Primeiramente, o filme é uma contradição em
relação ao livro. Por se tratar de transtornos de personalidades, faltou
fidelidade até mesmo para a compreensão do mundo de Pat (bipolar) e Tiffany (depressão).
De forma resumida, Pat é um professor de História que recebe alta do hospital
psiquiátrico e retorna ao lar sem ter memórias recentes, principalmente em
relação à sua ex-esposa. De forma obsessiva, tudo que ele faz em relação a
manter sua cura é para terminar o tempo afastado, só que ele não sabe que o
mesmo tem uma ordem judicial para se manter distante dela. É nesse contexto que
aparece Tiffany, tão obsessiva quanto Pat. Suas histórias de vida apontam que
os distúrbios passaram a fazer parte de suas vidas a partir de eventos
traumáticos (Pat – adultério da esposa e Tiffany – morte do marido que ela
assumiu a culpa). O papel da mãe de Pat e de seu psiquiatra é muito
interessante, principalmente para quem precisa do tratamento dos transtornos.
Já em relação ao pai, o que se percebe é a indiferença em relação a Pat, a
obsessão pelo futebol e a ira impulsiva que ele não controla, o que por si só
pode tornar o distúrbio uma possibilidade hereditária. Não sou da área. A amizade
de ambos é a amizade mais bizarra que eu vi de forma literária. Já encontrei
amor estranho que deu certo, por exemplo, "fulano" e Blimunda em
Memorial de Convento de José Saramago. Pat e Tiffany não é o tipo de casal como
Eduardo e Mônica, "fulano" e Blimunda ou Sherek e Fiona... O esforço
de Pat, ainda que o objetivo torne-o compulsivo é muito interessante, ao levar
em conta que a maioria das pessoas ditas sadias desiste cedo demais (seja dos objetivos ou
do tratamento). Finalizo dizendo que o livro é o romance do século XXI de pessoas cada vez mais medicadas e diagnosticadas, o que não quer dizer que o
livro em si é não seja um lindo relato que apesar das limitações psiquiátricas, todos
podem alcançar seus objetivos.