terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Reflexão sobre o "deus cupido"

- Pastor, o sr. acredita que Deus tem um príncipe pra nós?

- Mana querida, não acredito não.


- E por que pastor?


- Por entender que Deus me deu a capacidade de fazer escolhas...


- Mas se ele escolher é melhor!


- Sim, amiga, mas Deus anda meio ruim de pontaria...


- Como assim?


- Nunca vi tanta separação dentro da igreja como nestes dias.


- O que isso tem a ver com pontaria?


- Deus virou cupido de crente, com arco e flecha, atirando para juntar pessoas.


- Pastor, o sr. acredita nisto?


- Não mana, quem acredita é você!


- Eu me casei duas vezes, mas não deu certo.


- Agora espera o príncipe?


- Sim.


- Me desculpe, mais quantos anos você tem?


- 46 pastor.


- E está solteira esperando o príncipe há quanto tempo?


- 6 anos.


- Mana, não serviria um plebeu não? Príncipe é coisa meio difícil de achar...


- Pastor! rsrsrs. Minha benção está a caminho!


- Sei... Qual a sua profissão?


- Sou advogada.


- Foi Deus que escolheu?


- Não pastor, fui eu.


- E porque você não deixou que ele escolhesse?


- Por que na bíblia não tem isso.


- E onde tem na bíblia que Deus escolherá seu marido?


- Não sei pastor... Mas já vi várias pessoas pregando isto.


- Mana, o que mais tem em nossos dias é gente maluca com uma bíblia na mão!


- O sr. acha pastor?


- Amiga, tem gente pregando coisa que até o diabo duvida...


- Sei não pastor...


- Qual o seu tipo de homem?


- Gosto de homem moreno, sarado, tipo tanquinho, e alto. rsrsrs


- Sei... E se Deus escolher para você um loiro, branquelo, barrigudo, tipo lombada, e baixinho?


- Pastor, aí é maldição, não é benção!


- Sei... Você, então, está questionando a vontade de Deus?


- Não pastor! Mas não quero isso não!


- Sei... o príncipe só serve se for do seu jeito?


- É pastor... Por isso estou perseverando...


- Então você não acha que seria mais fácil você mesma escolher?


- Faz sentido pastor... Mas eu não sei escolher, já detonei 2 casamentos!


- E porque você não sabe escolher jogou o abacaxi para Deus?!


- Pastor, estou ficando confusa...


- Imagina eu mana, que ouço isso quase todo dia...


Carlos F.S. Moreira

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Diário Literário 2013

Bom, 2013 não rendeu tanto. Tive um esgotamento mental e a ordem médica foi: pare de ler! Ai ... ai... O excesso de estudo para fins licitatórios era a causa... em 2012 foram 61 livros 



mas, sem problemas. Interessante que o que me fez melhorar foi o retorno à leitura (segunda vez que a leitura traz benefícios ao meu organismo). Temos muito que aprender com os médicos, e acredito que a Medicina tem muito mais a aprender com seus pacientes. Leitura, como sempre, um ótimo remédio. 


01-  MEDEIROS, Marta. Divã. ADOREI! INDICO! INDICO! INDICO!


02-  ORWELL, George. 1984. SP: Editora Nacional, 1973. 7ª ed. 

Conheci George Orwell em "A Revolução dos Bichos" e já conhecia essa sua maneira "engajada" de atacar todo e qualquer sistema totalitário. Na verdade, esse é o seu pseudônimo, seu nome verdadeiro é Eric Arthur Blair, nome que poucos conheciam. Nascido na Índia Inglesa, em uma família de baixa alta classe média, decidiu tornar-se escritor após largar o emprego de policial, pois "odiava o imperialismo ao qual estava servindo". Viveu na pobreza e demorou para ganhar dinheiro com seus escritos. Morreu em 1950 na miséria, lamentavelmente.
A princípio, 1984 é cansativo. A maioria das pessoas sabem que a partir dele surgiu o programa "Big Brother". O título deveria ser 1948, mas como iria ficar muito na cara para os regimes totalitários da época, o título foi mudado para 1984. O local onde acontece o enredo, a "Oceania", foi uma congregação de países de todos os oceanos. Além da crítica aos sistemas políticos totalitários, percebe-se que o autor também manda o recado em relação toda e qualquer transformação da realidade, para isso existem no romance órgãos com essa função, como por exemplo o Ministério da Verdade, onde o protagonista Winston Smith trabalha. (Comparação perfeita à mídia em geral).
Smith é o cidadão-comum e participa de uma sociedade nivelada, onde o indivíduo é reduzido e serve ao governo e ao mercado através do controle total. Winston se incomodava com algo que não sabia descrever e sua vida tem uma mudada total após o contato com Júlia. Até a vida sexual do cidadão era controlada pelo Partido. Após descobertos e levados à tortura, são domesticados e passam a aceitar de forma espontânea todo o sistema que antes eram contrários. O autor, assim como Milan Kundera (Thomaz em A insustentável leveza do ser), descreve o rebaixamento profissional de Smith, trajetória de milhares de pessoas contrárias aos regimes totalitários. E no final, Smith está adaptado ao sistema, e é fiel de fato ao Grande Irmão (Big Brother).

03-  YANCEY, Philip. Para que serve Deus: em busca da verdadeira fé. SP: Mundo Cristão, 2010.



