sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Simplesmente Pagu


 Autobiografia Precoce é um livro que não se prende a datas, fatos e nem eventos que vamos ler sobre a vida de Patrícia Rehder Galvão, mais conhecida como Pagu. O desejo não era escrever de forma retrospectiva, pois isso implicava para a autora uma marcha à ré. Contrária a autocrítica, sabia que a experiência se aproveita espontaneamente, sem dogmatização.

Pagu foi escritora, poetisa, jornalista e, dentre várias habilidades profissionais, teve grande destaque como militante da causa comunista. Desde a sua infância, já tinha a percepção dos seus passos fora dos conceitos humanos tradicionais. A obra aborda a sua constante busca pela bondade, beleza e o sabor amargo da insatisfação em não encontrá-las, o que a mantinha no círculo vicioso da procura de toda espécie de ideal.

O que temos como análise positiva é a simplicidade em descrever sua narrativa trágica no seio familiar e a sua trajetória que foi desde a alienação total, a participação de meios literários e artísticos da vanguarda modernista brasileira. A forma como Pagu denuncia em forma de autobiografia o olhar masculino patriarcal sobre a mulher, mesmo que dentro dos movimentos operários, nos faz refletir sobre as pautas de luta que deixaram as necessidades femininas à parte na sociedade.

Por outro lado, essa mesma simplicidade nos leva a indagar se estaríamos lendo sobre a mesma personagem. Não por causa das suas mudanças de convívio, mas pela forma que ela se mostra desconhecedora do mundo intelectual em que esteve inserida e, ao mesmo tempo, desmotivada pelas personalidades que a cercam. De um rompimento não percebido em sua autobiografia, analisamos uma militante inserida no movimento comunista a ponto de abrir mão da maternidade.

Autobiografia Precoce descreve as relações destoadas no seio familiar, o casamento com o modernista Oswald de Andrade, a maternidade, a participação exaustiva no Partido Comunista e até a sua frustração com a causa proletária na prática que, por mais que fosse válida, não se encaixava com os ideais teóricos da revolução soviética. Um desabafo notório de uma grande mulher brasileira à frente do seu tempo.