LONDRES, 22 Jan (Reuters) - Testemunhar as férias, a
vida amorosa e o sucesso profissional dos amigos no Facebook pode
provocar inveja e causar sentimentos de infelicidade e solidão, segundo
pesquisadores alemães.
Um estudo realizado em conjunto por duas
universidades alemãs encontrou uma inveja desenfreada no Facebook, a
maior rede social do mundo, que agora tem mais de 1 bilhão de usuários e
produziu uma plataforma inédita para comparações sociais.
Os pesquisadores descobriram que uma em cada três pessoas
sentiu-se pior e mais insatisfeita com a própria vida depois de visitar o
site, enquanto pessoas que passearam por lá sem contribuir foram as
mais afetadas.
"Ficamos surpresos ao ver quantas pessoas têm uma experiência
negativa do Facebook, com a inveja fazendo-as se sentirem sozinhas,
frustradas ou com raiva", disse à Reuters a pesquisadora Hanna Krasnova,
do Instituto de Sistemas da Informação na Universidade Humboldt de
Berlim.
"A partir de nossas observações, algumas dessas pessoas vão
então sair do Facebook ou pelo menos reduzir o uso que fazem do site",
disse Krasnova, aumentando a especulação de que o Facebook poderia
chegar a um ponto de saturação em alguns mercados.
Pesquisadores da Universidade Humboldt e da Universidade
Técnica de Darmastadt descobriram que fotografias de férias eram a maior
causa de ressentimento, com mais de metade dos incidentes de inveja
provocados por imagens de viagens no Facebook.
A interação social foi a segunda causa mais comum de inveja,
com os usuários podendo comparar quantas felicitações de aniversário
receberam em relação a amigos no Facebook e quantos "curtir" ou
comentários foram feitos em fotos ou posts.
"O acompanhamento passivo provoca emoções amargas, com os
usuários invejando principalmente a felicidade dos outros, o modo como
os outros passam as férias e como socializam", disseram os pesquisadores
no estudo "Inveja no Facebook: Uma Ameaça Oculta à Satisfação da Vida
dos Usuários?", divulgado na terça-feira.
"A presença disseminada e onipresente da inveja em Sites de
Redes Sociais é mostrada para minar a satisfação de vida dos usuários",
afirmaram.
Eles descobriram que pessoas com trinta e poucos anos eram
mais propensas a invejar a felicidade familiar, enquanto as mulheres
eram mais propensas a invejar a atratividade física. Esses sentimentos
de inveja fizeram alguns usuários se gabarem mais sobre suas conquistas
no site administrado pela Facebook Inc. para aparecerem sob uma luz
melhor.
Os homens postavam mais conteúdo autopromocional no Facebook
para fazer com que as pessoas soubessem sobre suas realizações, enquanto
as mulheres destacavam sua boa aparência e vida social.
Os pesquisadores basearam suas descobertas em dois estudos
envolvendo 600 pessoas, e os resultados devem ser apresentados em uma
conferência sobre sistemas de informação na Alemanha, em fevereiro.
O primeiro estudo analisou a escala, o âmbito e a natureza de
incidentes de inveja provocados pelo Facebook, e o segundo em como a
inveja estava relacionada ao uso passivo do Facebook e à satisfação com a
vida.
Os pesquisadores disseram que os entrevistados em ambos os
estudos eram alemães, mas esperavam que os resultados fossem os mesmos
internacionalmente, já que a inveja é um sentimento universal e
possivelmente impacta o uso do Facebook.
"Do ponto de vista de um provedor, nossas descobertas
assinalam que os usuários frequentemente veem o Facebook como um
ambiente estressante, que pode, no longo prazo, por em perigo a
sustentabilidade da plataforma", concluíram os pesquisadores.