Já conhecia algumas obras de Philip Yancey, mas a leitura de "Para que serve Deus: em busca da verdadeira fé, foi apaixonante. Talvez porque o autor descreve antes do relato de suas palestras, suas pesquisas sobre o lugar, cultura e história do local que foi convidado, nos aproximando do tema e público escolhido. O desafio principal do livro é falar de Deus mediante a dor e a perca. O livro está dividido em capítulos, que podem ser chamadas de ocasiões tensas em que o autor levou o tema "graça divina".
O primeiro capítulo lida com o atentando em Virginia Tech em abril de 2007.No segundo capítulo, em uma visita à China comunista, uma frase que não é dele mas vale a pena registrar: "Quem lê a História descobre que os cristão que mais fizeram pelo mundo presente foram precisamente aqueles que mais pensaram no mundo futuro (...) Mire o céu, e você vai ver a terra como lucro. Mire a terra, e você não vai ter nem uma coisa e nem outra" C.S. Lewis"
No capítulo "No fundo do poço, a gente grita por socorro",Yancey transcreve sua palestra em Green Lake em 2004, sobre a evangelização de mulheres prostitutas, com a participação de representantes de 45 organizações e trinta países. Lindo capítulo. Profundo.
Yancey nunca escondeu sua opinião sobre sua criação em um contexto legalista/religioso/sulista e sua vivência na Faculdade Bíblica no sul dos Estados Unidos. Em abril de 2007, o mesmo foi convidado pela terceira vez para palestrar nessa faculdade e o tema escolhido foi "Ah, se eu então soubesse..." "Eu gostaria de ter sabido como apreciar dois mundos ao mesmo tempo" - nessa parte o autor fala sobre as regras obrigatórias que ensinavam a se portar dentro da faculdade e não fora dela. Enquanto o mundo debatia a Guerra do Vietnã os alunos nessa faculdade debatiam o hipercalvinismo; "Eu gostaria de ter sabido como cultivar a vida interior", na sua opinião, as regras podem apresentar a tentação de confiar no comportamento exterior em vez de cultivar a vida interior,e por último: "Eu gostaria de ter conhecido a graça aqui na faculdade".
Em Cambridge, agosto de 2008, Yancey descreveu sua palestra que tinha como tema a vida de C.S. Lewis. Sua adorável apreciação pelo prazer que era para o mesmo como o gotejar da graça que unificava os dois mundo, o visível e o invisível. Lewis não via nenhuma necessidade de afastar-se do mundo e fugir do prazer e conseguiu enfocar o cristianismo puro e simples, chegando a ser descrito pelo fundamentalista Bob Jones Jr como cristão. ("Esse homem fuma cachimbo, esse homem consome álcool, mas eu de fato acredito que ele é um cristão! Bob Jones Jr.). Um desafio para os eremitas-cristãos da pós modernidade, ao meu ver.
No capítulo "O grupo improvável" Yancey transcreve sua terceira palestra na igreja carismática na África do Sul que começou em 1979 com treze membros e cresceu somando agora 35 mil. O autor chegou a visitar o Museu do Apartheid, onde cada visitante recebia uma classificação racial, sentindo assim como era o dia a dia das pessoas que viveram o processo desumano do Apartheid. Nesse capítulo há muita informação sobre o processo da troca de governo que pôs um fim abrupto ao Apartheid e empossou africanos negros. O novo regime não cedeu à política da vingança, porém a alegria da mudança histórica fora trocada pelos desafios de corrupção, AIDS, drogas e problemas que acompanham o crescimento de vários grupos humanitários e religiosos.
No capítulo "A partir das cinzas" Yancey palestrou em Memphis em novembro de 2008 e o assunto para "Sobre esta Rocha" foi o momento de escolha presidencial nos EUA, onde Barack Obama venceu (1° mandato). Yancey aborda sobre a importância de construir a casa sobre a Rocha, e levanta (utilizando-se de outros autores) muitos questionamentos sobre política e Evangelho. Achei muito interessante o relato sobre a Revolução Laranja na Ucrânia em 2004, onde a corrupção eleitoral em um resultado foi divulgado por uma deficiente auditiva que na língua de sinais não seguiu o texto e denunciou o fato. Levando o país à Revolução citada.
No Oriente Médio em 2009, Yancey realizou um ciclo de palestras, enfrentando um choque de civilizações e levando o tema graça para uma minoria sitiada de cristãos. Já em Chicago em agosto de 2003, o tema "Por que eu gostaria de ser alcoolico?" tem como pano de fundo a fundação e importância dos grupos espalhados pelo mundo sob a sigla A.A.
O último capítulo trata sobre a palestra em Mumbai em novembro de 2008, no mesmo período em que terroristas do Paquistão desembarcaram no centro de Mumbai e atacaram dez pontos diferentes. Yancey levou o tema graça em um local diferente do planejado e finaliza com a frase de Gandhi "Olho por olho, dente por dente, e logo o mundo inteiro será de cegos e desdentados". No Posfácio ele faz uma análise sobre as situações desagradáveis que esteve envolvido e sobre a o desafio de falar sobre a graça divina em meio à dor. INDICO!"


04-  LUCADO, Max. Aliviando a bagagem. RJ: Casa Publicadora da Assembleia de Deus, 2002.



Não lembro de ter lido nada escrito por Max Lucado, apesar dele ser bem conhecido. O livro Aliviando a Bagagem é um traçado literário que de uma forma muito simples - a linguagem do autor é simples e objetiva -, te faz refletir sobre as cargas que nunca deveríamos carregar. Porém, carregamos. A partir da análise do Salmo 23, Max descreve essas cargas, esses fardos para os quais não fomos feitos. A exaustão de forma geral se deve ao excesso de bagagem emocional que o ser humano carrega durante muito tempo, anos, décadas ...O livro não é uma autoajuda básica.
O interessante do livro é a descrição do pastor e do que ele faz pela ovelha. O autor também descreve vários comportamentos da ovelha, que não eram conhecidos por mim e me fez analisar o Salmo 23 de uma forma diferente a partir da leitura. Os capítulos são divididos em "fardos" e "partes do Salmo 23":
Descansar:
- da carga de um deus pequeno - Porque achei o Senhor.
- de fazer as coisas do meu modo - Porque o Senhor é o meu Pastor.
- das necessidades infidáveis - Porque nada me faltará.
- das fadigas - Porque Ele ne faz descansar.
- da preocupação - Porque Ele me conduz.
- do desespero - Porque Ele refrigera a minha alma.
- da culpa - Porque Ele me guia pela vereda da justiça.
- da arrogância - Por amor do seu nome.
- do vale da morte - Porque Ele me leva através dele.
- da sombra do aflição - Porque Ele me guia.
- do medo - Porque a sua presença me conforta.
- da solidão - Porque Ele está comigo.
- da vergonha - Porque Ele preparou para mim uma mesa na presença dos meus inimigos.
- dos meus desapontamentos - Porque Ele me unge.
- da inveja - Porque meu cálice transborda.
- da dúvida - Porque Ele me segue.
- da saudade - Porque habitarei na casa do meu Senhor para sempre.
INDICO!
 

05-  SEPETYS, Ruta. A vida em tons de cinza. SP: Arqueiro, 2011.



