quinta-feira, 19 de março de 2015

Diário literário

16/2015 - Conheci Charles Bukowski por causa de uma página no Facebook que agora não lembro o nome. Ficava meio chocada com alguns poemas e em outros achava muita graça. No fundo sempre pensava "fora todo esse falso moralismo que há em nós, é bem por aí". Pesquisei um pouco sobre ele e achei uma promoção do livro "O amor é um cão dos diabos" (Edição 2014). O título não faz parte de um enredo com início, meio e fim, mas é o nome de um de seus poemas. O livro é dividido em quatro partes (1 - Mais uma criatura atordoada pelo amor; 2 - eu, e aquela velha: aflição; 3 - Scarlet e 4 - melodias populares no que restou de sua mente) e contém vários escritos que não possuem a preocupação com estrutura poética.


Falemos um pouco sobre o "melhor poeta da América" segundo Jean-Paul Sartre de forma bem resumida. Nasceu na Alemanha em 1920, era filho de um soldado norte-americano com uma jovem alemã e foi levado aos EUA aos três anos pelos pais. Morou cinquenta anos em Los Angeles e conheceu de perto a pobreza e as camadas sociais mais marginalizadas da sociedade. Leia-se prostitutas, bêbados, drogados e derivados. Escrever e se embriagar, algo presente em seus escritos. Vomitar e ressaca, acrescente também. Ele chega a citar suas "cagadas" e as baratas, sem contar os gatos do cafetão do melhor puteiro do bairro. Suas paixões: mulheres (sim, no plural), bebida (ele dedica um poema para cerveja) e corrida de cavalos. Logo percebe-se que seus poemas são de caráter auto-biográfico, seu alter ego. Morreu de pneumonia aos 73 anos em 1994 decorrente de um tratamento contra a leucemia. 

Trechos que me chamaram a atenção (apenas alguns registrados, são vários):

Na primeira parte temos poemas sobre suas aventuras sexuais. Os títulos têm nomes, atribuições físicas, ele e a tal "cagada":

"(...) continuo vivo/e tenho a capacidade de expelir/sobras do meu corpo./e poemas./e enquanto isso acontecer/serei capaz de lidar com/traição/solidão/unhas encravadas/gonorreia/e o boletim econômico do/caderno de finanças.  (...) eu sei como amar. Título? "eu"

Sobre a ida e vindas de várias mulheres (e ele considerava uma baita sorte, sendo velho e feio):

"(...) você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho". Título: "outra cama".

"(...) as relações humanas simplesmente não são duráveis" Título: "a furadeira".

Na segunda parte os mesmos temas com bons conselhos:

"(...) aprender a vencer é difícil/qualquer frouxo pode ser um bom perdedor (...) e se você tem a capacidade de amar/ame primeiro a si mesmo". Título: "como ser um grande escritor". 

Ele também explica o porquê sem nome consta na lista telefônica (inclusive fato que o aproximou de várias mulheres). Ele recebia elogios, ouvia sobre solidão e vários convites. Era o poeta amado das prostitutas. 

Terceira parte: Scarlet. O poeta se apegou, e sofreu. A ruiva de cabelos compridos. 

"(...) estou tão acostumado à melancolia que a cumprimento como a uma velha amiga". 

"(...) circulo pelas ruas/a um passo de chorar/envergonhado de meu sentimentalismo e/possível amor". Título: "cometi um erro". 

Na última parte: melodias populares no que restou de sua mente lemos o poema título do livro. Temos também "soldado raso": 

"(...) a compaixão se revela em estranhos lugares" e diversos. 

Registrei aqui apenas alguns poemas que sublinhei. Não sei o motivo da colocação dos poemas dentro de cada uma das partes. Nota-se apenas que assim como Frida Khalo, descreveu o que viveu. Não indico a leitura às pessoas moralistas. 

Para quem tem imaginação fértil, você imagina as cenas. Você imagina o local com as garrafas vazias, cheio de cigarros espalhados pelo chão e até seu temperamento diante do comportamento das mulheres. Acredito que não tinha essa "pegada" toda, mas como consta em muitos poemas, estava acessível não só sexualmente, mas as escutava. Não as julgava. Isso por sim só, já é poesia pura.