segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Retrospectiva literária 2012 (parte I)






Shah Muhammad Rais, é o personagem chamado de "Sultão Khan" no livro "O livreiro de Cabul" de Asne Seierstad. Em "Eu sou o livreiro de Cabul", Shah em poucas páginas e utilizando de seres mitológicos da Noruega (pátria mãe da escritora)tenta apresentar a sua versão dos fatos. Ferido por ter sua hospitalidade dada à escritora retribuída com detalhes da intimidade da sua família e pela omissão de fatos importantes pela mesma, Shah explana a situação do seu país e costumes que não foi criado pelo mesmo. É complicado julgar a partir de uma visão ocidental sobre outra cultura, e muitos dos fatos fornecidos pela autora poderiam e podem de forma trágica prejudicar todos os que foram envolvidos no seu livro. Podemos citar a forma como ela descreveu o banho da mãe do personagem ou as fantasias eróticas do seu filho com meninas órfãs. Em um país onde os costumes são pautados pela religião e por guerras, é impróprio acreditar que apenas um homem é o causador de tanta angústia, principalmente para as mulheres da sua casa. Não o inocento e nem o condeno, pois sendo verdade, em todos os países há excessos cometidos às suas mulheres. Não é uma prioridade do Afeganistão. Gosto de ler autores que denunciam esses abusos porque nasceram e viveram nesses países, como por exemplo, Khaled Hosseine, autor dos livros "Cidade do Sol" e "O caçador de pipas". A autora pecou ao omitir a questão histórica e bélica do país e se centrar apenas no cotidiano da família. 






Drauzio Varella começa contando episódios já relatados em seu livro "Estação Carandiru" e seus trabalhos realizados em vários presídios paulistas. Agora nesse livro, a visão será daqueles que estão do outro do lado da cela, não mais libertos daqueles que estão dentro das grades.
descreve também a forma como os agentes eram selecionados, da cadeia desde o período monárquico até o século XX, os aprendizados possíveis e as percas "inevitáveis". O livro contêm alguns relatos da vida pessoal e familiar daqueles que têm como profissão manter trancados os homens considerados os mais perigosos da sociedade em condições desumanas.
Drauzio disponibiliza sua opinião sobre o sistema penitenciário, relata sobre alguns casos de tortura nos presídios e a "diminuição" após o surgimento dos Direitos Humanos e o crime organizado que ganhou força nos presídios paulistas com o massacre de 1992. Também trata sobre os funcionários que se tornam cumplices dos presos e dos vários familiares que são presos por tentarem entrar com drogas de várias maneiras e por vários motivos.
Um relato breve e objetivo do sistema carcerário paulista, do ponto de vista daqueles que têm por função manter em ordem os presos. O autor descreve o relacionamento dos carcereiros com os presos, com seus familiares, chefes e com um sistema que cobra deles a solução que deveria ser do próprio sistema. Há repetição de vários episódios já descritos no seu livro "Estação Carandiru".  



Resultado de 20 anos de pesquisa e do mesmo autor de "O Padrinho" (livro que trata sobre máfia e já rendeu muito dinheiro para Hollywood) é uma descrição fictícia sobre o cardeal Rodrigo Bórgia (papa Alexandre) e dos seus filhos César, Juan, Lucrécia e Jofre.

O autor descreve muito bem os conflitos entre os reinos da Espanha e da França pelos territórios papais. Descreve bem o luxo papal, as trocas necessárias para se manter no poder, as alianças realizadas por meio do casamento, as técnicas de guerras, vestimentas e cria histórias com personagens históricos como Maquiavel, Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarroti.

Após a morte do papa Alexandre, o livro é finalizado de uma forma bem resumida (talvez porque o livro foi finalizado por Carol Gino - namorada na época de Mario Puzo). Há o relato sobre a eleição do cardeal Giuliano della Rovere (que assumiu o nome de Júlio II, aliás antes dele houve um papa eleito que permaneceu apenas 27 dias)e os dias finais de Cesar Bórgia. 





Para o autor, o ser humano passa a vida interpretando os fatos repetindo as explicações corriqueiras. Diante de uma pergunta simples sobre a vida, o autor aceita o desafio de explanar o livro bíblico "Eclesiastes" de autoria do Rei Salomão. Para Ed, Salomão foi um homem que tudo viveu e chegou à conclusão tão conhecida por todos "tudo é vaidade". Para não cair no erro de viver esse tédio, há o convite para duvidar - pois o oposto da fé não é a dúvida e sim o medo -, notar, perceber, analisar e sugestões pautadas nos versículos e outros autores citados.
O autor, com base no livro bíblico de Eclesiastes, abordas temas e propõe análises para vencer a injustiça, a religião e o dinheiro. "Feliz é aquele que deseja o que possui e não aquele que deseja o que não tem. Se alguma mensagem afirma que Deus deve ser usado como meio, e não como fim em si mesmo, não é o evangelho de Jesus Cristo. O evangelho de Jesus prega a satisfação da alma em Deus. O evengelho apresentado como fonte de acesso aos desejos da alma é um evangelho distorcido. Usar Deus para a obtenção de objetos de desejo é perverter a relação, porque, na verdade, a nossa experiência com Deus deve nos dar a satisfação naquilo que possuímos, e não acesso àquilo que desejamos. Quem quer ajeitar a vida com ajuda espiritual deve procurar um caminho diferente do evangelho de Jesus".
O capítulo 07, Vencendo a pretensão, na minha opinião é o mais interessante. O autor sugere atitudes mediante os cinco argumentos baseados em Eclesiastes, "há o imutável, há o imponderável, há o incontrolável, há o inconciliável,e há o incognoscível". O livro bíblico, lido por muitos apenas partes específicas, cita casos onde o crime, a injustiça, a desgraça atinge tantos os bons quanto os maus. De forma clara e objetiva, Ed René trata nos últimos capítulos esses fatos. É necessário vencer a insensatez, a ausência de sentido, o tempo e a luta pela sobrevivência. Tópicos tão atuais e ao mesmo tempo já analisados pelo homem considerado o mais sábio da História cristã."