Como é de conhecimento histórico, em 1939, a União Soviética ocupou os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia). O pai da autora, Ruta Sepetys é filho de um oficial militar lituano e fugiu com a família para campos de refugiados na Alemanha. Alguns de seus parentes foram deportados e presos. O livro "A vida em tons de cinza" vai narrar os horrores que enfrentaram os povos dos países bálticos que tiveram seus países devastados. Para tal, fez duas viagens à Lituânia para realizar pesquisas para o livro. 

Um pouco romanceado, ele traz acontecimentos e situações descritos por sobreviventes deportados espalhados pela Sibéria. Os personagens são fictícios, porém o Dr. Samodurov que aparece no final do livro, é real. Esses sobreviventes passaram muitos anos nas prisões da Sibéria e quando voltaram foram tratados como criminosos. Estima-se que Stalin tenha matado mais de 20 milhões de pessoas durante o seu reinado de terror. Os protagonistas, Lina e Jonas, perderam seus pais e no final do livro, há a inclusão dos EUA no enredo, pois aborda a 2ª Guerra Mundial. INDICO para uso em sala de aula (9° ano). 
 

06-  SALLMANN, Jean Michel. As bruxas noivas de Satã. RJ: Objetiva, 2002.



O livro começa com um texto de Jules Michelet que finda da seguinte forma: "De uma espécie diferente, sai Satã do seio ardente da Bruxa, vivo, armado e pronto para atacar, Por mais medo que sintamos, temos de confessar que, sem ele, morreríamos de tédio". Para o autor/historiador, as crenças em bruxaria, foram à sua maneira, resposta às angústias religiosas da época. A crença que alguém poderia prejudicar outro (principalmente judeus), foi uma maneira de explicar os infortúnios que afligiam com tanta frequência populações fragéis. Há no livro muitas figuras (obras de arte) da época para figurar os mitos demoníacos surgidos no contexto religioso dos séculos XV-XVI.
A bruxaria é uma invenção do século XV, à qual o procedimento inquisitorial confere uma estruturação orgânica. Uma das características do período, foi a promoção da imagem de Satã, poderoso e onipresente, ao qual eram imputados todos os infortúnios da época. (Qualquer semelhança com a religião contemporânea ocidental, não é mera coincidência).
Utilizando do livro que foi manual básico de caça às bruxas,(Martelo das Bruxas Henry Institoris e Jacques Sprenger), os tribunais laicos perseguiram, investigaram, interrogaram, torturaram e condenaram todos os suspeitos de bruxaria. Principalmente mulheres anciãs das comunidades camponesas que conheciam muito bem o segredo das plantas. Claro, que a crença em bruxaria cresceu em grande parte devido às insuficiências da medicina e do uso da imprensa.
A partir do século XVI começou um tímido protesto contra a demonologia. Vários médicos tiveram à frente do combate à repressão. A opinião pública, principalmente a francesa, a dos magistrados e elites sociais, evoluiu progressivamente no séc XVII. Foi sob sua pressão que a grande caça aos bruxos teve fim. Na sociedade do Antigo Regime, a possessão diabólica era a expressão culturalmente codificada do que os psiquiatras do fim do século XIX descreveram como histeria.
Os relatos que levavam à fogueira eram inelutáveis e absurdos. De forma geral, sempre era uma mulher de "má reputação" ou conhecedora do poderio das ervas medicinais que cedo ou tarde falava algo que a condenava. O seu pânico considerado de psicose, envolvia todo o vilarejo e a máquina judiciária. Assim eram as histórias banais, comuns até o final do século XVII, que como tantas outras, acabou em chamas.
Em meados do final do século VXII que vozes clamaram pela razão e pouco a pouco, as últimas fogueiras foram extintas. O autor analisa como historiador, de forma objetiva, o modo de representação que foi a bruxaria, dos primeiros processos às figuras que povoaram o imaginário romântico. INDICO para os interessados no assunto.
 

07-  MARTIN, George R.R. O festim dos corvos. As crônicas de gelo e fogo: Livro IV. SP: Leya, 2012. 

O autor dividiu a continuação do livro três em duas partes. Essa, no caso, se concentrou mais em Porto Real, logo alguns personagens não aparecem. Muitas emoções para os que dão ao ar da graça, fatos que me deixaram boquiaberta! Cersei, Arya e Brienne. O autor é dotado de uma criatividade singular e consegue descrever com detalhes, cenas, pessoas, vestes, momentos e tirar do leitor, personagens queridos.

08-  CHOPRA, Deepak. Por que Deus está rindo? O caminho da alegria e do otimismo espiritual. RJ: Rocco, 2010.

Confesso que fugia um pouco desse autor por não curtir muito auto- ajuda, e o mesmo é muito conhecido nessa área por seus vários escritos. Autor de mais de 55 livros nessa área, também é considerado como o "poeta e profeta da medicina alternativa".
O personagem principal é Mickey Fellows, um comediante, divorciado que acabara de perder o pai, Larry. Após uma experiência de contato com o além, ou seja, com seu próprio pai, Mickey recebe a visita do misterioso Francisco. O livro vai girar em torno dos diálogos entre os dois. Temas como medo e ego são abordados, tendo como resultado o riso que não depende da aprovação. O autor procura demonstrar que o sorriso e o bom humor continuam sendo as melhores opções para os dias atuais.
Leitura simples, objetiva e possível de não ser banal ou entediante como alguns livros de auto-ajuda. INDICO. 

09-  LINS, Regina Navarro. O livro do amor: da Pré-História à Renascença. Volume 01. RJ: Bestseller, 2012.

