Amanhã, 08 de março, DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Decidi não
escrever os fatos que resultaram nessa data, apesar de que historicamente a
mesma exista para relembrar e não comemorar. Acredito que haja motivos para
ambos, relembrar as opressões e comemorar as vitórias. Tentei encontrar homens
para oferecer esse texto e não mulheres, felizmente (pois corri o risco de não
achar nenhum) achei dois amigos docentes e decentes.
O primeiro, Roque Oliveira, por ser um homem que sendo um
bom cidadão, bom filho, bom professor e bom amigo que poderia até se achar no
direito de “ser” machista. Sendo das Exatas, confesso que sabe mais de História
que eu, e nunca se sentiu na necessidade de me diminuir para que ele se
tornasse superior. Ele sabe quem é.
O segundo, professor de Educação Física, Salatieu Eurípedes,
pois me chamou recentemente de feminista e eu tão cansada desses debates com “amigos”
próximos neguei irritada. O mesmo disse: sim, você é, pois luta por igualdade,
luta por melhores condições do sexo feminino, se expõe ao máximo contra a
violência doméstica e sexual. Logo respondi, “sim, eu sou”. Que visão perfeita
de um homem a respeito de uma feminista que por conhecê-la tão bem não se
baseou em estereótipos. Dedico esse texto a ambos. Acredito que na sociedade
exista uma pequena parcela de homens como vocês, espero encontra-los.
A intenção do texto é fazer um relato histórico sobre algumas
opressões patriarcais, tentando não ser anacrônica, mas para demonstrar aos que
desconhecem a História, que tudo isso tem gênese e permanece por vários motivos
que não vou citá-los aqui, pois a perpetuação de uma opressão é feita por ambos
os sexos, por isso que não ofereço esse texto de maneira alguma às mulheres
(vou me contradizer de certa forma no final). Elas não acreditam que um
departamento dê certo apenas com mulheres, elas acreditam que ao se envolver
com um homem casado a safada é a mulher, elas julgam mulheres por suas vestes e
assim vai. Enfim, somos todos treinados pelo senso comum a agir assim, mas
temos o livre arbítrio diante da injustiça, pois o silêncio dos bons é tão
nocivo quanto à guerra em escala mundial. Não quero aqui debater Teologia, pois
como afirmou Marx, a religião é o ópio do povo. Saindo um pouco do contexto
histórico e me reutilizando da frase para o contexto afirmo que é muito fácil
falar do plano de salvação, quando historicamente não se é a vítima. Mais fácil
ainda é citar a vontade de Deus e esquecer que não devemos nos contentar com o
século atual.
Bom, oferecido o texto, gostaria agora de fazer os devidos
agradecimentos, já que nunca houve e nunca haverá opressão contra a mulher,
pois elas se tornaram vulgares, mães solteiras, ganham mais que os homens,
estudam ao invés de cuidar da casa e resumidamente, são o câncer da sociedade
contemporânea.
Gostaria de agradecer:
- aos escritores da História que anularam minha participação
no Neolítico, na domesticação de animais e agricultura (sei que estás a pensar
na era tecnológica e o que tem com isso. Não gastarei meu latim com você, ameba
que se diz pensante).
- às sociedades patriarcais da Idade do Metal que na
propriedade de terra e bens ao descobrir a herança se apossou do meu corpo. Não
para uma aliança harmônica dotada de amor e sim para a certeza que o herdeiro
era de fato merecedor;
- aos maridos de Atenas (se não sabe o motivo, se vira);
- aos maridos espartanos que me enxergaram como procriadora;
- a Aristóteles que ao perceber a ausência de um dente me
enxergou inferior a si mesmo;
- ao exército romano que violentou minhas filhas por orgulho
ferido ao perder a guerra para uma rainha celta na era de Bronze;
(coisa demais para agradecer... pulemos um pouco)
- aos vários escritores medievais que me consideraram
maldita por vir de uma costela torta e ter tornado assim minha vida um inferno
desde então;
- aos vários casamentos que me deram como contratos sociais
por interesse próprios e não o meu;
- aos inquisidores que me queimaram por ranger o dente ao
dormir;
- aos escritores que descreveram as ameríndias vulgares e
não levaram em conta costumes tribais;
- aos projetos de estado durante certas guerras que me
obrigaram (e aos meus filhos) a sair de casa e trabalhar em fábricas e se
sentiram ofendidos, pois não quis e não pude voltar;
- aos pregadores que professam até hoje as doutrinas
paulinas e não citam os relacionamentos de Cristo com as mulheres (inclusive
sustentado por várias);
- aos queridos amigos e amigas que acreditam que a violência
sexual só existe devido à roupa da vítima;
- aos mesmos que acreditam que uma mulher apanha em casa é
porque gosta mesmo é de apanhar;
- aos maridos que descansam em seus lares enquanto nos
aproveitamos do resultado da pílula e da queima de sutiãs, trabalhando em dois
lugares, dentro e fora de casa;
-aos que me tentam me intimidar pela escolha em ter apenas
um filho e ficar solteira, pois estudar e cuidar de marido é cansativo e eu
pretendo passar em um concurso;
- aos chateados que iludidos pelo Estado e toda sua
exploração, acredita que tiramos algo deles;
- aos bestializados que se deparam com mulheres em funções
ditas “masculinas”;
- aos inseguros que precisam tentar nos diminuir para se
sentirem superiores e sempre terminam a fala como palavras: hormonal, geniosa, “feminista”,
mal comida, falta de sexo, falta de macho...
Se você não se identificou em nenhum desses agradecimentos, abstenha-se
de criticar, pois posso saudar-te com Príapo.
Mas de verdade, quero mesmo agradecer esse texto às mulheres
que não se intimidam. Gostaria de citar várias, historicamente falando, e
algumas que conheço pessoalmente, mas sei que vários textos vão fazer essa
honra. Ofereço esse texto pra mim, que sou mulher com “H” (háháhá) maiúsculo e
não nasci mulher, mas me tornei (Beauvoir). E finalizando, oferecer aos homens
que sei que existem e que não se intimidam com mulheres como nós. Conseguem
enxergar nossos traços femininos e nossa delicadeza, e participam dessa luta.
Sim, precisamos dos homens, porém homens em processo de cura, curados e “femininos,
sem perder o jeito masculino (Pepeu Gomes)”. Findo assim, um dia antes da data,
gosto de me anteceder. Sei que posso não
agradar, from hell.
Os: citei pouco, cite levei, mas quem de fato conhece a
História, as estatísticas, e quem percebe de fato as injustiças ao seu redor,
sabe que não é necessário o excesso. Que
venha os outros dias, após o dia 08/03.