terça-feira, 15 de abril de 2025

Como ganhar milhões antes que a vovó morra - Pat Boonnitipat

 


 Como ganhar milhões antes que a vovó morra (Lahn Mah) é um filme de comédia tailandesa de 2024 que teve grande aceitação na Ásia e agora chegou na plataforma de streamming da NetflixA maioria das páginas que contém a sinopse do filme informa (na minha opinião) erroneamente que um jovem abandonou um emprego para cuidar da avó. Bom, eu não entendi que ele tinha um emprego, mas que era um alienado no lucro que poderia obter sendo gamer enquanto sua mãe trabalhava e sustentava a casa de forma sobrecarregada. 

    M., o neto de Mengju, participa do Festival Qingming (pesquisei) com o núcleo familiar formado por: tio mais velho (o preferido e mais bem sucedido da avó), sua esposa e filha; o tio do meio (irresponsável e sem dinheiro) e a mãe. Nessa visitação ao túmulo, percebemos a distância entre as gerações. A avó cobra os procedimentos certos diante da tradição de visitar e celebrar os mortos, mas o neto jovem apenas se atenta ao jogo online e ninguém parece desejar estar ali.

    Após a morte do parente da sua prima e sabendo que a casa foi deixada para ela após cuidar do falecido doente e idoso, M. começa a se interessar em cuidar da avó doente com a esperança de receber a casa como recompensa. Inclusive ele conta que ela está com câncer no intestino, algo que a família não havia até então contado. Eis o enredo resumido, daqui em diante não vou me aprofundar para não dar spoiler. 

    Para M. há uma grande necessidade de ganhar dinheiro rápido e se amparar em plataformas digitais para tal. Ele quer ser influenciador game; sua prima após ser herdeira da casa, faz conteúdo adulto como enfermeira; seja como for, a mensagem é: PRESSA! Como esse conflito é passado na longa metragem? Percebemos uma avó que respeita etapas, procedimentos e detalhes. M., diferente dela, quer esquentar uma água no microondas pois é a mesma coisa da água esquentada na chaleira. Tem outros exemplos no decorrer da convivência dos dois dessas diferenças em fazer e enxergar o mundo.

    M. não cultua nada, não acredita na religião da sua avó, não entende porque ela deixou de comer carne para pagar uma promessa para uma deusa que curou o seu filho mais velho, não entende a importância de ter um caixão a ponto da avó ser humilhada pelo próprio irmão. Com o passar do tempo, mesmo não sendo religioso, M. começa a refletir sobre valores da vida. 

    As imagens também proporcionam a análise sobre o velho e o novo. Casas antigas e prédios altos compõem a cenografia para informar que ambos coexistem no mesmo lugar. M. se adapta na casa da sua avó com TV de tubo, chaleira, guardar dinheiro no armário. Enquanto isso, Mengju, consegue ao menos usar um filtro no aparelho telefônico. Aos poucos, o novo cede e o tradicional ensina explicando a importância dos ritos, do sagrado, da tradição. 


    Com uma leveza poética, o drama ensina com o auxílio do humor, necessário pelo peso do tema, que valores podem ser adquiridos e que a passagem do bastão de uma geração para a outra pode ser realizada de fato. Todos são humanos, todos ali também estão presos pelo peso da tradição não compreendida (geração dos filhos de Mengju), todos ali também sentem uma amargura que determina comportamentos. Não há vilões. M. faz parte da nova geração que indaga, que a princípio tem um objetivo sórdido, mas, que, por ter a coragem de perguntar e criticar, obtém as respostas. Elas que possibilitaram a sua mudança. Indico com a pipoca e lencinhos de papel. Lágrimas e risadas garantidas.