terça-feira, 8 de setembro de 2015

As veias abertas da América Latina


Eduardo Galeano (03/09/1940-13/04/2015), aos 73 anos na Bienal ano passado aqui em Brasília, afirmou que não leria novamente a sua obra “As veias abertas da América Latina”. Afirmou que não tinha formação necessária na época que escreveu, e que desmaiaria se tivesse que escrever novamente. Não que houvesse arrependimento da sua parte. Também relatou que, existiram experiências de partidos políticos de esquerda que deram certo, e foram perseguidos por isso, assim como houveram partidos políticos de esquerda que agiram errados, se tornando opressores. Claro que isso já desestimula, mas eu afirmo que é importante a leitura, pois trata-se de um relato da exploração econômica e dominação política que sofreram os países da América Latina.

O livro foi escrito em 1970 e atualizado em 1977, vai desde a espoliação europeia, chamada de as grandes navegações, até a contextualização da Guerra Fria (e início dos regimes ditatoriais). A obra demonstra como os modos de produção e a estrutura de classe foram (e têm sido) determinados de fora. Veias abertas, afinal, pois desde o descobrimento, tudo se transformou em capital europeu, ou mais tarde, norte-americano. Não deixa de ser uma demonstração de como o subdesenvolvimento latino-americano foi uma consequência do desenvolvimento alheio, e que nossas matérias-primas nos trouxeram maldição, principalmente quando a nação exploratória achou como aliados, inimigos da nação explorada. Leia-se governos ditatoriais, classe burguesa...

Eduardo também relacionou tentativas de reformas pelos governos derrubados com a resposta truculenta de ditadores apoiados ou não pelos privilegiados que se sentiram ameaçados “Creio que sempre existe uma relação íntima entre a intensidade da ameaça e a brutalidade da resposta”. De modo geral, coloca a América Latina como participativa da engrenagem universal do capitalismo, beneficiando o desenvolvimento da metrópole/multinacional estrangeira do momento e ao mesmo tempo mantendo-se dependente e devedor. Sem contar que dentro da própria América Latina, o mesmo aconteceu com países menores, tendo suas fontes internas de víveres e mão-de-obra explorados pelos vizinhos maiores.

Claro que é um pouco cansativo pelo excesso de informações, mas ainda que muitos o rotulem como um livro que justifica seu presente se fazendo de vítima, ele não nega dados históricos, isso por si só, justifica sua importância. Indico.

Com o passar dos tempos, vão se aperfeiçoando os métodos de exportação das crises”

“Em tempos difíceis, a democracia transforma-se em crime contra a segurança nacional, ou melhor, contra a segurança dos privilégios internos e os investimentos estrangeiros”.