quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Diário literário janeiro/2015 Parte V

Já falei anteriormente da minha aversão injustificável pelo escritor Paulo Coelho (recebido na Academia Brasileira de Letras em 2002). Li há vários anos atrás os livros Diário de um mago (1987) e O alquimista (1988), obra mais conhecida mundialmente. Mas, não existia nenhum motivo particular para odiá-lo, talvez a "opinião coletiva". Antes de mais nada, o cara tem a seu favor o número de vendas, mundialmente falando. Cito isso, pois li numa opinião virtual uma teoria para o grande mercado consumidor (brasileiro), onde a causa seria a sociedade atual, analfabeta literária e movida por programas televisivos. Mesmo elogiado por Umberto Eco, ele é ferozmente criticado. 

Não o defendo, até concordo com algumas críticas. No livro Os doze pecados de Paulo Coelho de Eloésio, concordo com alguns pecados (erros gramaticais, superficialidade, filosofia de botequim, inconsistência, principalmente quando o tema é Cristianismo). O Observatório Da Imprensa também deixou sua opinião sobre seus erros gramaticais. Paulo apenas afirma que Deus pode se manifestar na ausência de um "ç". Interessante que em uma entrevista em 2008 em São Paulo, o falecido Saramago (que amo!) falou "Não precisei ler Paulo Coelho para ficar mais sereno. Uma boa doença vale por toda obra do Paulo Coelho". Foi o suficiente para toda distorção e alfinetadas no autor. Saramago, recém recuperado na época de uma enfermidade que o impediu de vir ao Brasil lançar sua obra "A viagem do Elefante" na verdade criticou aqueles que buscam serenidade pela obra de Paulo Coelho. 

Lendo mais um pouco, vi que a maioria das demonizações do autor partem de sites cristãos, alguns apoiadas pela obra de Fernando Morais sobre Paulo Coelho (O mago). Fernando Morais cita um curso de Satanismo no início dos anos 70 ("Teatro e Educação em Mato Grosso) onde usava alunos como cobaias sem o consentimento dos mesmos, a indução sem sucesso de uma namorada à tentativa de suicídio, bate-papo com o capiroto, drogas e afins. Internado três vezes na casa de Saúde Dr. Eiras, passou por tratamento com eletrochoques e foi diagnosticado com "Síndrome de Estocolmo". O cara tem "o" passado.

Enfim, toda essa introdução para resenhar os três livros que fazem parte da trilogia "Em sete dias..." que, por causa do segundo na série, acabei me forçando a ler os outros dois. Confesso que meu foco por Paulo Coelho já passou, pois um dos pecados que concordo é a repetição de temas. Não tenho interesse em ler "Adultério" (2013) sua mais recente obra lançada. Não faço mais parte dos que criticam (e sua grande maioria nunca leu nada dele) mas também não faço parte da legião de fãs. Apenas li.






08/2015 -  Da trilogia, Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei (1994) é o primeiro. Vale ressaltar que os três encontram-se disponíveis em PDF. Não é obrigatório ler na sequência, eu mesmo descobri o primeiro e o último, por causa do segundo. Após a leitura (apenas 83 páginas), fiquei meio com cara de paisagem e até me sentido "contente" por não ter desistido. Poucas pessoas gostaram da obra. (Abrindo parênteses, a sequência trata de amor-morte-poder e sempre o lance de ter acontecido em uma semana, o suficiente para mudar nossa vida). Pilar consegue ser mais problemática que eu (será identificação!? Freud explica, não o sendo, apenas opino sobre a obra). Acredito que o amor só pode ser o do padre, que abre mão de certo dom em nome do amor por Pilar. Talvez Pilar seja a que precisa aceitar receber o amor. Uma mulher desconfiada, cheia de conflitos, impaciente e pena que não perdeu o moço (que maldade da minha parte). Devia ter começado escrevendo que eles eram amigos de infância e patatipatatá, mas foi mau. Me empolguei. Agora ... na boa ... que final mais sem noção da parte de Paulo Coelho. Que? Como assim? Hã? Tipo: ai que saco, cansei, vou terminar de qualquer jeito. Sem ofensas, desnecessário. Vou deixar um link de um resumo, pois não desejo que minha opinião castre ninguém de ler a obra. Apenas meu ponto de vista. Frases:

