terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UnB repudia trote humilhante e faz nova recepção a calouros



UnB repudia trote humilhante e faz nova recepção a calouros

UnB Agência 
Em dia de festa para alunos aprovados no PAS, professores condenam desrespeitos, e alunos mostram novas possibilidades de acolhimento

Darcy Ribeiro sempre foi movido por incorformismos. Em sua história, lutou contra injustiças, desigualdades, desperdícios. Queria mudar o mundo. A UnB também quer mudar. Está mudando. Quer novas maneiras de recepcionar os calouros, quer uma convivência universitária baseada no respeito, quer emancipar-se frente a "tradições" que sujam, humilham e estabelecem relações de poder e autoridade entre iguais. 


Neste 31 de janeiro de 2011, a universidade recebeu 1.466 novos alunos com uma nova compreensão do que é "receber". Trotes sujos e humilhantes foram repudiados pelo reitor, por professores e, principalmente, pelos próprios alunos. 



A divulgação da lista de aprovados pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) foi acompanhada de ovos, farinha e tinta, como sempre. Trata-se de mais uma "tradição" que, como tantas outras, a UnB pretende quebrar. Mas, desta vez, a universidade da reinvenção e do descaminho demonstrou seu desejo de criar uma outra forma de recepção de novos alunos. Com acolhimento e não humilhação. Com respeito e não piadas. Com a pretensão de transformar consciências e relações a partir de valores educativos e emancipatórios. 



A mudança foi marcada pela designação de uma comissão, pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior, para investigar violações à dignidade de alunas submetidas ao vexame de lamber linguiças lambuzadas de leite condensado, à vista de todos, em pleno Minhocão. A "festa da humilhação", promovida por veteranos da Agronomia, foi denunciada pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, que viu no ato uma encenação de "ridicularização e desrespeito às mulheres". 



A mudança foi acolhida também pelo Conselho da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV), que votou uma moção de repúdio ao trote com conotação sexista. O diretor da FAV, Cícero Lopes, afirmou que não vai fugir à responsabilidade de encontrar uma solução para o problema. 



A mudança envolveu inclusive os alunos da Agronomia. O Centro Acadêmico do curso se comprometeu a excluir do trote brincadeiras que possam gerar interpretações ofensivas às mulheres. 



A mudança foi defendida pelo Diretório Central dos Estudantes, que enfrentou a chuva de farinha, ovos e tinta no Minhocão com placas de papelão, nas quais se lia: "somos veteranos e não damos trote" e "recepção sem humilhação". No DCE, a tradição é do trote solidário, geralmente aplicado em escolas de regiões carentes do DF, com a participação de centenas de alunos. 



A mudança foi uma demanda do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres, que divulgou manifesto de repúdio à vulgaridade no trote. "A mensagem veiculada nessas ações associa fortemente as mulheres a objetos sexuais e destina-lhes um espaço desvalorizado em ambiente em que as capacidades cognitivas, não os atributos corporais, são prestigiadas", diz o texto. O núcleo é coordenado pela professora Lourdes Bandeira, subsecretária de Políticas para Mulheres da Presidência da República. 



A mudança será discutida por toda a comunidade acadêmica, por meio de uma consulta pública sobre normas de convivência universitária propostas pela Reitoria. As regras estabelecerão limites para horário de festas, venda de bebidas alcóolicas e trotes considerados humilhantes ou vexatórios.