domingo, 23 de junho de 2024

A Vergonha - Annie Ernaux

 



A Vergonha de Annie Ernaux é o livro do mês de junho do grupo de leitores da Biblioteca Nacional de Brasília. Também é  livro do meu retorno ao grupo depois de vários anos sem participar. Annie Duchesne (nome da escritora) é francesa, escritora e professora. Já está com mais de 80 anos, bastante tempo para conhecer a si  mesmo, já que seus romances são sobre classe e gênero baseador na própria vida. Em 2022 recebeu o Nobel de Literatura "pela coragem e acuidade clínica com que descortina as raízes, os estranhamentos e os constrangimentos coletivos da memória pessoal". 

O livro tem a seguinte frase de abertura "meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde". Tal fato acompanhou a escritora/protagonista por anos, então ela decide descrever sua vida antes e depois do ocorrido. Como uma catarse. Como uma procura por algo que justificasse o ato e aliviasse a sensação de vergonha que passou a sentir desde os seus 12 anos. O pai, a mãe a ela nunca falaram sobre a violência doméstica daquele dia, então a partir da escrita da sua memória, ela vê a possibilidade de escrever sobre aquilo que não se quer falar. 

Muito além da visita às memórias do ano de 1952, Annie vai até o Arquivo da sua cidade natal em busca das notícias locais da época. A escrita é uma forma de destrinchar, esquartejar, fazer uma autópsia não apenas do ato, mas também da sociedade, dos costumes, do sagrado e do profano que dirigia gerações e determinava posições sociais dentro e fora de várias famílias. É um livro curto, direto e reflexivo. Bastante reflexivo.