quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Diário Literário - agosto/2013


A tentativa excessiva de ironia já é percebível na abertura intitulada de "Como deixar de ser latino-americano". Esse excesso cômico não era tão acentuado no primeiro livro de Leandro Narloch e ao finalizar o livro, acredito que a parceria com Duda Teixeira, também jornalista, foi muito infeliz. Aos historiadores que abominam livros escritos por jornalistas, preparem-se para odiar ainda mais ou nem leiam. 

Na introdução, os autores explicam o surgimento do termo latino-americano e as principais semelhanças históricas: massacre de índios, escravidão negra, ditaduras - combatendo o criador do termo que usava como semelhança apenas o idioma. Após isso os autores citam em tópicos "a receita" para se preparar um bom latino-americano. Polêmico, ainda que engraçado. Para eles o livro tem como alvo o falso herói latino-americano e os capítulos estão divididos em: Che Guevara, incas maias e astecas, Simón Bolivar, Haiti, Perón e Evita, Pancho Villa, Salvador Allende. 
 
O primeiro capítulo trata sobre Ernesto Che Guevara e sobre quatro contradições, segundo os autores, entre sua vida e a admiração que ela inspira. As fontes são extraídas das principais biografias e de instituições como órgãos de direitos humanos e associações de familiares de mortos e desaparecidos políticos. Também são citadas palavras de Guevara escritas em livros, manifestas e diárias. Inclusive, um dos discursos de Che sustentado pelos autores, não encontrei em minha pesquisa. 

Sobre incas, maias e astecas (capítulo 2) foi banal citar o escritor mexicano Octavio Paz: “Aqueles que definem a conquista como um genocídio dos povos americanos cometem um erro grave", historicamente falando, ridículo da parte dos autores. No mesmo capítulo "Os índios conquistadores” o erro foi o quesito conquistas, claro que houve e há aqueles que ficaram/ficam do lado dos saqueadores, mas generalizar se utilizando do nome de um historiador aqui e outro acolá, é absurdo. Sim, houve os extermínios de vizinhos inimigos, mas a forma que esses autores findam o capítulo espetando o "presidente indígena de um certo país andino" é um vômito. Suas fontes são péssimas, antes tivesse assistido o filme do Mel Gibson. 

O capítulo sobre o Haiti é o mais cansativo e dá-se a impressão de lacunas. Sobre Evita e Perón, narra a vida do militar que comandou o país entre 1946 e 1955 e também entre 1973 e 1974. O autor vai desde a independência da Argentina em 1816 e os principais acontecimentos até 1920 que tornaram o país avançado em quesito renda per capita e educação, até que chegou Perón, segundo os autores, o nosso Getúlio Vargas. A partir desse capítulo, o livro parece uma narração de futebol. 

Capítulo sobre Francisco Pancho Villa (Doroteo Arango), um dos protagonistas da revolução contra o ditador Porfírio Diaz (México). Muito interessante, o próprio Pancho interpretou (The Life of Pancho Villa) a si próprio em um filme norte-americano. O título já diz tudo: "O latifundiário mais famoso de Hollywood". Último capítulo sobre Salvador Allende com direito a citar o poeta Neruda e no epílogo, os restos mortais dos personagens narrados no livro. A intenção é nobre, não existe herói cem por cento, mas eu considero esse livro como uma aberração histórica, lixo literário e besteirol, tipo revista VEJA. Fico do lado de Fernando Morais na 7ª Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto): 

Foi então a vez dele contestar uma informação publicada por Morais sobre o episódio das larvas jogadas pela governo americano nas plantações de batatas em Cuba. “Use um pouco do dinheiro que você ganha com direitos autorais e vá até os Estados Unidos checar isso. Nós não vamos ficar aqui brigando pelas batatas cubanas”, finalizou Morais.

NÃO INDICO!