Após cinco anos de pesquisa a autora reuniu informações de mais de duzentas obras sobre o tema do amor que pode existir entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens ou entre duas mulheres. Expondo casos amorosos de diversas épocas a autora dividiu seu trabalho em duas partes, o volume I que vai da Pré-História ao Renascimento e o volume II que vai do Iluminismo até o século XX. Difente da História que se baseia apenas em fatos e datas, a autora se utiliza da História das Mentalidades, que se refere a sentimentos e comportamentos coletivos de determinado período ou lugar.
Fiquei meio sem entender a intenção da autora no término do capítulo sobre a Pré-História. Tudo bem, amor nem pensar no período citado, mas as questões levantadas ao masculino e feminino não linkaram muito. Muito interessante: "Na realidade, a diferença entre sexos é anatômica e fisiológica, o resto é produto de cada cultura ou grupo social. Tanto o homem como a mulher podem ser fortes e fracos, corajosos e medrosos, agressivos e dóceis, passivos e ativos, dependendo do momento e das características que predominam em cada um, independente do sexo. Insistir em manter os conceitos de feminino e masculino é prejudicial a ambos os sexos por limitar as pessoas, aprisionando-as a estereótipos".
Sobre a Grécia, a descrição de mitos (4500 a.C a 146 a.C)na tentativa de descrever o possível sentimento que existia na época entre homens e mulheres. Divisão entre período homérico e Grécia Clássica (incluindo o mito do andrógino; casamento; dote; hetairas e efebos).
Sobre amor/sexo em Roma (146 a.C ao século III) a autora descreveu sobre a civilização romana, Augusto e seu amor por Lívia, sua filha e neta rebeldes que transgrediram leis criadas por ele, as mulheres romanas, Cleópatra (Júlio César e Marco Antônio), como que era o casamento, a procura de um marido, a cerimônia de núpcias, o divórcio ... e muito mais. O link com a modernidade foi o melhor até agora na minha opinião.

No capítulo Antiguidade Tardia (Século III ao V) a autora descreve o período de intervalo entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média, período em que o Deus dos cristãos se torna Deus único do Império Romano. Se na Grécia e em Roma o prazer era valorizado, com o cristianismo surge a condenação geral da sexualidade e uma rigorosa regulamentação de seu exercício. O capítulo também aborda sobre a transição do prazer desmedido para a recusa total em nome da fé cristã. Nesse processo transitório entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média a desvalorização do corpo, a castidade fundamentada nos textos paulinos, a culpa cristã e a flagelação foram uns dos comportamentos que acompanharam a expansão de uma Igreja coesiva em um mundo instável. Muito do que o mundo atual ainda considera "pecado" não tem origem nos ensinamentos de Jesus Cristo ou nas Tábuas entregues no Sinais, mas nas antigas vicissitudes sexuais de homens que viveram nesse período citado da Roma Imperial, como São Jerônimo e Santo Agostinho.

Capítulo muito extenso sobre a Idade Média (V-XV). O amor, somente a Deus, a ausência total de indivualidade, o corpo totalmente desprezado, as doenças do período explicadas como resultados de pecados dos pais ou de práticas sexuais, a flagelação e o celibato como domínio para conter os impulsos sexuais e o amor cortês que surge no Renascimento do século XII, contrariando os ensinamentos católicos de amor apenas a Deus e não de forma recíproca. O refúgio no adultério demonstrada na literatura cortês. Confesso que esse capítulo é um pouco cansativo. Link com a violência à mulher, não sua origem, mas a permanência de comportamentos de posse masculina e submissão feminina que ultrapassaram séculos.

Século XVI e suas modificações na Europa. Mudanças comportamentais da burguesia, que de fato passa a copiar o comportamento da nobreza. Poucas modificações de mentalidade da Idade Média para o Renascimento. A autora aborda temas que para muitos aconteceram apenas no período medievo, como por exemplo, a caça às bruxas. Para os inquisidores a feitiçaria era mais comum entre eas mulheres do que entre os homens. Para poder anular o poderio do "diabo", homens "santos" e "temerosos" em nome da santa fé, queimavam mulheres, decepavam seus seios e depois colocavam seu mamilo ensanguentado entre os lábios delas. Porém, o que não se conta é que toda forma de repressão e normatização, deixou a maioria das pessoas com medo de serem julgados e torturados, conduzidos assim ao trabalho compulsivo e sem gratificação nesta vida. O que auxiliou, e muito, a concentração do poder na mão de poucos. A autora faz referências à Reforma, Contrarreforma e sobre o puritanismo, tão presente em nossos dias. Com seus mesmos erros, mesmas doutrinas e mesmas ideologias. Quem não está dentro do padrão, reprimido em nome da moral e dos bons costumes, será. INDICO.

10-  MÁRQUEZ, Gabriel García. Memória de mis putas tristes. Barcelona: Debolsillo, 2012. 5ª ed.

11-  ROSNER, Stanley. HERMES, Patrícia. O ciclo da autosabotagem. RJ: Bestseller, 2009. 6ª ed. 



A intenção dos autores é o aprofundamento nas causas da auto-sabotagem e nas diferentes maneiras pelas quais ela se manifesta. Os autores acreditam que a melhor maneira de superaração é vencer antigos traumas e buscar novos caminhos, pois os medicamentos podem aliviar sintomas, mas não fazem nada para lidar com a compulsão à repetição.
No capítulo sobre os comportamentos repetitivos em relacionamentos, o autor ressalta sobre o contrato não assinado, ou seja, o desejo que o outro saciem carências, ausências ou excessos sofridos na infância.
Muito interessante a teoria da transferência, que segundo Freud tem o propósito de mostrar ao paciente que o sentimentos por ele vivido no presente origina-se no passado, e é para o passado que deve ser reconduzido.
Também é comum a presença de comportamentos repetitivos no ambiente profissional, dificultando o relacionamento com colegas e principalmente com autoridade. Na maioridas dos casos é o poder da criança ferida que não permite ao adulto o amadurecimento pleno.
Pessoas com comportamentos de auto-sabotagem tendem a se punir e possuem compulsão ao comportamento repetitivo. Um andar em círculos ou a permanência que trava o indivíduo dotado de potencial para grandes conquistas. 
Os autores finalizam com dicas, sendo a principal a terapia, pois nela, não há pecadores. Indico.

 

12-  BRABO, Paulo. A bacia das almas: confissões de um ex-dependente de igreja. SP: Mundo Cristão, 2009.

13-  MEDEIROS, Martha. Noite em claro. (Coleção 64 páginas). Porto Alegre: L&PM, 2013.

14-  BEATTIE, Melody. Co-dependência nunca mais: pare de controlar os outros e cuide de você mesmo. RJ: Viva Livros, 2013.

15-  MANNING, Brennan. O Evangelho Maltrapilho. SP: Mundo Cristão, 2005. 2ª ed. 

