terça-feira, 17 de junho de 2014

Revolta armada




Laurentino Gomes é autor dos livros 1808, 1822 e agora 1889. O autor na introdução comenta a falta de prestígio no calendário cívico brasileiro do episódio recente chamado Proclamação da República. Seus personagens são menos conhecidos que Tiradentes, Pedro Álvares Cabral e outros. Não justificando, mas apenas comentando, relata que o evento não resultou de uma campanha com participação popular, e sim foi um golpe militar com escassa e tardia participação das lideranças civis. O sangue que não foi derramado na derrubada da monarquia, verteu nos 10 anos seguintes (02 guerras civis, Revolda da Armada, Revolução Federalista, Canudos totalizando +ou- 35 mil vítimas). Aconteceu mais por esgotamento da monarquia do que do vigor dos ideais e da campanha republicana, com fortalecimento da Lei Áurea que deu combustível e o descontentamento nos quartéis desde o final da Guerra do Paraguai.
A improvisada cerimônia de Proclamação da República aconteceu sob a Marselhesa, o hino nacional da França e hasteou-se uma bandeira cujo desenho imitava os traços do estandarte dos EUA, substituindo apenas as cores azul e branco das faixas horizontais pelas cores verde e amarelo. A palavra república não era mencionada na noite daquele dia (15/11), nem mesmo no manifesto que o governo provisório divulgou assinado por Deodoro anunciando a deposição da família real e o fim da Monarquia. A consulta popular prometida por Benjamin Constant aconteceria apenas em abril de 1993, ou seja, 103 anos após 15 de novembro de 1889 em um plebiscito nacional. Venceu a República.
O capítulo 03 começa com o autor fazendo um resumo sobre a situação educacional brasileira no ano da Proclamação da República (de cada 100 brasileiros, somente quinze sabiam ler...). A agricultura respondia por 70% das relações comerciais e oito entre dez brasileiros moravam na zona rural. O autor relata, além desses dados, situações da Guerra do Paraguai e seus efeitos colaterais, as transformações urbanísticas das grandes capitais, Mauá - dos investimentos até a falência -, o café e a migração do Nordeste para o Sudeste, tal qual a importação de estrangeiros para trabalhar no lugar dos escravos. As rebeliões do Primeiro Reinado e da Regência são em sua grande maioria citadas, até findar com a frase "Quero já!" de D. Pedro II, episódio conhecido como o Golpe da Maioridade.
No capítulo "Miragem", a nobreza exótica e tropical, diferente da nobreza europeia, onde os títulos de nobreza eram hereditários. A farta distribuição de títulos e cargos como barganha nas relações de poder. Tudo tão atual. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Habsburgo e Bragança, mais conhecido como dom Pedro II, governou o Brasil por 49 anos, começando como um adolescente e deposto em 1889 a duas semanas de completar 64 anos. A criação e educação de D. Pedro II e seus amores extraconjugais, bem mais discretos que os do seu pai. As viagens, as manias, os protocolos, o cotidiano do Imperador Pedro de Alcântara, como gostava de ser chamado. Sobre o Século das Luzes, muito interessante os relatos do contato de D. Pedro II e Graham Bell na Filadélfia. Sobre o mecanismo que reproduz a voz humana, D. Pedro II "Meu Deus, isso Fala! Eu escuto! Eu escuto!"; e D. Pedro II com Victor Hugo, autor de Os miseráveis. Insistência do Imperador. 
Capítulos sobre os republicamos, sobre a mocidade militar e o positivismo. Fundação da primeira agremiação positivista brasileira no RJ em 1876 e a divisão em 1890 em duas vertentes. A primeira, religiosa e a segunda ideológica e política. Permaneceu a segunda." Sobre o Marechal Deodoro da Fonseca, o fundador da República e sua frase antes do 15 de novembro: "República no Brasil é coisa impossível, porque será uma verdadeira desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal educados para republicanos. O único sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela". Pense se o cidadão queria o ato!
Capítulo sobre Benjamin Constant, professor de matemática e tenente-coronel. Benjamin não foi um personagem secundário na queda do Império. Sua carreira foi marcada por episódios polêmicos.
Capítulo sobre os abolicionistas e sobre as leis bizarras em relação à escravidão, tipo Eusébio de Queiroz, Ventre Livre chegando na Lei Áurea. Sobre a vida de Nabuco, José do Patrocínio, André Rebouças, Luís Gama... Sobre movimentos abolicionistas urbanos contra a permanência da escravidão rural. Sobre o Ceará e Amazonas, províncias que aboliram a escravidão no Brasil, Caifazes, Quilombo do Jabaquara e outros temas (inclusive um texto que você percebe na prova para professores retirados do livro do jornalista/autor; nada contra, mas nunca pensei...). Finalizando: "A Lei Áurea abolia a escravidão, mas não o seu legado" Emília Viotti da Costa.
Capítulo sobre Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafael Gonzaga, resumindo, Princesa Isabel. Acusada de católica fervorosa e submissa ao marido Conde d´Eu (estrangeiro) seus problemas com os republicanos e maçônicos começaram na Questão Religiosa entre 1872 e 1875. Ao anistiar os bispos envolvidos, Isabel fomentou ataques à monarquia que durariam até à assinatura da Lei Áurea. "Então senhora, seus destino é o convento" disse Silveira Martins à princesa que morreu no exílio, em 1921.
Sobre D. Pedro II e seu estado de saúde antes da Proclamação da República. baile na Ilha Fiscal em 09 de novembro de 1889. Atitudes do Imperador e do Marechal Deodoro diante do golpe armado, deslocado das ruas, sem qualquer participação popular, que chamamos hoje de Proclamação da República. Indico.