sábado, 24 de agosto de 2013

Eu até gosto de ler, mas não leio todo dia. (diário de uma leitora parte I)



Eu até gosto de ler, mas não leio todo dia. (diário de uma leitora parte I)


Confesso! Gosto de ler. A questão é que gosto de ler mais do que você, só isso. Por mais que pareça que gosto de ler demais, passo dias sem ler. Dos poucos detalhes da minha infância que me recordo, um deles é o primeiro livro que li. Sem incentivo, sem metas na escola – ainda que tenha me surpreendido com o prêmio da Biblioteca da E.C.409 Norte que recebi como a melhor leitora na 5ª série –, sem ser leitura obrigatória. Sempre tive biblioteca em casa, fui até ela por conta própria. Abro parênteses, tenho irmãs que também gostam de ler, não no meu ritmo, mas também gostam. A leitura de livros é uma característica mais acentuada nas mulheres da família.



Aonde vou, com exceção da academia, levo um livro. Sem obrigação de lê-lo. Gosto de emprestar, ainda que tenha recebido muitos calotes literários em minha jornada. Sempre tive passos voluntários às Bibliotecas, sem contar inúmeros cadastros, visitas em livrarias sem compromisso e um detalhe: não é meu forte livro com imagens. Sempre treinei a imaginação enquanto leio e isso ano passado foi decisivo em uma recuperação neurológica quando uma síndrome que me foi acometida. 



Nunca tentei convencer ninguém pelo gosto da leitura, nem mesmo meu filho. Sempre que me pedia um livro, eu comprava. Assim também para sobrinhos e outros amigos. Nunca procurei um relacionamento que goste de livros, mas confesso, tive relacionamentos que não compreendiam esse gosto literário. Nunca encontrei alguém que lesse tanto quanto eu, pois eu leio muito, tipo 60 livros por ano e 10 livros ao mesmo tempo. Tenho um ritmo próprio, um livro no ônibus na ida, outro na volta e um capítulo dos outros antes de dormir. Não leio toda noite, só se tiver vontade. Sinto-me constrangida quando alguém me apresenta dizendo que leio muito, parece que sou de outro mundo. 



Quando tive esgotamento mental nesse ano, culparam a leitura. Foi-me proibido ler antes de dormir, larguei até de dormir com os gatos e no fim, não tinha nada a ver o estado físico com as letras e nem com os pelos felinos. Não durmo mais com os gatos, mas voltei a ler antes de dormir. Sim, sou TDAH! Leio páginas diversas vezes, porque percebo que perco o foco durante a leitura. Tenho livros que não lembro de que se trata, ainda mais antes do tratamento com meltifenidato (2004). Vejo pessoas citando acontecimentos e percebo que passou batido. Vou ao livro e dou uma espiada. Costumo ler muitas resenhas antes de ler, e não tenho problemas em saber o final. 



Eu adoro livros que narram fatos ausentes na História oficial e nos livros didáticos (exemplos e indicações: “Escândalos Reais” de Michael Farquhar e “As grandes amantes da História” de Michael Kent). Disseram-me: cuidado! sobre alguns livros e mesmo assim li: “O livro capa preta de São Cipriano” e “Ele veio para libertar os cativos” de Rebbeca Brown. Até hoje não sei o perigo de lê-los. Li livros com temas polêmicos que mexem com a nossa comodidade religiosa “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e “Caim” ambos de José Saramago (do autor já li seis livros), “Eunucos pelo reino de Deus” de Uta Ranke Heinemann, “A Bíblia nas suas origens”, “A ética protestante e o espírito do capitalismo” de Max Weber, “O desaparecimento de Deus” de Richard Elliot Friedman, “As prostitutas na Bíblia” de Jonathan Kirsch e “Sexualidade e erotismo na Bíblia” de Santos Benetti. 



Confesso que os livros fazem muito mais sentido quando casa com o que já vivi e senti. Têm os livros manuais, espirituais, históricos, mas eu sei na epiderme sobre a sensação de Sabrina em “A insustentável leveza do ser” de Milan Kundera, assim como também sei sobre Teresa em “o sono compartilhado é o corpo delito do amor”. Sei de Elizabeth Gilbert em “Comer, rezar e amar” quando desesperada sem saber o que fazer, sente dentro de si uma voz dizendo “vá dormir”, pois era a única coisa a se fazer no momento. 




Sei da ansiedade e percepção de desajustamento na sociedade de Brigdet Jones (livro de Helen Fielding com 320 páginas que devorei em poucas horas) e da sua distração no cotidiano. Sei da busca terapêutica de Mercedes (Divã – Marta Medeiros) que encontra suas respostas nas suas próprias perguntas nas sessões terapêuticas. Assim como ela, sei bem o que é sentir saudades de momentos e de quem era naqueles momentos e saber que isso não significa que sinto saudades da pessoa envolvida nisso.  

(continua)