"Esperar dói. Esquecer dói. Mas não saber que decisão tomar é o pior dos sofrimentos"

"Mas você tem que estar por inteiro no lugar que escolher"

http://www.resumosetrabalhos.com.br/a-orlas-do-rio-pedra-sentei-me-e-chorei-paulo-coelho_1.html



07/2015 -  Verônika decide morrer (1998) foi traduzido em 69 línguas. Tem a versão cinematográfica que comecei a assistir depois da leitura, mas parei depois de 07 (sete) minutos. Hoje não perco meu tempo, não sou crítica cinematográfica, logo não preciso ficar apontando divergências entre obra e filme. "Não! Verônika não tinha depressão como no filme". Verônika tenta o suicídio por uma causa inespecífica para uma moça bonita, jovem, inteligente e que tem uma compreensão bem lúcida do mundo ao seu redor. Pode parecer melancolia, depressão, bobagem, mas o autor na obra deixa bem claro que não é depressão. Enquanto espera a morte, ela lê um jornal com a pergunta onde fica a Eslovênia, indignada ela escreve um texto sobre o tema para se distrair. Esse fato chamou a atenção do autor e por ter sido também internado na juventude, resolveu escrever sobre o tema. Verônika acaba em um sanatório chamado Villete, onde vai passar a espera da sua morte (recebe a notícia que seu coração ficou enfraquecido e não vai aguentar mais que uma semana) com os verdadeiros loucos. Não tão loucos assim. Temos o caso de Zedka (depressão) que participava de experimentos com alta dosagem de insulina e confesso que não sei do embasamento científico para tal e se no sanatório realmente havia essa prática. Escrevo isso, pois o diretor do sanatório era o pai de uma moça também chamada Verônika, amiga de Paulo Coelho, que acabou contando-lhe a história. Mari (síndrome do pânico e dotada de uma grande inteligência) e de Eduardo (esquizofrênico), que recebia tratamento com eletrochoques para perder parte da memória recente e voltar para o mundo particular dele. Algumas informações fornecidas e a história dos personagens te prende ao livro (lido em dois dias) e achei o final muito bom. Mesmo sem saber se o lance do vitriolo é verdadeiro. Dos três, o que eu mais gostei. Indico. (Link do livro em PDF).

Frases:

"Que o ser humano só se dá ao luxo de ser louco quando tem condições para isso".

"Quanto mais felizes as pessoas podem ser, mais infelizes ficam". 

http://www.bookbrasil.com.br/books/overonika.pdf




09/2015 - Terceiro e último, O demônio e a Srta. Prym (2000) tem lá suas partes interessantes. O final também ficou meio "toma lá, dá cá", mas a mensagem principal é o poder. Poder de escolha. Na cidade de Viscos aparece um estrangeiro com uma proposta ilícita. A personagem principal é Chantal (Srta Prym) e em troca de barra de ouros, o estrangeiro propõe que alguém deve morrer na cidade. Chantal que acredita na bondade do próximo e movida por crenças de Ahab acredita em sua cidade. Porém, até ela fica em dúvida sobre ela. Para o estrangeiro, que seguindo todas as regras e normas espirituais e humanas sofreu uma grande perda, o homem só é bom por medo do castigo. Com a influência de lendas celtas e protestantes e de um santo católico chamado São Savin (também citado na primeira obra da trilogia), ainda que tenhamos o bem e o mal em nós, o exercício é a escolha e o controle. Ninguém é bom senão o Pai, versículo de Lucas que foi utilizado, assim como o poema bíblico de Jó para justificar a escolha do povoado de Viscos. Para fazer o mal, legitimamos até com o ensinamento do bem. Assim como A Ceia de Leonardo da Vinci, ao usar o mesmo modelo para Jesus e Judas, o bem e o mal podem ter a mesma face. Achei muito válida a resenha do link abaixo. Mais completa.

http://www.moisesneto.com.br/estudo21.html