sábado, 31 de agosto de 2013

Diário Literário A G O S T O/2013





O livro “Sobrevivi para contar: o poder da fé me salvou de um massacre”, foi escrito por Steve Erwin e narra a história de Immaculée Ilibagiza. É o tipo de livro que não me atrai em uma livraria, mesmo estando em promoção. Foi um presente, um belo presente literário. Os relatos históricos do genocídio de 1994 em Ruanda não são o foco da narração, mas é uma ótima opção para quem deseja se informar mais sobre o assunto. 

A apresentação inicial é de Wayne Dyer e o prefácio é de Immaculée que informa que o livro se trata da sua vida pessoal e não do genocídio de 1994 em Ruanda, onde aprendeu que "ser poupada não é o mesmo que ser salva". Aos 22 anos, confinada num banheiro durante três meses com mais sete mulheres, seus maiores inimigos foram o medo e o desespero. 

Nascida e criada em Kibuye, província de Ruanda Ocidental, Immaculée Ilibagiza tinha que caminhar 12km para estudar, assim como as outras crianças. Fazia parte de uma família menos pobre e conhecida por suas obras beneficentes. Há vários relatos de cada membro da família antes da tragédia.

Immaculée só teve ciência das diferenças étnicas em Ruanda, quando seu professor fez a chamada por tribo. Ela nem sabia à qual pertencia. Os colonizadores alemães e depois os belgas fizeram a merda toda, criaram um sistema discriminatório de classes, tendo por base a raça dos indivíduos. A maioria hútu, uma minoria tútsi e um número insignificante de twas (pigmeus). Aos 15 anos não ganhou a bolsa de estudo por ser uma tútsi e após muito estudo, conseguiu entrar no Lycéé de Notre Dame d´Afrique, uma das melhores escolas de Ruanda, com sua maioria de hútus.

No feriado de Páscoa, Immaculée pela insistência do pai, vai passar com a família. Então, na manhã de 07 de abril de 1994 (ano de Copa, da morte do Ayrton Senna, do plano Real, do nascimento do meu filho), começou o genocídio. Ações extremistas contras os tútsis já estavam acontecendo, o estopim foi o assassinato do presidente Habyarimana, que prometera devolver a paz e igualdade entre hútus e tútsis.Vários relatos durante o livro sobre as atrocidades praticadas pelo grupo hutu.

“Compreendi que minha batalha para sobreviver seria travada em meu interior. Tudo que eu tinha de bom - fé, esperança, coragem - era vulnerável à energia do mal. Se perdesse a fé, eu não sobreviveria. Mas podia confiar em Deus como um aliado em minha luta." Esse era o pensamento de Immaculée escondida em um pequeno banheiro com mais seis tútsis na casa de um pastor hutu moderado. O genocídio era total e apoiado pelo governo. Sua família já havia sido toda assassinada, exceto seu irmão mais velho que estava em Senegal. 

Os belgas, antigos colonizadores foram os primeiros a remover suas tropas. A ONU retirou sua força de paz assim que começou o massacre, ficando apenas os canadenses com 200 soldados. Mais duas fugitivas foram escondidas no pequeno banheiro, Malaba e Solange. Immaculée decideu aprender inglês, pois tinha certeza que quando tudo acabasse, iria trabalhar para o ONU.

Os franceses decidem enviar ajuda e os hútus acreditam que vão apoiá-los, pois foram treinados por eles. O que eles não esperavam é que a Operação Turquesa, projeto francês de enviar tropas para Ruanda, era para criar refúgios seguros para os tútsis sobreviventes. Immaculée e as outras mulheres chegam à base da Operação Turquesa, e lá encontraram outros tutsis fugidos e feridos. O mais interessante dessa biografia é sua fé que mesmo vacilante acredita no futuro, mesmo com a perca dos seus entes amados. “A fé move montanhas, mas se ter fé fosse fácil, a montanha não seria removida, e sim desapareceria

Immaculée chega a trabalhar na ONU e ao se deparar com os assassinos dos seus pais, contrariando a todos, oferece o perdão. Esse relato ajudou várias vítimas de terrorismos no mundo a lidar com o trauma. Hoje, está casada e é mãe de dois filhos, atualmente sua residência é em Nova York, onde trabalha para a ONU e direciona seus esforços à organização que criou para amparar sobreviventes de guerras e genocídios. INDICO!