terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Diário Literário 2013 ...

Hoje findei meu primeiro livro do ano, Divã - Martha Medeiros. Depois de 2010 de uma angústia existencial que tive e parecia ser o inverno mais longo da minha vida, nunca mais li nada da autora. Na época li livros como Don-Stop e esse livro Divã nem é lançamento. Já havia assistido o filme e não leio o livro depois do filme, me frustra.

Parece (se eu acreditasse nisso, talvez até passe a acreditar...) aquelas leituras necessárias, tal qual foi na época. Estava separando alguns livros para presentear (pois quero muito me desprender de livros que acumulo e não leio - uma baita tentativa de libertação literária) e ao separar o livro citado abri uma página e CARALHO: o livro tratava da minha personalidade, mesmo que não trate da minha pessoa. 

E li com fome, de quem separa parágrafos, linhas, frases e palavras que descrevam e tragam à tona sensações do passado e presente. Céus!? Foi minha expressão. Que estranho. Estranho. Estranho pacas. 

Não vou dar o livro, não agora,... sublinhei todo e o máximo que consegui foi emprestar para uma colega de trabalho com a observação que não demore (não costumo fazer isso). Mas, segue aqui uns pequenos trechos para que eu, apenas eu ou a quem interessar, ler e enfrentar toda batalha interna que eu precise lutar. 

"Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu hermafroditismo cerebral. Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos" (página 09)

"Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua, ... São muitas mulheres numa só, e alguns homens também." (página 11)

"Se ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que quero fugir. Não estou disposta a inventar dilemas que não existem, mas quero reencontrar aqueles que existem e que foram abafados por esta minha vida correta" (página 14)

Eu, Sally Barroso, fui criada sem mãe: "Fui uma criança incompleta... eu, que tinha todos os motivos para sofrer, dispensei a chance. Se sofrer era tudo o que esperavam de mim, eu surpreendi sendo madura antes da hora, evitando dar trabalho ao meu pai. De tanto esforço para não capitular diante da tragédia, de tanta vontade que eu tinha de ser adulta, de tantas ausências ao meu redor, forcei uma precocidade e resolvi me salvar sozinha" (página 15)

"Eu praticamente não tive referências femininas, eu sempre fui minha própria referência. E, como já lhe disse, sou mezzo mulherzinha, mezzo cabra da peste, o que nunca me fez sentir entre iguais no salão de beleza". (página 22)

"Não há consolo para a impossibilidade" (página 38)

"Acho que é essa minha mania de auto-suficiência, de sempre querer dar conta da minha vida sozinha" (página 53)

"A sinceridade sempre parece mentirosa" (página 57)

"mundanças me parecem atraentes e ao mesmo tempo assustadoras" (página 61)

"desde que eu despertei para a leitura e que passei a sentir o sabor das coisas de uma forma muito mais entusiasmada, desde que eu soube que podia pensar e o pensamento era livre ,que dentro do meu pensamento ninguém poderia me achar, desde que meus seios cresceram e eu descobri que pessoas tinha cheiro, desde lá até aqui eu me pergunto: por que não me oferecer para aquilo que não fui preparada? Eu tenho as armas de que necessito para me defender, e mesmo que eu perca, eu ganho, já perdi algumas vezes e sei como funciona a lei das compensações." (páginas 62/63)

"O que me faz parecer assim tão forte?" "... sou a que segura a barra de todos, a voz que manda e desmanda, a que não dorme à noite, pensando, pensando, pensando" (páginas 64/65)

"Não estou sendo pessimista, as coisas começam e terminam antes que possamos ordená-las racionalmente, por dentro a coisa já vem gritando há dias" (página 66)

"As pessoas mais importantes foram as que não ficaram" (página 149)

"Sofrer não é romântico, é terapêutico" (página 130)

Bom, por aqui eu paro. Preguiça mesmo. Compromisso com o trabalho, pois aprendi com meu pai que seja o que for, como for, o trabalho ocupa, cura e que é nele que aprendemos a separar as coisas e sobreviver. Ainda que a meta seja viver, tem momentos que sobreviver é uma vitória e tanto. 

Don´t let me down girl!