segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Retrospectiva literária 2012 (parte II)






Esse livro é uma daquelas conquistas que se têm quando menos se espera. A autora, na época (1976) desempregada, teve a brilhante ideia de fazer uma pesquisa sobre um tema pouco explorado. Além da pesquisa sem auxílio da internet, conseguiu escrever uma saga, sendo esse livro o primeiro da série. Nesse, o enredo se dá há 35 mil anos, cogitando (nada afirmado na decáda de 70) a possibilidade de terem sido contemporâneos os Neandertais e os Cro-Magnons.

Após um terremoto que vitimou todo o seu clã, uma pequena criança tenta sobreviver aos perigos da selva, animais selvagens, fome, frio e desidratação. Após conseguir se manter em busca de um lugar seguro, a pequena desmaia. O clã do Urso da Caverna, está em busca de abrigo, e Iza, a curandeira encontra a pequena criança desmaiada. Após pedir autorização ao chefe, Brun, Iza tenta à base de ervas, manter a criança viva. Nesse clã, há uma forte hierarquia começando pelo Mog-ur (Creb) o feiticeiro, o líder, o segundo em comando e que tem que cuidar do fogo e as mulheres. O feiticeiro é portador de deficiência física, o que faz todos acreditarem que isso o separa para ser intermediário entre o mundo dos espíritos e o mundo dos humanos. Ele não precisa obedecer. O líder deve decidir pelo grupo. Tanto o homem quanto a mulher aceitavam seus papéis sem questionar. Portadores de ritos de passagens e cerimônias religiosas, se submetem aos espíritos protetores de seus totens e no momento de encontro com a criança diferenciada fisicamente, procuram moradia tanto para o clã, quanto para os espíritos. Recheado de detalhes do período, tipo instrumentos e o trato com as ervas pelas mulheres.

Ayla pertence a um grupo diferente, um grupo que possui a capacidade de evolução, de aprendizado, tanto física quanto cognitiva. Os humanos do Clã da Caverna, chegaram ao máximo da sua evolução, mesmo possuíndo armazenagem de memória avançada. Porém, Ayla por causa de um desastre foi incluída nesse clã e precisa evoluir sob as limitações impôstas ao sexo feminino. Como por exemplo, não tocar em uma ferramenta de caça e quando necessário ser submetida à violência para demonstração do poderio do sexo masculino. Diante desses "detalhes" Ayla decide e consegue utilizar uma funda (que é proibida ser tocada por mulheres) e o que é pior, decidi caçar. Seu desenvolvimento tem sido possível devido sua capacidade evolutiva, porém perigoso até mesmo para sua sobrevivência dentro das leis "naturais" do clã.

A forma violenta utilizada (até hoje) para subjugar o sexo feminino ao masculino é bem detalhado. O conhecimento feminino nas curas através das plantas também. A rejeição do novo (no caso Ayla) pelo que não pode mais evoluir (Broud, o futuro líder do Clã dos Ursos) torna-se uma questão de sobrevivência. Apesar das relações complexas para o período, ótima descrição das mudanças climáticas na Pré-História, na coleta de raízes, no armazenamento, na elaboração de utensílios de uso individual ou coletivo, na caça em grupo, nas explicações transmitidas oralmente e na imitação (demonstração da presença cênica desde então).





As Pedras do Poder
O livro "As pedras de Roma" narra de forma romanceada a biografia de Giovanni de Medici (1475-1521). Livro construído a partir de registros escritos por Serapica dos comentários e anotações do papa Leão X (Giovanni de Medici). Há um rico relatório nas páginas iniciais das decadência dos Médicis e a forma como o papado se tornou um negócio de famílias. O gosto de Giovanni por tertúlias artísticas e literárias o aproximou ainda jovem de humanistas, filosófos e pensadores, mas também de toda forma de obtenção do poder e troca de cargos. Uma família bastante citada é a dos Bórgias, principalmente Lucrécia e seu pai, Rodrigo Bórgio, ou o Papa Alexandre VI. Esse, morto por envenenamento abre portas para a sucessão papal. Muitos detalhes históricos, artísticos e mitológico.

Óbvio que os comentários feitos por Leão X o colocaram em permanente inocência. Apesar disso, há muitos detalhes da época, da sociedade, das razões que apenas confirmam a falta de capacidade de equilibrar poder e religião. No quesito dívidas, impostos, indulgências que perdoavam antes mesmo de pecar, descaso com a espiritualidade da Instituição e da realização de uma reforma urgente, Leão X foi igual ao seu antecessor. Amante das belas artes, investiu pesado em monumentos colossais e tertúlias literárias que incentivassem o desenvolvimento humano em todas as áreas. Um autêntico mecena renascentista.

Uma ótima leitura baseada em referências mitológicas e biográficas dos contemporâneos do Papa Leão X. Abre uma possibiidade de maior compreensão do período. INDICO!




Um livro voltado para o público masculino, porém dotada da curiosidade de Eva, tive que lê-lo. Os três autores trabalham o versículo de Genêsis 3,6, que relata que Adão estava próximo à Eva e nada fez para evitar que a mesma experimentasse do fruto proibido por Deus. Partindo desse evento, é comum observar o silêncio no sexo masculino, quando na verdade a fala poderia evitar maiores problemas.
Também é criticada a Teologia da Receita, que ensina aos homens a utilizar os princípios bíblicos numa fórmula de sucesso. Essa Teologia está recheada de receitas que ensinam a solucionar problemas e cumprir responsabilidades.
Porém, o chamado ultrapassa o individualismo. Se Deus criou a partir do caos utilizando a fala, o homem quando se calou, introduziu o caos na criação. Os autores relatam exemplos bíblicos e pessoais para dar bases às suas teorias. Muito bom! Indico rapazes (e Evas curiosas!).  



Uma outra análise de Calígula
O autor Allan Massie de forma audaciosa relata resultados de suas pesquisas históricas nesse romance. O objetivo é dar um certo equilíbrio no conhecimento da personalidade de Gaio - Calígula, que só é conhecido pelas suas insanidades e excessos em nome do poder e do medo.

O livro é narrado por Lucius, general que lutou ao lado de Germânico e conheceu Gaio ainda pequeno. A pedido de Agripina (mãe de Nero), Lucius tem a tarefa de escrever a biografia de Calígula, após a sua morte. A primeira parte narra as intrigas e contêm detalhes do governo de Tibério, assim como, todas as suas ações que acabaram influenciando no comportamento de Gaio. Essa parte finda com a morte de Tibério e todas as hipoteses da mesma.


A segunda parte narra seu governo, seu romance incestuoso com Drusilla, sua relação com Cesônia, a paixão de legiões pelo mesmo, fato não citado em suas biografias. Essa é a base do romance biográfico de Calígula, um homem que segundo a História, não dominava nem a própria cabeça e vontades. Grande conquistador, talvez isso o torne tão semelhante a Roma do seu tempo. Rico em detalhes, demonstra a imaginação fértil do escritor, óbvio, especialista na área.



É possível uma outra visão de Gaio após a leitura, mas também a confirmação das suas insanidades já conhecidas por todos. Frutos de um contexto conturbado de uma Roma em processo de decadência. Após sua morte, Cláudio, seu tio assumiu seu lugar, casando logo após com Messalina. Agripina após intrigas, leva Cláudio a matar Messalina pelos adultérios e casa-se com seu próprio tio. Ato praticado para garantir o reinado futuro de seu filho Nero.