terça-feira, 17 de junho de 2014

Romance do século XXI - aos diagnosticados e medicados


Primeiramente, o filme é uma contradição em relação ao livro. Por se tratar de transtornos de personalidades, faltou fidelidade até mesmo para a compreensão do mundo de Pat (bipolar) e Tiffany (depressão). De forma resumida, Pat é um professor de História que recebe alta do hospital psiquiátrico e retorna ao lar sem ter memórias recentes, principalmente em relação à sua ex-esposa. De forma obsessiva, tudo que ele faz em relação a manter sua cura é para terminar o tempo afastado, só que ele não sabe que o mesmo tem uma ordem judicial para se manter distante dela. É nesse contexto que aparece Tiffany, tão obsessiva quanto Pat. Suas histórias de vida apontam que os distúrbios passaram a fazer parte de suas vidas a partir de eventos traumáticos (Pat – adultério da esposa e Tiffany – morte do marido que ela assumiu a culpa). O papel da mãe de Pat e de seu psiquiatra é muito interessante, principalmente para quem precisa do tratamento dos transtornos. Já em relação ao pai, o que se percebe é a indiferença em relação a Pat, a obsessão pelo futebol e a ira impulsiva que ele não controla, o que por si só pode tornar o distúrbio uma possibilidade hereditária. Não sou da área. A amizade de ambos é a amizade mais bizarra que eu vi de forma literária. Já encontrei amor estranho que deu certo, por exemplo, "fulano" e Blimunda em Memorial de Convento de José Saramago. Pat e Tiffany não é o tipo de casal como Eduardo e Mônica, "fulano" e Blimunda ou Sherek e Fiona... O esforço de Pat, ainda que o objetivo torne-o compulsivo é muito interessante, ao levar em conta que a maioria das pessoas ditas sadias desiste cedo demais (seja dos objetivos ou do tratamento). Finalizo dizendo que o livro é o romance do século XXI de pessoas cada vez mais medicadas e diagnosticadas, o que não quer dizer que o livro em si é não seja um lindo relato que apesar das limitações psiquiátricas, todos podem alcançar seus objetivos.