A intenção do autor é analisar frases conhecidas e apresentar de forma
cronológica o contexto histórico no qual a frase foi proferida. Algumas frases e resumos:
O primeiro
capítulo é sobre a frase "Conhece-te a ti mesmo" com dúvidas sobre
quem de fato a pronunciou (Quílon - estadista espartano, Tales de Mileto - um
dos Sete Sábios do Oriente, Sólon - estadistas também presente na visita dos
Sete Sábios do Oriente ou Femónoe, a sacerdotisa do Oráculo de Delfos). Quem
esculpiu na entrada do Oráculo de Delfos foi Quílon, só que a pedido de
Femónoe, ainda assim a tendência aponta para Tales de Mileto, enfim... sua
filosofia era que o conhecimento próprio nos traria soluções. Não fiz uma
pesquisa profunda sobre essa questão.
"Sabes como ganhar uma batalha, não sabes como explorar uma
vitória". Por mais que eu cite essa frase em situações onde as pessoas
sabem mais viver em tempos de guerras e não nos tempos de paz, o contexto
histórico é um pouco diferente. Dita por Maharbal para Aníbal, general
cartaginês, que não quis invadir Roma na batalha de Canas.
"A sorte está lançada"
dita por Julio César antes de atravessar o Rubicão com suas tropas, porém a
frase é do poeta Menandro. O autor não só explicou a frase como fez uma mini
biografia de César.
"Errar é humano (e permanecer no erro é próprio dos imbecis)" dita
por Marco Túlio Cícero, mas a frase é de Demóstenes contra o rei da Macedônia,
Filipe II. A frase também foi elaborada por São Jerônimo "Porque é tão
humano equivocarmo-nos como inteligente é admitir o erro". Da filosofia
grega, para o latim e após para a Idade Média. Sensacional.
"Carpe diem" de Horácio, tão mal interpretada em um certo período
histórico até os dias de hoje. Após a morte de Julio César quando Octávio
assume Roma como imperador, Roma estava tipo nós na operação tartaruga da PM,
temerosos. O povo romano queria voltar a respirar em paz. "Aproveita o dia
de hoje e não confies no amanhã"... a tradução acertada pode ser
compreendida como agarre, colha, ... afinal Horácio antes de ser patrocinado
por Caio Cilnio Mecenas (mecenato!) passou por grandes dificuldades. Disse ele
certa vez: "A pobreza me levou à poesia". Assim fica mais fácil
entender o "Aproveita o presente!" (tradução para o português).
"Lavo as minhas mãos" de Pôncio Pilatos. Me amarrei na versão
histórica que não culpa apenas os judeus pela morte de Cristo e sim
responsabiliza o próprio autor da frase. O esperto acalmou o povo e o seu
superior, danadinho.
"O dinheiro não tem cheiro" quando o general
Vespasiano (governando Roma) impõe tributo sobre a urina para curtir um tipo de
pele e seu filho não gosta.
"Com este símbolo vencerá" Constantino,
essa nem precisa explicar, só sinalizar para o cristianismo político econômico que temos a partir de então.
"Dividir para governar" Luís XI (1423-1483). Tão atual! O cidadão
tanto fez, que seu filho Carlos recebeu como herança uma França unida e
ampliada, na qual o poder do rei aumentara de forma considerável.
"Os fins justificam os meios" Nicolau Maquiavel (1469-1527) frase do
livro "O Príncipe" super conhecida. Obra dedicada ao poderoso
Lourenço de Médicis e provavelmente o modelo de príncipe foi César Bórgia. O
conselho de Maquiavel de utilizar a violência como meio para obter um fim tinha
o objetivo de criar um Estado seguro num tempo inseguro. Tão atual!
"Aqui estou, de outra maneira não posso" Martinho Lutero
(1483-1546). Bom, segundo o autor a frase é lenda, assim como não está provado
que ele tenha cravado na porta da Igreja de Wittenberg o texto com as suas
teses (ele teria apenas distribuído o texto). Na hora que a Igreja pediu que
ele se retratasse, ele negou e disse ao fim do discurso "Que Deus me
ajude!" e não a frase do título. O autor fez uma mini biografia de Lutero
e da Reforma Protestante.