Essa é a segunda vez que leio esse livro, pois trata-se do tipo de literatura que deve ser lida várias vezes no decorrer da trajetória chamada vida. Confesso que absorvi mais a leitura agora, ao contrário da primeira vez. Se você me perguntar qual livro escolheria para reler em 2013, eu afirmaria "O Evangelho Maltrapilho", o que não faria com "A Bacia das Almas" de Paulo Brabo ou os vários livros do autor Caio Fábio. 
Brennan, diferente de muitos autores ditos cristãos, foi acusado diversas vezes de herege, universalista, desequilibrado, espiritualmente imaturo e intelectualmente confuso. Para o mesmo, o motivo é simples, os legalistas e puritanos não querem que o cristianismo nos ajude a nos tornamos pessoas completas e sim amedrontar-nos sob o peso do controle de regras e regulamentos.
Publicado em 1990, o Evangelho Maltrapilho não foi escrito para os super espirituais, muito menos para acadêmicos, místicos, destemidos ou zelotes que confessam em alto e bom som que guardam todos os mandamento. O livro foi escrito para os vacilantes de joelhos fracos, para os discípulos instáveis, para os homens e mulheres fracos e pecaminosos com falhas hereditárias e talentos limitados. Para pessoas inteligentes que sabem que são estúpidas, e para discípulos honestos que admitem que são canalhas. 
A igreja há anos aceita a graça na teoria, mas nega-a na prática. A maioria dos cristãos vive na casa do temor, na ênfase do esforço pessoal, onde a espiritualidade começa no eu, não em Deus. O perfeito eu é baseado na disciplina pessoal e na autonegação, uma vez que o fervor passa, a fraqueza e a infidelidade aparecem. Somos todos mendigos, igualmente privilegiados, mas não merecedores, às portas da misericórdia de Deus.
Diante do deus imprevisível, errático e capaz de toda espécie de preconceito, há o cristão legalista compelido a qualquer mágica para aplacá-lo. Mas a confiança no Deus que ama de forma consistente, produz discípulos que possuem a consciência que nada fizeram para merecer o amor e nem a salvação. Afinal, o arrependimento não é o que fazemos para obter perdão, é o que fazemos porque fomos perdoados.
Esses discípulos, maltrapilhos, combinam um senso de incapacidade pessoal com uma confiança no amor de Deus. Os maltrapilhos não sentam-se para serem servidos, eles ajoelham-se para servir. Porém, embora possam ter coração mole, os maltrapilhos são cabeças-duras. Não vivem num mundo ilusório e fora da realidade, pontificado sobre a vida cristã vitoriosa. Eles formam a igreja mendicante, e não a igreja triunfante. 
Os maltrapilhos não são santos, tropeçam com frequência, mas não gastam horas sem fim em autorrecriminação. São justos, não por justiça própria, e sim, pelo sangue que os justificam. A estrada do maltrapilho conduz sempre ao calvário, pois reconhece que o seu eu é a sua cruz, e deve ser negado. 
Somos filhos que abandonam, que voltam por motivos errados, votamos maltrapilhos, mas estamos sempre voltando, pois temos a consciência de que apenas Ele tem palavras de vida eterna. Temos ciência do cansaço e fardo do esforço próprio, e temos Nele o alívio e o amor de sermos quem somos, maltrapilhos.


16-  MANNING, Brennan. Colcha de retalho: a história da minha história. SP: Mundo Cristão, 2011.

17-  MANNING, Brennan. O impostor que vive e mim. SP: Mundo Cristão, 2007. 2ª ed.

18-  STOVER, Matthew e VARDEMAN, Robert E. God of War. São Paulo: Leya, 2012.

19-  FIELDING, Helen. RJ: Best Bolso, 2012. 8ª ed.

20-  TOURNIER, Paul. Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do Evangelho. SP: ABU, 1985.

21-  GOTTLIEB, ANDREW. Beber, jogar, fuder: a jornada de um homem em busca de diversão na Irlanda, em Las Vegas e na Tailândia. SP: Planeta do Brasil, 2009.

22-  NARLOCH, Leandro. TEIXEIRA, Duda. Guia politicamente incorreto da América Latina. SP: Leya, 2011.

A tentativa excessiva de ironia já é percebível na abertura intitulada de "Como deixar de ser latino-americano". Esse excesso cômico não era tão acentuado no primeiro livro de Leandro Narloch e ao finalizar o livro, acredito que a parceria com Duda Teixeira, também jornalista, foi muito infeliz. Aos historiadores que abominam livros escritos por jornalistas, preparem-se para odiar ainda mais ou nem leiam. 
Na introdução, os autores explicam o surgimento do termo latino-americano e as principais semelhanças históricas: massacre de índios, escravidão negra, ditaduras - combatendo o criador do termo que usava como semelhança apenas o idioma. Após isso os autores citam em tópicos "a receita" para se preparar um bom latino-americano. Polêmico, ainda que engraçado. Para eles o livro tem como alvo o falso herói latino-americano e os capítulos estão divididos em: Che Guevara, incas maias e astecas, Simón Bolivar, Haiti, Perón e Evita, Pancho Villa, Salvador Allende.

O primeiro capítulo trata sobre Ernesto Che Guevara e sobre quatro contradições, segundo os autores, entre sua vida e a admiração que ela inspira. As fontes são extraídas das principais biografias e de instituições como órgãos de direitos humanos e associações de familiares de mortos e desaparecidos políticos. Também são citadas palavras de Guevara escritas em livros, manifestas e diárias. Inclusive, um dos discursos de Che sustentado pelos autores, não encontrei em minha pesquisa. 
Sobre incas, maias e astecas (capítulo 2) foi banal citar o escritor mexicano Octavio Paz: “Aqueles que definem a conquista como um genocídio dos povos americanos cometem um erro grave", historicamente falando, ridículo da parte dos autores. No mesmo capítulo "Os índios conquistadores” o erro foi o quesito conquistas, claro que houve e há aqueles que ficaram/ficam do lado dos saqueadores, mas generalizar se utilizando do nome de um historiador aqui e outro acolá, é absurdo. Sim, houve os extermínios de vizinhos inimigos, mas a forma que esses autores findam o capítulo espetando o "presidente indígena de um certo país andino" é um vômito. Suas fontes são péssimas, antes tivesse assistido o filme do Mel Gibson. 
O capítulo sobre o Haiti é o mais cansativo e dá-se a impressão de lacunas. Sobre Evita e Perón, narra a vida do militar que comandou o país entre 1946 e 1955 e também entre 1973 e 1974. O autor vai desde a independência da Argentina em 1816 e os principais acontecimentos até 1920 que tornaram o país avançado em quesito renda per capita e educação, até que chegou Perón, segundo os autores, o nosso Getúlio Vargas. A partir desse capítulo, o livro parece uma narração de futebol. 
Capítulo sobre Francisco Pancho Villa (Doroteo Arango), um dos protagonistas da revolução contra o ditador Porfírio Diaz (México). Muito interessante, o próprio Pancho interpretou (The Life of Pancho Villa) a si próprio em um filme norte-americano. O título já diz tudo: "O latifundiário mais famoso de Hollywood". Último capítulo sobre Salvador Allende com direito a citar o poeta Neruda e no epílogo, os restos mortais dos personagens narrados no livro. A intenção é nobre, não existe herói cem por cento, mas eu considero esse livro como uma aberração histórica, lixo literário e besteirol, tipo revista VEJA. Fico do lado de Fernando Morais na 7ª Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto): 
Foi então a vez dele contestar uma informação publicada por Morais sobre o episódio das larvas jogadas pela governo americano nas plantações de batatas em Cuba. “Use um pouco do dinheiro que você ganha com direitos autorais e vá até os Estados Unidos checar isso. Nós não vamos ficar aqui brigando pelas batatas cubanas”, finalizou Morais.

