A MSF
(Médicos Sem Fronteiras) é uma organização internacional fundada em 1971, na
França, por um grupo de jovens médicos e jornalistas. Motivada pela crença de
que todas as pessoas, independente de etnia, religião e nacionalidade, têm o
direito de receber assistência básica em momento de crise, a MSF trabalha em
mais de 60 países com 03 mil funcionários internacionais. A ajuda financeira
que financia os projetos da organização, 91% são de doadores privados e
empresas, garantindo o máximo de independência de qualquer poder político ou
econômico. Nove escritores vivenciam situações limites e relatam o comovente trabalho da organização.
O
primeiro capítulo (Mario Vargas Llosa) é sobre a República Democrática do
Congo, onde o problema número um são os estupros, que matam mais mulheres que a
cólera, a febre amarela e a malária. Bandos, facções, grupos rebeldes, encontram
mulheres do bando inimigo e a estupram, não tendo nada com prazer, e sim com o
ódio. Relatos que perturbaram sobre a consciência de ser mulher. A MSF atua no
local desde 1981.
O
texto de Eliane Brum contem relatos de famílias da região de Narciso Campero,
na Bolívia, que foram vítimas da Vinchuca, também chamado barbeiro, chupão,
bicho da parede, cascudo ou fincão. Na população rural, 70% da população tem
Chagas, sobrenome do médico brasileiro que descobriu o protozoário que invade o
inseto, que suga o sangue da vítima e defeca, e a mesma ao se coçar é
infectada. Corporações farmacêuticas não tem interesse em investir na pesquisa
de vacina e tratamento, pois se sabe que é uma patologia que mata em sua
maioria os pobres. No caso da Bolívia, a população pobre e indígena,
discriminada pela elite do país.
Um dia
desses citei com colegas o fato que sempre nas fichas médicas me perguntam se
há casos de Chagas na família, ficamos em dúvidas quanto a isso. Pois sim, o
parasita é transmitido na gravidez e os efeitos colaterais da medicação não
permitem o tratamento durante a gestação. Os médicos sem Fronteira atuam na
Bolívia desde 1986 e no capítulo há o relato de diagnósticos, monitoramentos,
marca-passos (há muito preconceito quanto ao uso pelos próprios camponeses) e
óbitos. Um pouco poético o capítulo, o que diminui a gravidade da situação, mas
o relato final do médico, fecha com chave de ouro.
Paolo
Giordano narra no seu capítulo sobre Marije, uma jovem norueguesa, que vai para
Bangladesh participar da equipe MSF e cuidar principalmente das crianças.
Porém, não consegue segurar muito a onda... com razão. Transferida para a zona
rural de Fulbaria, vai lidar com pacientes contaminados pelo calazar, ou
leishmaniose visceral, uma patologia parasitária fatal transmitida pela picada
de um mosquito. A jovem tem que lidar com a paixão em cuidar do próximo e sua vida
pessoal, um tipo dilema e tanto. A MSF está em Bangladesh desde 1985.
No
capítulo sobre Khayelitsha, Cidade do Cabo (Catherine Dunne) há relatos do
estado título do capítulo, mas também há relatos de outros países africanos. A
cidade tem uma das taxas mais elevadas de HIV e tuberculose na África e do
mundo. A epidemia tem raiz no apartheid, nas migrações em massa em busca de
trabalho Capítulo enorme e de uma realidade gritante. Muito dolorido os relatos
registrados. Na África do Sul o número aproximado de soropositivos seria de
cerca de 5,7 milhões, 17% da população mundial. Os Médicos Sem Fronteira atuam
lá desde 1999 com um programa integrado para o tratamento da coinfecção do HIV
e da tuberculose. A migração em massa desde a apartheid, a busca de emprego, a
herança histórica maldita deixada por colonizadores, pobreza e o estupro
coletivo, que vários jovens participam para poder iniciar a vida em gangues
criminosas são algum dos fatores para a epidemia. A crença que uma menina
virgem cura um adulto soropositivo é uma das aberrações que também contribui
para o crescimento da contaminação.
A
Organização Médicos Sem Fronteiras atua na Grécia desde 2008 e tem oferecido
apoio psicológico para os migrantes e requerentes de asilo nos centros de
detenção de Fylakio, Venna e Pagani, na ilha de Lesbos. Alicia Giménez
Bartlett, escritora de ficção foi convidada para relatar a ação médica e
psicológica das pessoas presas nas fronteiras em busca de trabalho, pois a
Grécia é a porta para a Europa. Interessante que a autora ficou chocada com os
centros de detenções que visitou e sua filha lhe informa que em Barcelona (sua
residência) também existem.
O capítulo
de James A. Levine também relata sobre a República Democrática do Congo, mas
ele narra a história de Paulit. Particularmente o texto de Esmahan Aykol, se
utilizando de uma bolsa como narrativa, deixou muito a desejar. Acabou não dando a ênfase
necessária para a situação de Maláui, atendida pela MSF desde 1996. O
local tem escassez de pessoal médico, são dois para cada 100 mil habitantes.
Na
Índia a MSF atua desde 1999, com cuidados médicos e terapias contra
tuberculose, malária, HIV/aids e calazar. Também dá assistência básica e
especializada à população das regiões devastadas pela violência e por conflitos
armados. Texto de Tishani Doshi. Em Burundi (Wilfried N´Sondé) a organização
atua desde 1992 com acesso limitado e falta de pessoal. Esse cenário é
particularmente nocivo às mulheres, pois um grande número morre no parto e
milhares desenvolvem fístulas obstétricas. Para esse último caso, foi criado em
2010 o centro de Urumuri, para tratar mulheres que sofrem com essa fístula. No
país a malária e a principal causa de doença e morte.
Indico! Trabalho digno de ser conhecido e compartilhado.