Procrastinação é uma palavra que me persegue em atos, quer
dizer, na ausência deles. Não creio que seja apenas comigo, ou obrigatoriamente
com quem tenha diagnóstico de TDAH. Só é mais potencializado ou há uma predisposição.
Às vezes eu penso que procrastinação é uma sabotagem, um autoflagelo ou um
vício na culpa. Sim, culpa. A educação de uma criança é baseada na culpa, a
religião também, tudo envolve culpa, e alguém tem que manter vivo esse vício.
Claro, muitos hão de discordar. É melhor defender o vício, do que negá-lo.Também acho que minha realidade é uma, logo meu ponto de vista também.
Não
é drama, nunca me permitiram isso, não aprendi a me permitir. Não concordo com
fóruns e discussões onde o discurso é o enredo triste, a narrativa soturna, que
não conseguiu isso, nunca terminei aquilo, nunca ... nunca... nunca. E isso
virou hino que anda rotulando a muitos. Virou regra, padrão, e quem lê um livro
inteiro, finaliza uma faculdade, se sobressai na vida profissional, deve estar
com o diagnóstico errado. Lembrando que 75% do que li até agora foram de
pessoas sem diagnóstico fechado, apenas baseado em sintomas e fracassos.
Aprendi
a ser andorinha sozinha, pois no meu verão quem luta é eu. Acho válida toda
forma de amor, toda manifestação de luta, mas sem apresentar alternativas, não
concordo. É entregar ao outro, o poder de fazer o manual da minha vida. Se meu
exemplo de superação não serve, saio da multidão e me torno exceção no meu
panteão solitário.
Sim, me adaptando ao mundo dos “diferentes”, pois o mundo
não para e não se adapta a mim. Enquanto aos “iguais”, experiências me
mostraram que são intolerantes e não tão dispostos a lutar contra vícios e
hábitos (ainda possuo 95% deles, acredite, 5% faz um diferença do caramba) e
aceitar histórias de conquistas, pois isso seria o mesmo que dizer: isso é
possível, não se esconda tanto na falta de possibilidade que essa sociedade
desigual te impõe, ou não falta de recurso, ou na falta de remédio.
Enquanto existir
alguém pra culpar, e uma história triste a manter, existirá uma necessidade
nova surgindo que vai tratar os sintomas e nunca a causa. Também fui e sou
judiada por um sistema e vários itens que me deixam em desvantagem, mas olha
só, eu tenho boas histórias pra contar. Meu tratamento não é só meltifenidato. Estou
treinando meu foco, enfrentando o tédio da rotina, as emoções não tão ritmadas,
a impulsividade não convidada, quero ser justa pra toda e qualquer conquista
coletiva que houver, inclusive manter as minhas, senão vai dar na mesma. Eu seria a desigualdade, a
ditadura da minoria.
Eis aí minha Hidra de Lerna, vencendo uma cabeça por dia,
por ano, por década, até o dia que conseguirei chegar ao seu coração.Não esquenta com a minha opinião, eu chamo o TDAH assim, e na mitologia o foco não era na Hidra e sim no cara. Pra mim, pode ser uma Hidra de Lerna, pra você uma Górgona, onde você precisa de algo para não virar pedra, porque se pedra já está, desconheço na mitologia algo que modifique isso. Beijos distraídos, sem foco.