23-  GREENE, ROBERT e ELFFERS, Joost. As 48 leis do poder. RJ: Rocco, 2000.

Desejei ler “As 48 leis do poder” (Robert Greene/Joost Elffers) em 2008, não sendo possível, esperei pacientemente, acreditando que os motivos que não me permitiram lê-lo antes, seriam suficientes para aguardar. Esse livro pode ser considerado uma preparação para uma vida de dissimulações, aonde o indivíduo vai se tornar um personagem para adquirir o tal poder. Interessante que todos os exemplos citados são de séculos passados, logo qual seria esse poder? 
Vamos começar pelos autores: Robert Greene é escritor de livros sobre estratégias, sedução e poder. O livro possui muitos exemplos históricos, ainda que uma lição acabe contradizendo o mesmo exemplo que citou na lição anterior. Há muitas repetições de personagens históricos (Ivan, o Terrível; Talleyrand; Joseph Fouché; Napoleão e outros) que tornam algumas lições cansativas e muitas delas poderiam ser mescladas, surtindo o mesmo efeito. 
Continuando, o autor saca muito de História, pois antes de escrever o livro em 1998, foi desenvolver de história em Hollywood. Conselheiro de empresas norte-americanas, também é conselheiro do produtor de cinema Brian Grazer e do rapper 50 Cent. Sobre Joost Elffers, acredito que holandês, há pouca referência dele na virtualidade e aparece apenas como produtor do livro. Seria Greene o Nicolau Maquiavel contemporâneo, sendo que o primeiro no livro O Príncipe, ofereceu sugestões a Lorenzo II de Médici a partir de acontecimentos passados. Logo, não há nenhuma inovação da parte do autor estadunidense. 
A obra possue algumas lições a nível de autoajuda, outras sugestões são até óbvias demais tipo “evite o azarado” e o que me prendeu até o fim, foram os exemplos históricos citados na chave do poder, a lei transgredida e o inverso. Não que não existam pessoas capazes de aplicar as leis sugeridas, o mundo é uma selva, dos negócios então, perigoso. Mas, eu indico os resumos (por exemplo, http://www.baciadasalmas.com/2009/as-48-leis-do-poder/) e resenhas (apesar que aparentam conselhos inocentes e o teor integral do livro é bem “maquiavélico”) do que o livro propriamente dito. Que diga-se de passagem, é o mais lido na prisão norte-americana.

24-  Dignidade!: Nove escritores vivenciam situações limites e relatam o comovente trabalho da organização Médicos Sem Fronteira. SP: Leya, 2012.

