sexta-feira, 6 de março de 2015

A penitência



- Padre, já fui na psicóloga em busca de explicação, no psiquiatra em busca de medicação e no abraço amigo em busca de compreensão. Estou aqui agora em busca de absolvição.

- Sim minha filha, pode falar.

- Fiz tudo que um ser humano faz, mas fiz tudo em excesso. Cometi todos os pecados capitais, mas em dobro. Vivi como se não houvesse amanhã, mas houve. Repeli pessoas amadas, magoei e afastei amores verdadeiros. Atos não tão repulsivos, mas repetitivos e quanto maior o afeto que possuía, mas eu feria. Perdi pessoas padre. Me perdi.

- Você sabe por que fez isso minha filha?

- Hoje sei padre. Mas, não alivia. É como lamber um leite já absorvido por um tapete persa.

- Bom gosto, o seu tapete.

- Padre, é sério.

- Filha, quero saber do seu hoje. Tirando o tapete persa, como você está?

- Me sinto bem, bem de verdade. Só quando teimo em lamber o tapete que congelo no tempo.

- Filha, vou te passar um pai-nosso e uma ave-maria.

- Padre, como assim só um pai-nosso e uma ave-maria? Você escutou os ditos pecados que cometi? Não está pequena essa penitência?

- Filha, sua vida já foi uma penitência. Sinta-se absolvida. Está na hora de lavar esse tapete persa, talvez quem sabe um tapete novo!?