segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Retrospectiva literária 2012 (parte V)






Uma história da Índia
Depois de ler As montanhas de Buda, do mesmo autor, me interessei por esse livro. O título se remete ao Sári Vermelho fiado por Jawarharlal Nehru em um dos vários períodos em que esteve preso e a peça de roupa, típica da Índia, foi usada no casamento pela sua filha Indira Gandhi, sua nora Sônia e sua neta Priyanka. O livro é um romance que aborda a história da dinastia Nehru-Gandhi paralela a história da Índia independente, começando pela morte de Rajiv aos 46 anos no ano de 1991.

Rajiv, marido de Sonia Gandhi, uma italiana de Orbassano, foi vítima de uma atentado terrorista. A mãe de Rajiv, Indira Gandhi e avô Nehru, também foram assassinados. Os três atuaram no cargo de Primeiro-Ministro da Índia e lutaram para manter o país independente. Um país repartido pelas religiões, crenças e costumes. Agora, o partido pede que Sônia assuma a presidência do maior partido democrático, porém ela é uma estrangeira e tem aversão à política. Enquanto decide e sente a dor do luto, Sônia lembra como conheceu Rajiv. O autor então descreve os períodos de cada um dos componenentes da família no espaço privado e público, descrevendo lutas religiosas, corrupções, intrigas familiares, relações internacionais e outros temas que ocorreram na história da Índia. 




Ingênuo patriotismo
O autor descreve nessa obra as estruturas sociais e políticas do Brasil da Primeira República, enfocando os fatos históricos do governo de Floriano Perixoto.

O livro (que foi publicado inicialmente em folhetins no ano de 1911) está dividido em três partes. Chamo essas partes de "o hiperfoco" (linguagem de TDAH) de Policarpo Quaresma, protagonista da obra. Nesses três momentos da sua vida ele se lança de corpo e alma a um ideal sempre baseado no patriotismo.

Já na primeira parte o personagem é apresentado como patriota e não sei se o "seu triste fim" se deu por ter sido um patriota sem ambições políticas ou administrativas (pg 19). Gostei muito dessa parte sobre Policarpo que acho que vou até utilizar como texto da avaliação globalizada sobre História do Brasil (9º ano):

"Não se sabia onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não eram só os pampas do Sul com o seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara,não era a altura de Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves - era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro".

Ao meu ver o trecho acima descreve bem as riquezas do nosso país. Então, essa é a primeira parte do livro onde o protagonista conhecedor das nossas belezas naturais decide escrever um manifesto solicitando que a nossa língua geral seja a tupi-guarani. Óbvio que ele não vai ser levado a sério, chegando mesmo a ser internado em um hospício. Nessa parte gostei muito do personagem Ricardo Coração dos Outros que ensina Quaresma a tocar violão, instrumento que sofre discriminações na época. A descrição de Lima da alta sociedade suburbana carioca é maravilhosa.

Na segunda parte Quaresma resolve ir cuidar de um sítio, plantar e colher e entre uma semente e outra analisa a pobreza da comunidade rural a sua volta e disputas políticas no campo. Pode-se conciliar com a República Oligárquica que substitui o Brasil já agrário do Império. Aliás ele faz críticas sobre a ajuda do governo aos estrangeiros e descaso do mesmo com o povo brasileiro. Sua luta contra as saúvas é o ponto alto dessa segunda parte.

A terceira Quaresma se alista para o exército de Floriano contra um levante que realmente aconteceu na posição de major. Ricardo Coração dos Outros também se alista de forma "voluntária". Nessa última parte Lima Barreto dá maior ênfase ao presidente Floriano Peixoto e as formas como as posições e cargos são adquiridos nessa máquina administrativa chamada governo. Nada diferente da atualidade, aliás quantas semelhanças há na obra e na nossa realidade atual. Bem, sem contar o final do livro, o título já diz tudo e triste as reflexões que Policarpo faz sobre patriotismo e consequências.  





Espionagem em tempos de Guerra Fria
Tom Clancy é conhecido por seus livros sobre intrigas políticas e descrições de tecnologias militares, O Coelho Vermelho, não poderia ter sido diferente. A história acontece em três lugares, EUA, Inglaterra e URSS. Em cada um desses lugares há embaixadores que na verdade são espiões da CIA, FBI e KGB. O início achei um pouco cansativo por contar os detalhes das adaptações desses agentes secretos em outras nações. A emoção começa quando um funcionário do alto escalão da URSS por questões políticas decide mandar matar o papa polonês. O então funcionário das comunicações da KGB por um encargo de consciência decide pedir auxílio ao embaixador norte-americano que está em solo russo. A missão então é tirar esse desertor em segurança, o coelho vermelho, sua esposa e sua filhinha. Recheado de intrigas políticas, corrupção e opiniões sobre o comunismo russo, o autor enaltece sua pátria. Lógico, em um período de Guerra Fria, não havia uma terceira escolha. Também é possível analisar por meio desse livro, os luxos que haviam para os camaradas russos que faziam parte da diretoria do Partido Socialista Russo, o que não era possível à população russa em geral. 





Kinsom e Yandol ...
As montanhas de Buda: A odisseia de duas monjas tibetianas apaixonadas pela liberdade. Javier Moro. Esse livro além de barato (R$ 9,90) nos traz informações sobre a opressão chinesa no Tibete e os princípios budistas. Impossível ficar insensível e não chorar diante das torturas e sofrimentos cometidos às monjas cativas (Kinsom e Yandol) e ao povo tibetiano. O autor a partir de estudos, viagens e entrevistas nos permite descobrir esse desrespeito aos direitos humanos.
Também traz informações sobre a filosofia budista, princípios que fortaleceu as duas monjas e várias outras que foram vítimas de torturas. Para o Budismo, apenas o homem pode lutar contra o sofrimento e vencê-lo por seus próprios meios. Todas as coisas são efêmeras... inclusive o sofrimento.
Os relatos de violência são fortes, por exemplo esse da monja Kinsom (condenada a três anos por ter gritado Viva o Tibete!):
"Foi horrível. Os soldados me acossaram com inimaginável crueldade. Obrigaram-me a me deitar sobre a mesa, e, enquanto um abria minhas pernas, o outro enfiava o cassetete elétrico em minha vagina... desmaiei. Acordei quando despejaram um balde de água gelada no meu rosto".
Após a saída da prisão, as duas vão participar de uma verdadeira odisséia para conseguir atravessar a pé o Himalaia até encontrar o dalai-lama no exílio, em Dharamsala, na Índia.
Um tipo clássico de história que fica do lado de fora dos livros didáticos.