segunda-feira, 12 de março de 2012

Diário Literário - Triste Fim de Policarpo Quaresma


Hoje terminei o 11º livro do ano (enquanto o olho esquerdo lacrimejava o direito fazia o serviço, isso que é vício, affs), Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto. Li uma sugestão sobre ele e acho que buzinei tanto sobre o mesmo que minha irmã acabou me dando de presente. O autor descreve nessa obra as estruturas sociais e políticas do Brasil da Primeira República, enfocando os fatos históricos do governo de Floriano Perixoto. 

O livro (que foi publicado inicialmente em folhetins no ano de 1911) está dividido em três partes. Chamo essas partes de "o hiperfoco" (linguagem de TDAH) de Policarpo Quaresma, protagonista da obra. Nesses três momentos da sua vida ele se lança de corpo e alma a um ideal sempre baseado no patriotismo. 

Já na primeira parte o personagem é apresentado como patriota e não sei se o "seu triste fim" se deu por ter sido um patriota sem ambições políticas ou administrativas (pg 19). Gostei muito dessa parte sobre Policarpo que acho que vou até utilizar como texto da avaliação globalizada sobre História do Brasil (9º ano):

"Não se sabia onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não eram só os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara,não era a altura de Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves - era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro".

Ao meu ver o trecho acima descreve bem as riquezas do nosso país. Então, essa é a primeira parte do livro onde o protagonista conhecedor das nossas belezas naturais decide escrever um manifesto solicitando que a nossa língua geral seja a tupi-guarani. Óbvio que ele não vai ser levado a sério, chegando mesmo a ser internado em um hospício. Nessa parte gostei muito do personagem Ricardo Coração dos Outros que ensina Quaresma a tocar violão, instrumento que sofre discriminações na época. A descrição de Lima da alta sociedade suburbana carioca é maravilhosa. 

Na segunda parte Quaresma resolve ir cuidar de um sítio, plantar e colher e entre uma semente e outra analisa a pobreza da comunidade rural a sua volta e disputas políticas no campo. Pode-se conciliar com a República Oligárquica que substitui o Brasil já agrário do Império. Aliás ele faz críticas sobre a ajuda do governo aos estrangeiros e descaso do mesmo com o povo brasileiro. Sua luta contra as saúvas é o ponto alto dessa segunda parte. 

A terceira Quaresma se alista para o exército de Floriano contra um levante que realmente aconteceu na posição de major. Ricardo Coração dos Outros também se alista de forma "voluntária". Nessa última parte Lima Barreto dá maior ênfase ao presidente Floriano Peixoto e as formas como as posições e cargos são adquiridos nessa máquina administrativa chamada governo. Nada diferente da atualidade, aliás quantas semelhanças há na obra e na nossa realidade atual. Bem, sem contar o final do livro, o título já diz tudo e triste as reflexões que Policarpo faz sobre patriotismo e consequências. Agora é ir atrás do filme.