A MSF (Médicos Sem Fronteiras) é uma organização internacional fundada em 1971, na França, por um grupo de jovens médicos e jornalistas. Motivada pela crença de que todas as pessoas, independente de etnia, religião e nacionalidade, têm o direito de receber assistência básica em momento de crise, a MSF trabalha em mais de 60 países com 03 mil funcionários internacionais. A ajuda financeira que financia os projetos da organização, 91% são de doadores privados e empresas, garantindo o máximo de independência de qualquer poder político ou econômico. Nove escritores vivenciam situações limites e relatam o comovente trabalho da organização.
O primeiro capítulo (Mario Vargas Llosa) é sobre a República Democrática do Congo, onde o problema número um são os estupros, que matam mais mulheres que a cólera, a febre amarela e a malária. Bandos, facções, grupos rebeldes, encontram mulheres do bando inimigo e a estupram, não tendo nada com prazer, e sim com o ódio. Relatos que perturbaram sobre a consciência de ser mulher. A MSF atua no local desde 1981. 
O texto de Eliane Brum contem relatos de famílias da região de Narciso Campero, na Bolívia, que foram vítimas da Vinchuca, também chamado barbeiro, chupão, bicho da parede, cascudo ou fincão. Na população rural, 70% da população tem Chagas, sobrenome do médico brasileiro que descobriu o protozoário que invade o inseto, que suga o sangue da vítima e defeca, e a mesma ao se coçar é infectada. Corporações farmacêuticas não tem interesse em investir na pesquisa de vacina e tratamento, pois se sabe que é uma patologia que mata em sua maioria os pobres. No caso da Bolívia, a população pobre e indígena, discriminada pela elite do país. 
Um dia desses citei com colegas o fato que sempre nas fichas médicas me perguntam se há casos de Chagas na família, ficamos em dúvidas quanto a isso. Pois sim, o parasita é transmitido na gravidez e os efeitos colaterais da medicação não permitem o tratamento durante a gestação. Os médicos sem Fronteira atuam na Bolívia desde 1986 e no capítulo há o relato de diagnósticos, monitoramentos, marca-passos (há muito preconceito quanto ao uso pelos próprios camponeses) e óbitos. Um pouco poético o capítulo, o que diminui a gravidade da situação, mas o relato final do médico, fecha com chave de ouro. 
Paolo Giordano narra no seu capítulo sobre Marije, uma jovem norueguesa, que vai para Bangladesh participar da equipe MSF e cuidar principalmente das crianças. Porém, não consegue segurar muito a onda... com razão. Transferida para a zona rural de Fulbaria, vai lidar com pacientes contaminados pelo calazar, ou leishmaniose visceral, uma patologia parasitária fatal transmitida pela picada de um mosquito. A jovem tem que lidar com a paixão em cuidar do próximo e sua vida pessoal, um tipo dilema e tanto. A MSF está em Bangladesh desde 1985.
No capítulo sobre Khayelitsha, Cidade do Cabo (Catherine Dunne) há relatos do estado título do capítulo, mas também há relatos de outros países africanos. A cidade tem uma das taxas mais elevadas de HIV e tuberculose na África e do mundo. A epidemia tem raiz no apartheid, nas migrações em massa em busca de trabalho Capítulo enorme e de uma realidade gritante. Muito dolorido os relatos registrados. Na África do Sul o número aproximado de soropositivos seria de cerca de 5,7 milhões, 17% da população mundial. Os Médicos Sem Fronteira atuam lá desde 1999 com um programa integrado para o tratamento da coinfecção do HIV e da tuberculose. A migração em massa desde a apartheid, a busca de emprego, a herança histórica maldita deixada por colonizadores, pobreza e o estupro coletivo, que vários jovens participam para poder iniciar a vida em gangues criminosas são algum dos fatores para a epidemia. A crença que uma menina virgem cura um adulto soropositivo é uma das aberrações que também contribui para o crescimento da contaminação. 
A Organização Médicos Sem Fronteiras atua na Grécia desde 2008 e tem oferecido apoio psicológico para os migrantes e requerentes de asilo nos centros de detenção de Fylakio, Venna e Pagani, na ilha de Lesbos. Alicia Giménez Bartlett, escritora de ficção foi convidada para relatar a ação médica e psicológica das pessoas presas nas fronteiras em busca de trabalho, pois a Grécia é a porta para a Europa. Interessante que a autora ficou chocada com os centros de detenções que visitou e sua filha lhe informa que em Barcelona (sua residência) também existem.
O capítulo de James A. Levine também relata sobre a República Democrática do Congo, mas ele narra a história de Paulit. Particularmente o texto de Esmahan Aykol, se utilizando de uma bolsa como narrativa, deixou muito a desejar. Acabou não dando a ênfase necessária para a situação de Maláui, atendida pela MSF desde 1996. O local tem escassez de pessoal médico, são dois para cada 100 mil habitantes.  
Na Índia a MSF atua desde 1999, com cuidados médicos e terapias contra tuberculose, malária, HIV/aids e calazar. Também dá assistência básica e especializada à população das regiões devastadas pela violência e por conflitos armados. Texto de Tishani Doshi. Em Burundi (Wilfried N´Sondé) a organização atua desde 1992 com acesso limitado e falta de pessoal. Esse cenário é particularmente nocivo às mulheres, pois um grande número morre no parto e milhares desenvolvem fístulas obstétricas. Para esse último caso, foi criado em 2010 o centro de Urumuri, para tratar mulheres que sofrem com essa fístula. No país a malária e a principal causa de doença e morte.

25-  ERWIN, Steve e ILIBAGIZA, Immaculée. Sobrevivi pra contar: o poder da fé me salvou de um massacre. RJ: Objetiva, 2008.



O livro “Sobrevivi para contar: o poder da fé me salvou de um massacre”, foi escrito por Steve Erwin e narra a história de Immaculée Ilibagiza. É o tipo de livro que não me atrai em uma livraria, mesmo estando em promoção. Foi um presente, um belo presente literário. Os relatos históricos do genocídio de 1994 em Ruanda não são o foco da narração, mas é uma ótima opção para quem deseja se informar mais sobre o assunto. 
A apresentação inicial é de Wayne Dyer e o prefácio é de Immaculée que informa que o livro se trata da sua vida pessoal e não do genocídio de 1994 em Ruanda, onde aprendeu que "ser poupada não é o mesmo que ser salva". Aos 22 anos, confinada num banheiro durante três meses com mais sete mulheres, seus maiores inimigos foram o medo e o desespero. 
Nascida e criada em Kibuye, província de Ruanda Ocidental, Immaculée Ilibagiza tinha que caminhar 12km para estudar, assim como as outras crianças. Fazia parte de uma família menos pobre e conhecida por suas obras beneficentes. Há vários relatos de cada membro da família antes da tragédia.
Immaculée só teve ciência das diferenças étnicas em Ruanda, quando seu professor fez a chamada por tribo. Ela nem sabia à qual pertencia. Os colonizadores alemães e depois os belgas fizeram a merda toda, criaram um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça dos indivíduos. A maioria hútu, uma minoria tútsi e um número insignificante de twas (pigmeus). Aos 15 anos não ganhou a bolsa de estudo por ser uma tútsi e após muito estudo, conseguiu entrar no Lycéé de Notre Dame d´Afrique, uma das melhores escolas de Ruanda, com sua maioria de hútus.
No feriado de Páscoa, Immaculée pela insistência do pai, vai passar com a família. Então, na manhã de 07 de abril de 1994 (ano de Copa, da morte do Ayrton Senna, do plano Real, do nascimento do meu filho), começou o genocídio. Ações extremistas contras os tútsis já estavam acontecendo, o estopim foi o assassinato do presidente Habyarimana, que prometera devolver a paz e igualdade entre hútus e tútsis.Vários relatos durante o livro sobre as atrocidades praticadas pelo grupo hutu.
“Compreendi que minha batalha para sobreviver seria travada em meu interior. Tudo que eu tinha de bom - fé, esperança, coragem - era vulnerável à energia do mal. Se perdesse a fé, eu não sobreviveria. Mas podia confiar em Deus como um aliado em minha luta." Esse era o pensamento de Immaculée escondida em um pequeno banheiro com mais seis tútsis na casa de um pastor hutu moderado. O genocídio era total e apoiado pelo governo. Sua família já havia sido toda assassinada, exceto seu irmão mais velho que estava em Senegal. 
Os belgas, antigos colonizadores foram os primeiros a remover suas tropas. A ONU retirou sua força de paz assim que começou o massacre, ficando apenas os canadenses com 200 soldados. Mais duas fugitivas foram escondidas no pequeno banheiro, Malaba e Solange. Immaculée decideu aprender inglês, pois tinha certeza que quando tudo acabasse, iria trabalhar para o ONU.
Os franceses decidem enviar ajuda e os hútus acreditam que vão apoiá-los, pois foram treinados por eles. O que eles não esperavam é que a Operação Turquesa, projeto francês de enviar tropas para Ruanda, era para criar refúgios seguros para os tútsis sobreviventes. Immaculée e as outras mulheres chegam à base da Operação Turquesa, e lá encontraram outros tutsis fugidos e feridos. O mais interessante dessa biografia é sua fé que mesmo vacilante acredita no futuro, mesmo com a perca dos seus entes amados. “A fé move montanhas, mas se ter fé fosse fácil, a montanha não seria removida, e sim desapareceria
Immaculée chega a trabalhar na ONU e ao se deparar com os assassinos dos seus pais, contrariando a todos, oferece o perdão. Esse relato ajudou várias vítimas de terrorismos no mundo a lidar com o trauma. Hoje, está casada e é mãe de dois filhos, atualmente sua residência é em Nova York, onde trabalha para a ONU e direciona seus esforços à organização que criou para amparar sobreviventes de guerras e genocídios. INDICO!


