quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Memórias Póstumas de Brás Cuba

 

Sobre o autor, Machado de Assis, há vasto material que descreve a trajetória literária do maior escritor brasileiro. Logo, serei breve em minha contribuição a partir da leitura que acabei de findar. Quem nunca escutou algo sobre a célebre dedicatória "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas" precisa conhecer o enredo sério e irônico contado pelo próprio morto: Brás Cubas.

As memórias autobiográficas começam pelo seu enterro, afinal, trata-se de um defunto autor que fez parte da elite carioca do século XIX. Brás Cubas faleceu aos 64 anos, solteiro e com apenas 11 amigos. Herdeiro, viveu em seus anos os privilégios da riqueza dos seus pais. Claro que a quantia herdada trouxe impasses na partilha com a sua única irmã, Sabina, e seu cunhado, Cotrim. Intrigas e conciliações que são descritas na obra literária. 

A obra, parte do Realismo a qual Machado fez parte, tinha como objetivo descrever a sociedade como ela realmente era na época. Assim sendo, podemos conciliar a descrição do protagonista com o Brasil Imperial que enviava jovens abastados para estudar Direito na Europa e após o retorno ao Império, ocupar cargos políticos que determinassem o caminhar da nação escravocrata, desigual e elitizada. 

Claro que é notável a ironia sobre o funcionamento da engrenagem social e política de letras mortas sancionadas ou vetadas pelo Poder Moderador. Judiciário já funcionava, porém embasado pelo positivismo e cientificismo, teorias circulantes da época. Humanitismo, apresentado por Quincas Borba, declarava-se acima de todas as demais crenças religiosas ("Cristianismo é bom para mulheres e mendigos"...) e justificava as fases históricas da sociedade para normalizar o funcionamento do status quo, com exceção da dor. Essa é uma ilusão. Conhecedores das fases do teoria de Comte bem conhecem tais fases que a justificam em si. 

Claro que há muito a dissertar sobre os enlaces românticas e personagens secundários, mas eu como fiel discípula de Machado de Assis, sempre defenderei que, apesar de ser um romance, o autor sempre quis explanar a sociedade em que estava inserida. Como funcionário público, a Literatura sempre foi a sua porta-voz.