sobre como lidar com os "hereges". Clemente III que deu um passo muito importante para o nascimento da futura Inquisição, ele daria ordens para os bispos de investigar hereges mesmo com base em meras suspeitas. Em 1229, um concílio reunido em Toulose, criou oficialmente o Tribunal da Santa Inquisição. Papa Gregório IX tirou dos bispos o controle dos processos e os confiou a comissários escolhidos entre os dominicanos e franciscanos. Papa Inocêncio IV que deliberou o recurso à tortura, que deveria ser realizada por autoridade secular, mas depois, por questões práticas, por inquisidores. A aliança entre o trono e o altar. A inquisição medieval chegou ao seu ápice no século XIV para chegar a um lenta decadência nos 150 anos sucessivos. Só depois da difusão da Reforma em toda Europa, a Cúria romana relançou a inquisição, com a intenção de impedir a difusão das ideias protestantes em territórios sob controle da Sé. (A Inquisição espanhola, a Inquisição romana).

A caça às bruxas: (1480-1520 relativa pausa e retorno em 1580-1670). XI-XIII a atenção era dada mais às heresias (cátaros e valdenses). O mundo do ocultismo era até então ignorado. Com o nascimento da inquisição, o demônio se torna um ser físico com exército e a guerra acontece na terra. Ser bruxa é ser herege. Com o martelo das feiticeiras, negar a existência é heresia. Homens nobres foram para à fogueira, mas a grande maioria era mulheres pobres, parteiras e curandeiras. Casos isolados de pessoas contrárias às execuções e exageros (e que exageros!) durante a caça às bruxas.

A Guerra dos Trinta Anos. A Reforma Protestante havia dividido a Europa em duas; A divisão percorria o próprio Sacro Império Romano: a maior parte dos Estados alemães setentrionais tornou-se luterana ou calvinista, enquanto os meridionais continuariam com Roma. Nesses anos de guerra, nem os soberanos protestantes nem a fé católica na França não hesitariam em se aliar até mesmo com o "infiel" por definição: o Império Turco Otomano; As divergências religiosas dariam vida a um conflito assustador com milhões de mortos, comparável às duas Guerras Mundiais; Cabe sublinhar o fato de que praticamente não houve país europeu que não tenha sido atingido pela guerra durante uma fase ou outra do conflito, direta ou indiretamente. Além de que o elemento do fanatismo religioso desempenhou um papel fundamental na longa duração e na dureza do conflito; Provavelmente uma guerra normal para redefinir fronteiras e áreas de influência teria terminado antes de levar à repetida aniquilação de exércitos inteiros, ao pesado endividamento de príncipes e reis, à total e deliberada destruição de países invadidos, quando, pelo contrário, um conquistador teria todo o interesse de que seus novos domínios fossem ricos e prósperos.

Sobre a Idade Contemporânea e a Igreja: a Igreja e o regime nazista; Pinochet, a Igreja e as ditaduras (com a aversão ao marxismo e às doutrinas marxistas, consideraram regimes extremistas como mal menor. As ditaduras foram consideradas um "fenômeno transitório); a oposição à Teologia da Libertação; as finanças do Vaticano; os escândalos da pedofilia; Opus Dei. Apêndices extras.

Indico. Com ressalvas, pois tem que ter estômago. Sem ser anacrônica, pois isso acaba nos isentando dos males praticados, dá muita vergonha de sustentar a "religião" como bandeira.