"No meu Império nunca se põe o sol" Carlos V (1500-1558). Hoje essa
frase poderia ser usada em relação aos serviços domésticos ou quando na empresa
o trabalho não acaba nunca. No contexto histórico, Carlos foi herdeiro do trono
da Espanha, Países Baixos, da Flandres, da Áustria, da Boêmia e de extensas
zonas da Itália. Assim como territórios conquistados por Cristovão Colombo.
Além de proteger fronteiras, manter cidades, ainda teve que lhe dar com a
Reforma Protestante, sendo ele extremamente católico.
"O conhecimento é poder" Francis Bacon (1561-1626) na obra
Meditationes Sacrae de 1597. O sentido era "Pois a ciência é, em si mesmo,
poder". Na segunda edição, publicado em inglês "O conhecimento é, em
si mesmo, poder". Em 1620 " a ciência do homem constituiu a medida do
seu poder". Logo, o sentido da frase atualmente parece ser de conhecimento
que resulta em poder. Bom, é isso ... não sei o que fizeram com a ciência.
"Penso, logo existo". René Descartes (1596-1650). A frase sempre parece
solta, pois quase ninguém leva em conta que o autor da mesma transformou no
método da sua ciência e no fundamento de todo o conhecimento: a dúvida.
"O Estado sou eu!" Luís XIV (1638-1715) conhecido com o Rei Sol. Sua marca
registrada, egocentrismo e a fé inabalável de ser um eleito de Deus. Eu gosto
desse personagem histórico, uma figura. Com a Revolução Francesa veio a
resposta que soou por toda a França "O Estado somos nós.
"Laissez faire!" Pierre de Boisguilbert (1646-1714) Utilizada pelos
partidários (fisiocratas) da instauração de um modelo alternativo ao
mercantilismo. Resumindo: para combater a intervenção estatal do período
absolutista, "Deixar a liberdade e a natureza trabalharem". Depois em
1776, usada por Adam Smith, "laissez faire, laissez passer", a mão
invisível que organiza entre os agentes econômicos sem restrições
governamentais. Precursor do sistema econômico liberal clássico (neoliberalismo
Margareth Tatcher e outros).
"O homem nasce livre, porém, em todos os lados está acorrentado"
Jean-Jacques Rousseau (1712-1788). Tornou-se subitamente famoso aos 37 anos
quando escreveu um texto para um concurso proposto pela Academia de Dijon
"Em que medida a arte e a ciência contribuíram para a melhoria dos
costumes?" Rosseau detona afirmando que não contribuiu pra nada, muito
pelo contrário, serviu apenas para mascarar a injustiça da sociedade. Pense!A
Academia abriu um segundo concurso "Tipo como havia surgido a desigualdade
e etc?" De forma resumida, o homem ao marcar território para propriedade
deu início à opressão e desigualdade. Respostas que podem ser lidas no seu
livro O Contrato Social que inicia com a frase tema.
"Tempo é dinheiro" Benjamin Franklin (1706-1790)Sua história é bem
conhecida, relacionada com a Independência dos Estados Unidos e elaboração do
projeto de Declaração de Independência de Thomas Jefferson. Na mais pura
tradição puritana e condição de americano prático, ligou atividade e a fé em
Deus na fórmula otimista: "Ajuda-te a ti mesmo, e Deus te ajudará!"
Na sua obra "Conselhos para um jovem comerciante" o primeiro conselho
rezava a frase tema.
"Se não tem pão, comam brioches" Maria Antonieta (1755-1793). O mais
provável é que ela não tenha dito tais palavras no período da Revolução
Francesa. Rousseau, escritor de sucesso na época escreveu suas Confissões e
alguém provavelmente extraiu a frase e relacionou com Antonieta. Na menção do
filosofo ele nem cita nome. Tal princesa falou quando viu o povo faminto e
alguns opinam por Maria Teresa de Espanha (1638-1683), a esposa de Luís XIV.