26-  AUSTEN, Jane. Razão e sensibilidade. SP: Martin Claret, 2009. 3ª ed.

27-  MORO, Javier. O Império é você: a fascinante saga do homem que mudou a História do Brasil. SP: Planeta, 2012.

28-  SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Corações descontrolados: ciúmes, raiva, impulsividade. O jeito bordeline de ser. RJ: Objetiva, 2012.

Antes de abordar sobre o Transtorno de Personalidade Borderline, a autora descreve o que é uma personalidade. Essa é uma combinação dinâmica de temperamento e caráter de um determinado indivíduo, o último é moldado pelo aprendizado social, cultural e por acontecimentos vitais e marcantes. Já o temperamento é herdado geneticamente.
Os borders constantemente são confundidos com os portadores de depressão, ciclotimia e TDAH. Os borders capotam nas emoções, no excesso de sentir e possuem sintomas dos transtornos de ansiedade, TAG, TOC, pânicos e fobias. A pessoa border apresenta também dificuldades de concentração e impulsividade, no entanto a origem destes não está na hiperatividade mental (como no caso dos Tdah´s) e sim na hiperatividade emocional e afetiva. 
Suas relações amorosas são marcadas pela intensidade, dramatização e dependência afetiva. Em função disso, muitas pessoas com essa personalidade acabam sendo vítimas passivas de parceiros agressivos e até perversos. A autora dedica um capítulo para relatar as disfunções emocionais, cognitivas, comportamentais e pessoais dos TPB´s. Relata sobre o transtorno em crianças e adolescentes, sendo também presente em mães, classificadas em vitimizadas, defendidas, autoritárias e malvadas.
As relações interpessoais no universo borderline é um verdadeiro "pisando em ovos". Mesmo não sendo bordelirne, é possível estar ou parecer border. A autora utiliza de músicas temas para demonstrar estar border: "Nua Ana Carolina", parecer border "Meu vício é você Chico Roque e Carlos Colla" e ser border "O lado quente do ser de Marina Lima". Há um capítulo sobre os possíveis tratamentos terapêuticos e o uso da medicação.
Muito interessante o capítulo com as biografias dos xxemplos de celebridades borders: Amy Winehouse, Janis Joplin (MAMIS!!!), Marilyn Monroe, Tony Curtis e Elizabeth Taylor.  Muito importante o estudo sobre os fatores genéticos, ambientais e sociais, sendo de suma importância rever as relações afetivas. A leitura dos livros dessa autora (na minha opinião) deixa o assunto no limbo, por não ser direcionado nem para o público em geral e nem para a sociedade médica. Acredito que ainda assim, tem sua grande serventia.

29-  KOSTOVA, Elizabeth. O historiador. RJ: Objetiva, 2005.

30-  HEATLEY, Michael e HOPKINSON, Frank. Músicas e musas: a verdadeira história por trás de 50 clássicos pop. BH: Gutemberg, 2011.

31-  HOSSEINI, Khaled. O silêncio das montanhas. SP: Globo, 2013.

Khaled Hosseini é médico e escreve em seus momentos de lazer. Pense! Devido à vitória comunista nos anos 70 teve que, juntamente com sua família sair do Afeganistão e viver sob  asilo político norte-americano. Seu primeiro livro, que a maioria conhece por causa do filme e não do livro, foi um sucesso, O caçador de Pipas. Após o livro impresso, o autor visitou sua terra natal. Logo, tudo que descreveu foi resultado das suas lembranças sobre o local que passou a sua infância. Diferente dos outros dois livros posteriores, nesse ele relata o fim do período monárquico no final da década de 70 e os soviéticos no país. O Taleban e períodos de guerras no Afeganistão são temas presentes nas três obras. 
Suas obras se remetem à separação e quase sempre de forma dramática. O caçador de Pipas, percebe-se que a amizade oferecida de um lado, nem sempre é na mesma proporção do outro. Em "A cidade do Sol" (até agora, é o meu preferido), a guerra do Afeganistão decide o destino de duas mulheres, Laila e Mariam. Do início ao fim, drama puro, prepara-se pra chorar. Não é masoquismo literário, é a realidade com pano de fundo temas históricos. Respeito que lê apenas literatura fantasiosa, eu leio de vez em quando, mas eu acho válido a capacidade de alguém conciliar fatos e narrativas da forma como esse autor faz. 
Sobre a obra em questão da postagem, li algumas críticas. Uma em especial me deixou um pouco perplexa. Não concordo quando o crítico acusa o autor de tentar o melodrama de forma abusiva. Tudo bem, há uma diferença no estilo do autor percebível no seu terceiro livro. Nesse ele faz recortes e envolve mais personagens, conciliando ou não suas histórias no enredo. O final como era de se esperar não é o que o coração do leitor espera, me foi frustrante, não pela escolha do autor, mas pelo lado esperançoso que acabamos carregando no peito. Confesso que não teria como ser de outra forma. Nos recortes citados, o autor começa em Cabul, passa pelo Afeganistão em Guerra, Grécia, EUA e França. De todos os personagens, o que mais gostei foi a poetisa Nila, com todas as suas cicatrizes que de forma indireta, decidiram o destino de Pari (personagem principal). INDICO!