terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Texto II - Memórias Póstumas de uma Paixão


Texto II – Malditas lembranças


Cínthia sabia que estava apegada apenas às lembranças e nem tanto ao homem com quem compartilhou vários momentos felizes. Estava presa às sensações que sentiu, as risadas, os passeios, o sexo, o gemido, o mar, ela sabia. Sabia também que aquele homem, nem a faria no mínimo satisfeita, em uma relação baseada em convivência, relacionamento e compromisso. 
Aliás, nem nome ele dava aos relacionamentos, pois ele gostava de viver momentos e ela não tinha sido domesticada para isso, ela queria pagar sim um alto preço para ter esses momentos ao lado daquele ser que não tinha nada a ver com ela, mas precisava de segurança pra isso. 
Não obtendo e sendo vítima daquele comportamento sutil e masculino que ao desejar abandonar se faz abandonado, deixou-a no vácuo, cheia de dúvidas e culpas. Sim, sim! Ele mentiu, culpa dele. Você se iludiu, culpa sua. O fogo da paixão não deixou você perceber nada com clareza, mas em um dado momento a razão te fez pressão e você optou em parar de se humilhar. E o que restou? As malditas lembranças. 
Esses momentos, em forma de lembranças que confundem e fazem Cínthia, Maria, Josefa, Grace idealizar, desejar um retorno de novela, um telefonema, um e-mail, uma pitada de ódio. Mas, nada acontece e para pior a situação, o tempo se torna lento e eterno. Só restou uma herança, um pacote com as malditas lembranças. Pra que servem afinal?
            Seria uma forma de não deixar morrer a sensação momentânea de felicidade que sentiu? Um ataque das paixões que militam contra sua alma e a tornam cativa? Talvez porque lembramos do último e não do primeiro ou terceiro homem que acreditamos ser o grande amor da nossa vida? Para nos mutilar com a verdade de ter sido tudo teatro? 
Cínthia não tinha as respostas e chorava ao lembrar desses momentos. Saudade? Falta de amor-próprio? Não. Apenas a conseqüência de uma tentativa frustrada, de um risco desnecessário, momentos certos com a pessoa errada, mas e quem afinal, tem bola de cristal?
O fim: desastroso. Mas, não forte o suficiente para apagar esses flashes dessas malditas lembranças. E nesse processo, sobreviver é sua meta atual. Até que Cínthia compre no mercado clandestino uma bola de cristal, um manual ou um radar de encantados disfarçados. 
14/01/2011 Sally Barroso