sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A Substância - (Filme/2024)

 Dezembro é mês de colocar em dia todos os filmes e séries que não consegui assistir em tempo oportuno por causa da vida acadêmica. Vamos lá! Ah! Antes quero registrar aqui dois temas de redação em 2025

1º PND (Prova Nacional Docente) - O idadismo como desafio social e educacional no Brasil 

2º Enem - Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira 

Será que os elaboradores de ambas as provas (INEP) assistiram esse filme? Estou com os meus devaneios, pois pra mim faz muito sentido (hihi). 

A Substância é sobre Elizabeth Sparkle, uma LINDA mulher de 50 anos que fez muito sucesso no passado como atriz e até então fazia vídeos sobre ginástica rítimica. Tudo seguia uma rotina até que seu chefe exigiu que ela fosse substituída por estar ultrapassada no quesito idade. 

a atriz que interpreta a protagonista é Demi Moore e vale citar que ela recebeu esse papel após mostrar um livro escrito por ela para a diretora francesa Coralie Fargeat. Em "Inside Out", Demi relata suas dores durante seu processo de sucesso. Quem lembra de "Stripeatease"? Um estilo de filme que marcou a atriz em um padrão cinematográfico que a afeta até os dias atuais. 

Ao lidar com essa substituição e refletir sobre isso, Elizabeth sofre um acidente e acaba sendo coptada para um experimento de rejuvenecimento. Vou explanar apenas isso para não dar spoiler do filme. A partir de agora serão descritos apenas meus devaneios sobre tudo o que assisti. 

BOM! ENVELHECER É UMA MERDA! Mas não deveria ser. Para nós mulheres, a percepção do filme é bem mais visceral. Atualmente muitas de nós estamos nos submetendo ao uso de Mounjaro, cirurgias estéticas, filtros em redes sociais, dietas restritivas ... para seguir um padrão imposto de beleza que deve ser mantido a qualquer preço. O filme grita o culto à juventude e tudo que somos capazes para nos manter dentro de um sistema que nos adoece. 


O filme tem um estilo de body terror com cenas explícitas e grotescas de nudez, violência e monstruosidades corporais. Já aviso que se tens horror a sangue, não assista. Confesso desde já que o final me decepcionou um pouco, totalmente desnecessário. Mas nada que extraia a reflexão sobre o envelhecimento feminino. É um soco no estômago. 

Envelhecer nos torna invisíveis e deixa claro que é um grito de todas as mulheres pelo direito de EXISTIR. Seja em qualquer idade. Sabemos que não é bem assim. Que o sistema capitalista é cruel e nos molda a sempre estarmos insatisfeitas com o nosso processo de envelhecimento. Sue (o alter ego jovial de Elizabeth) só tem ambição e sabe do poder do seu corpo e beleza. Basta sorrir. 

Elas não se relacionam durante a trama e quando isso acontece, a capacidade de violência entre as gerações ficou visível e lamentável. "O que foi usado em um lado é perdido no outro lado. Não há como reverter". Esse é o aviso da voz que atende Sue ou Elizabeth e sempre deixa claro: não há a outra. Mas elas guerreiam entre si. Toda a capacidade que temos de nos machucarmospara deixar satisfeito um público que quer apenas aparência sem conteúdo. 

O dano emocional causado pela sociedade etarista e misógina é fortalecido cada vez mais nos padrões impostos para todos. Elizabeth fora do jogo não sabe o que fazer com o seu tempo ativa enquanto Sue está no modo off. O que fazer depois da fase "produtiva"? O que somos depois da carreira? Lançamos toda a incerteza na alimentação errônea. Elizabeth ao tentar uma única vez se relacionar com alguém da sua "época" eterniza todas nós diante do espelho com maquiagens, roupas e desistências de sermos o que devemos ser: nós mesmas. 

Sue, cada vez mais necessitada do tempo de Elizabeth, quebra o desequilíbrio e isso avança o envelhecimento da outra (a saber, ela mesma). A caricatura da mulher corcunda e bruxa nos tira da invisibilidade, porém nos coloca no imaginário errôneo do lugar que nos cabe após findar a juventude desejada pelo capital. Ressalto que a obra recebeu o Oscar de melhor maquiagem. Merecido. 


Passei o dia refletindo e acreditando que Sue poderia ter feito outro caminho trilhado por Elizabeth. Mas a voz sempre deixava claro "você é a matriz. Não existe a outra". Sue (Margaret Qualley) era o alter ego jovial e seu desejo era apenas eternizar a glória recebida por sua juventude e beleza.  O que mais Elizabeth ganhou além de aplausos de desconhecidos? O que essa sociedade da aparência e do etretenimento pode oferecer? Dinheiro e fama. Para pessoas como Elizabeth é o suficiente. Temos influenciadoras brasileiras que fazem de tudo para manter esse status quo. Por isso que a nova geração (Sue) não tem mecanismos e nem desejo para fazer diferente. É um ciclo repetitivo. 

O direito de existir é única perspectiva sobre o envelhecimento em qualquer sociedade. eu começaria assim a minha redação (Enem 2025) se tivesse participado. Indico! Com lenços de papel e a coragem de decidir como vamos atravessar esse processo natural da vida. Um ode a mulher em qualquer idade. Que você possa existir para si mesma.