quarta-feira, 30 de março de 2016

Zelota - A vida e a época de Jesus de Nazaré

Reza Aslan, foi muçulmano até os seus 15 anos, pois nascer no Irã era carregar a tradição religiosa como a própria pele. Esse fato esfriou drasticamente após a revolução no seu país, o que obrigou sua família a fugir para América. Vale ressaltar que na década de 1980, Jesus era a América. Aceitar seu sacrifício, seu enredo, por mais bizarro que pudesse ser, era o mais perto que alguém poderia fazer para se sentir americano. 

Após sua conversão (aos 15 anos), Reza começou a compartilhar as boas-novas de Jesus com todos. Mas, o inesperado aconteceu. Quanto mais sondava a Bíblia para se armar contra as dúvidas dos incrédulos, mais profundo ficava o abismo por ele percebido entre o Jesus dos evangelhos e o Jesus da história. Na faculdade, no estudo formal da história das religiões, o desconforto se tornou pessoal e as dúvidas, próprias. Assim começou sua Odisseia à fé em Jesus que havia sido descartada como falsa. 

Aslan deu continuidade ao seu trabalho acadêmico não como um crente incondicional, mas como um estudioso inquisitivo. Nessa altura do campeonato, já havia repensado a fé e a cultura dos seus antepassados e reconectado com mais familiaridade. Duas décadas de pesquisas sobre as origens do Cristianismo o tornaram um discípulo de Jesus de Nazaré (o histórico), que jamais um dia foi de Jesus Cristo (Jesus dos evangelhos). Como assim? Como isso aconteceu?

Aqui entra o meu conselho: não leia se você é um crente que tem como base, que cada palavra da Bíblia é literal e infalível. Se você não consegue conviver com o fato de que Nela há evidentes erros e contradições, tal como seria de esperar de um documento escrito por centenas de mãos diferentes através de milhares de anos. Não veja como heresia da minha parte, sou cristã e tenho na Bíblia um manual e modelo de vida. Por esse parágrafo, já deixo claro que a leitura pode ser indigesta. 

Mas, para o autor, que não esteve mais acorrentado à suposição de inefabilidade bíblica, foi o despertar da fé. Quanto mais ele aprendia sobre Jesus histórico, o mundo turbulento em que Ele viveu e a brutalidade da ocupação romana que Ele desafiou, mais se sentiu atraído. Jesus não era mais o ser sobrenatural apresentado para ele na igreja. Era alguém, como ele afirma no final (233), que vale a pena acreditar

É apresentado em sua obra fatos que vão desde a formação de identidade judaica (valores e ritos), invasões estrangeiras em Jerusalém, revoltas e rebeldes messiânicos até a canonização do Novo Testamento sob o governo romano (o que fala por si só, opinião pessoal). Com textos que não fazem parte do Novo Testamento, vamos analisar divergências de opiniões sobre Jesus, não que isso isente o Novo Testamento de divergências de fatos. 

Logo, temos apenas dois fatos históricos efetivos sobre Jesus de Nazaré: primeiro, foi um judeu que liderou um movimento popular judaico na Palestina no início do século I d.C; segundo, é que Roma o crucificou por isso (sedição).  Combinando esses dois fatos com relatos históricos da época em que Jesus viveu e relatos romanos é possível ter precisão histórica do Jesus de Nazaré. Também é possível conhecer o florescimento do Cristianismo e o processo de transformação do Jesus nacionalista judeu revolucionário em um líder espiritual pacífico, sem interesse em qualquer assunto terreno. 

Eis o intuito do autor: expôr as reivindicações dos evangelhos ao calor da análise histórica, limpando seus floreios literários e teológicos. Colocar Jesus firme dentro do contexto social, religiosa e político da época em que viveu. Assim, sua biografia se escreve por si só. Mas, na leitura, talvez não seja o Jesus esperado, nem o reconhecido hoje. Apenas o único que podemos acessar por meios históricos. Como Aslan escreve "todo o resto é uma questão de fé" (24). Indico! Resenha da minha segunda leitura. 

"A priori, é um milagre que saibamos algo, sobre o homem chamado Jesus de Nazaré. O pregador itinerante, vagando de cidade em cidade, clamando sobre o fim do mundo e sendo seguido por um bando de maltrapilhos, era uma visão comum no tempo de Jesus, uma espécie de caricatura entre a elite romana" (16)

"Os evangelhos não são relatos de testemunhas oculares das palavras e atos de Jesus. Eles são testemunhos de fé compostos por comunidades de fé e escritos muitos anos depois dos acontecimentos que o descrevem. Simplificando, os evangelhos nos dizem sobre Jesus, o Cristo, e não sobre Jesus, o homem".