segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Retrospectiva literária 2012 (parte IV)





Mitologia Grega
O universo, os deuses e os homens (Jean-Pierre Vernant)é difícil de largar. Esse livro foi indicação da professora Danielle Nastari no último curso de Introdução à História da Arte (janeiro) e muito dos mitos que ela citou, fazem parte do mesmo. O autor, assim como Platão, chama esses mitos gregos da Antiguidade Clássica de fábulas de ama-de-leite, pois eram os mitos que costumava contar para seu neto Julien antes de dormir. Assim como ele, também me encanta a forma como os mitos passaram de uma geração à outra na Antiguidade, fora de qualquer ensino oficial, sem transitar pelos livros, para formar uma bagagem de comportamentos e saberes, várias regras de conduta e bons costumes. Apenas inspirados pela deusa Mnemosýne (Memória). O texto tem uma linguagem simples, combinado com Filosofia, História, Antropologia e Linguistíca.





Sobre o carteiro e sobre o poeta
O carteiro e o poeta é um livro de leitura rápida, ainda que seu autor confesse que levou 14 anos para terminá-lo.
O livro é sobre a relação do poeta chileno Pablo Neruda e um carteiro. Contrariando a tradição de se tornar pescador assim como seu pai, Mario consegue um trabalho de carteiro particular do poeta Pablo Neruda. Sua curiosidade pela poesia de Neruda e a paixão avassaladora por Beatriz, vai ser os motivos de aproximação do carteiro ao mundo poético de Neruda.
Neruda vai auxiliar Mário a conquistar Beatriz e a enfrentar a fúria da futura sogra. Ao receber o pedido de ajuda de Mario, Neruda responde "Filho, eu sou só um poeta, mais nada. Não domino a exímia arte de destripar sogras".
Então o carteiro usa os próprios versos de Neruda para convencê-lo: O senhor tem de me ajudar, porque o senhor mesmo escreveu "Não gosto da casa sem telhado, a janela sem vidros. Não gosto do dia sem trabalho e da noite sem sono. Não gosto do homem sem mulher, nem da mulher sem homem. Eu quero que as vidas se integrem, acendendo os beijos até agora apagados. Eu sou um poeta casamenteiro". Obviamente, o carteiro deixou o poeta sem alternativa.
Além de conter uma linguagem poética e cheia de metáforas, há um fundo histórico do Chile, da quase eleição de Neruda e o golpe militar que tirou Salvador Allende da presidência e subjugou o país a uma ausência da democracia e dos direitos de uma nação.






A Guerra dos Tronos
O americano George R.R. Martin consegue prender sua atenção logo no início do livro A Guerra dos Tronos, primeiro livro da série, As Crônicas do Gelo e Fogo. Fiquei tão atraída que li 592 páginas em 09 dias.
O livro remonta à Idade Média, e ainda que exista componentes inexistentes, como ovos de dragão e lobos gigantes, o autor se reporta à situação geográfica do homem medieval.
A Grande Muralha foi inspirada na Muralha de Adriano, concluída pelos romanos em 126. Essa muralha tinha como objetivo separar o mundo civilizado dos bárbaros. O autor visitou os restos dessa muralha em 1980, numa viagem à Inglaterra.
A inspiração para a criação dos Patrulheiros do Norte veio das ordens militares e religiosas medievais. Seus membros eram monges-guerreiros vestidos com mantos brancos e uma cruz vermelha no peito (Templários). Também juravam fidelidade vitalícia à uma causa, assim como os Patrulheiros do Norte.
Na guerra pelo trono entre Stark e Lannister há uma vaga semelhança entre o conflito entre as casas de York e Lancaster. Conflitos de família poderosas eram comuns nesse período, assim como as contendas por terras.Lendas, medos de monstros e seres malignos também.
Jaime, o Regicida, irmão e amante da rainha Cersei, demonstra bem o cavaleiro. Também há no livro torneios que existiam no medievo, quando os combatentes exibiam as suas habilidades.
Esse livro tem conquistado vários adolescentes em idade escolar, sendo possível citar muitos trechos do enredo para representação do período medieval.  





Os pecados capitais no clero
Na minha opinião, O crime do Padre Amaro é a melhor obra realista que já li até hoje. Eça de Queirós não me chocou apenas pelo romance avassalador entre o padre Amaro e Amélia, mas na riqueza de detalhes dos costumes de um período ainda impregnado de misticismo e pieguices. No início inocentei o Padre Amaro, pois nunca houve de sua parte vocação para batina e sim um destino planejado por uma carola que o criou desde novo. Mas, após os seus atos egoístas, profanos e nefastos para satisfazer seus instintos carnais, utilizando do seu poder clerical (óbvio que o fim trágico de Amélia e da criança também me impactaram) me fizeram condenar o padre.Eis o poder de Eça de Queirós! Aliás, o autor utilizou de personagens de batina praticantes dos sete pecados capitais e de situações onde foi mesclado das mais variadas formas os interesses seculares, políticos e mundanos com os interesses e poderes religiosos. Para muitos o preço pago por Amélia e seu filho foi o pago por ter se tornado uma barregã, mas psicologicamente falando (sou leiga no assunto) a devoção e a pieguice em excesso auxiliou e muito no seu fim. Fechado com chave de ouro, o autor conseguiu casar o pensamento religioso (e hipócrita na minha opinião) sobre uma realidade ilusória. A sociedade em declínio pelo pensamento místico, a pobreza, a miséria ao redor dos religiosos e a frase de um dos padres:
"vejam toda esta paz, esta prosperidade, este contentamento ... meus senhores , não admira realmente que sejamos a inveja da Europa!" Uma ótima leitura, indico!