Quando Rousseau escreveu, Antonieta ainda era uma menina e vivia na Áustria.
"A revolução devora os seus filhos" (Pierre Victurnien Vergniaud -
1753-1793). De revolucionário (Revolução Francesa) à decapitação no período do
Terror de Robespierre. (Acho que vi isso na Revolução Russa, eu só acho). A
Democracia também "assim como Saturno tem devorado seus filhos".
"Quarenta séculos vos contemplam" Napoleão Bonaparte 1769-1821.
Supostamente disse aos seus soldados na campanha militar no Cairo/Egito diante
das pirâmides.
"A guerra é uma mera continuação da política por outros meios" - Carl von
Clausewitz (1780-1831). Do seu livro "Da guerra" publicado pela
esposa após sua morte. Gostei mais da frase "O saber deve converter-se em
capacidade.
"A propriedade é um roubo" - Pierre-Joseph Proudhon
(1809-1865)Provavelmente não se opunha à propriedade privada em si, mas os
lucros obtidos que não tivessem sido obtidos com o próprio trabalho.
"Clara" distinção entre possessão e propriedade. Desenvolvimento
individual, livre de qualquer tutela.
"Proletários de todos os países, uni-vos!" Karl Marx (1818-1883). Gostei
muito do texto sobre o autor da frase, pois não foi o extremista que ataca e
muito menos o utópico que idolatra Karl Marx. Muito interessante.
"Falem baixo e andem com um grande bastão" - Theodore Roosevelt
(1858-1919). Ainda que o ursinho Ted tenha recebido o nome por causa de
Roosevelt, a frase que na verdade é um provérbio africano demonstra uma
política utilizada até hoje. Na época, a política externa ficou conhecida como
big stick, que resumindo é "fingir ser amigo da democracia e ajudar os
países a mantê-la e descer o cacete em países que atrapalharem os projetos dos
EUA. Diferente da Doutrina Monroe que se resumia em não mexam conosco que não
mexeremos com vocês. A política de Roosevelt vai mais de encontro com o Destino
Manifesto.
"A confiança é boa, mas o controle é melhor." Vladimir Ilich Lenin
(1870-1924)- Lenin nunca escreveu explicitamente essa ideia, contudo nas suas
obras encontra-se frase parecida. Outra frase também muito citada era o velho
provérbio russo "confia, mas verifica". Seja como for, aconteceram
fatos que distorceram o princípio socialista francês Louis Blanc "Cada um
de acordo com as suas capacidades, cada um de acordo com as suas necessidades.
"Deus não joga dados". Albert Einstein 1879-1955 Frase que escreveu para
Max Born, um dos representantes da mecânica quântica. Tipo a ideia do acaso
(quântica) não é compatível com a ideia de Spinoza de previsibilidade de todos
os acontecimentos naturais, ideia partilhada por Einstein. O que chamamos de
acaso é apenas falta de conhecimento sobre as causas.
Quereis a guerra total? Joseph Goebbels (1897-1945). Pena que não foi
abordado a outra frase "diga uma mentira mil vezes e se tornará
verdade", dita pelo ministro de propaganda de Hitler. Mas, o contexto é o
mesmo.
O inferno são os outros. Jean-Paul Sartre (1905-1980) Após a morte, no
inferno, com o estorvo da existência dos outros, não podem mais morrer e nem
matar, afinal todos já estão mortos. O tal inferno não era de enxofre e sim da
convivência com o outro. O interessante é que no final da peça teatral "A
porta fechada" escrita em 1944, os personagens decidem não irem para a
liberdade e permanecem na existência do inferno.Do outro. Mais ou menos isso,
eu acho.
A tentativa de criar o céu na terra produziu sempre o inferno. Karl
Raimund Popper (1902-1994). Crítica ao comunismo e fascismo.
Eu sou berlinense. John F. Kennedy (1917-1963). Tipicamente campanha
eleitoral que se aproveita do período histórico, no caso, o bloqueio de Berlim
ocidental por parte da União Soviética.
Para os apaixonados em História, indico!