quinta-feira, 30 de abril de 2015

Admirável Mundo Novo - Diário Literário

23/2015 Publicado em 1932, narra uma fábula futurista onde as pessoas são preparadas biologicamente em provetas e nesse ato separadas por condições físicas, sociais e intelectuais. Também são condicionadas na mesma condição a aceitarem a divisão na qual estão inseridas como natural (no topo da pirâmide os alfas e abaixo os ipsilons). Até mesmo a morte é vista como natural pelo processo de pré-condicionamento e o sofrimento pela perca visto como escandaloso. 
O ano é 634 d.F (depois de Ford). Todos são "protegidos" (dirigidos) pelo estado totalitário. Crime nessa sociedade é tudo aquilo que tira a mesma do seu objetivo, a estabilidade social para o bem de todos. Monogamia, família, relacionamentos afetivos duradouros, isolamento são exemplos do que não é visto com bons olhos pela sociedade "civilizada". 
Para lidar com as emoções e realidades não possíveis de enfrentamento é distribuído às classes sociais a (ração no caso dos operários) dose diária do chamado "soma". Sem ele a sociedade pode entrar em colapso social pela instabilidade gerada. Também existem doses para a atividade sexual e as mulheres praticam exercícios malthusianos para a não procriação.
O que chamamos de promíscuo, na civilização é obrigatório. Ninguém é de ninguém, não há fidelidade e todos pertencem a todos. Lembrando que não há a procriação natural. Religião não existe e ninguém conhece o livro preto por nome Bíblia, a não ser o Administrador. Nem livros antigos, como Otelo de Shakespeare. 
Só que para toda regra há uma exceção, no mundo civilizado podemos citar Bernard Marx. Não adepto ao uso da soma, parece à primeira vista uma intelectual introvertido e melancólico. Pertencente à classe dos alfas, os demais acreditam na possibilidade da presença de álcool em seu condicionamento biológico. Em uma visita à Reserva Selvagem com Linda, acaba levando ao mundo civilizado um "selvagem". 
Então, podemos dividir o livro na parte que descreve o mundo civilizado e na parte que descreve o impacto do selvagem nela. A mesma a princípio causou-lhe grande admiração a ponto de chamá-la de Admirável Mundo Novo. Indico pelas ótimas reflexões e conciliações históricas que o autor nos permite. Muito bom. 

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Diário Literário


24/2015 Tempo de Esperas - Dois personagens trocam cartas, um velho professor que resolveu se esconder do mundo e um estudante de filosofia que tem o sonho de alcançar as glórias da vida acadêmica que o professor abandonou. Ao trocar correspondências sinceras os dois debatem sobre um dos maiores desafios humanos: compreender o tempo de esperas. Desta forma, descobrem o amor fraternal, a amizade e a humildade. A felicidade pode estar na simplicidade da vida, e o autor nos mostra como é preciso compreendê-la.

Mas, vai além do anunciado acima. Podemos com a leitura aprender nesse simples gesto de troca de cartas que existe um senhorio inevitável entre o ser real e o ser desejado, o tempo das esperas. O uso emprestado da palavra à dor da perda, e ao mesmo tempo à alegria da ressurreição. O morrer e o nascer. Processual. A semente e a beleza da flor, um jardim semeado em nossos corações abatidos pela procura da maturidade e pelo cansaço devido o fardo religioso. Quem não se identifica com Alfredo início, meio e, Oxalá, fim em sua busca? Alfredo não se submeteu apenas ao plantio de um jardim para lidar com suas dores (evitando spoiler), mas abriu mão das respostas racionais, se rendendo ao caminho da dúvida que nos remete a Deus. Sim, Deus. não o Deus dos místicos que se aventuram pela busca e apresentam caminhos prontos. Muito menos o Deus dos especialistas em deus. Mas, o Deus possível no pequeno gesto, na dependência da semente, nos processos do nosso jardim, no ato leve e selvagem que pode ser e ter o amor

"Tenha paciência com suas circunstâncias" página 32

"Seja honesto com sua interrogação". "A dor é sua". página 42

"Nem sempre a vida fala". página 44

"Afetos também carecem de repouso". página 49

"...estamos em constantes êxodos". página 49

"Prefiro a perspectiva da passagem. É bom passar". página 52

"...tenho aprendido que preparar a felicidade já é um ato de ser feliz". página 61

"Outro dia eu lhe perguntei se havia provas concretas da ressurreição de Jesus. Ela disse que não. E foi então que eu a desafiei dizendo que seria absurdo ter fé num acontecimento que não pode ser provado cientificamente. Ela me respondeu com simplicidade que se houvessem provas não haveria necessidade de ter fé".  página 128

QUEM VIVE SE BUSCANDO NUNCA PARA DE CHEGAR. 

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Helen Fielding (Bridget Jones) X Marian Keyes (Melancia)



20/2015 - Melancia de Marian Keyes
Ah! Esse livro tem um começo impactante. Uma coisa interessante é a forma como a autora consegue contar a reviravolta de Claire de forma humorada. Ops! Nada de spoiler, mas é impossível não comentar que o livro começa com Claire ouvindo do seu marido James que, o mesmo irá abandoná-la pela vizinha, no quarto do hospital onde ela acaba de ganhar a filha do casal (Kate). Melancia por causa da forma como se sente Claire fisicamente falando. Uma melancia. É um enredo com muito pano pra manga, como diz o ditado popular. 

Justificando o meu título, quero fazer comparações de Marian Keyes (irlandesa) com Helen Fielding (inglesa), já que vários críticos britânicos já as fizeram antes de mim. Helen, autora de O diário de Bridget Jones, Bridget Jones no limite da razão e Bridget Jones louca pelo garoto, foi (ou é) jornalista da BBC e foi considerada autora de chicklit (romance bem humorado para mulheres modernas). Confesso que me identifico muito com a personagem e dei boas risadas com a leitura. 




A autora Marian Keyes se formou em Direito, mas nunca exerceu. Teve problemas com o alcoolismo e após a reabilitação passou a escrever crônicas e contos. O livro Melancia foi traduzido em 32 idiomas e a mesma foi considerada como a Helen Fielding do momento. Não sei o que ambas acham disso. O que sei é que há mais semelhanças do que diferenças entre suas personagens. Marian Keyes escreveu vários livros, bem aceitos pelo público literário além de Melancia. 



Sobre Bridget e Claire, fica uma curiosidade (devo procurar entrevistas com as autoras) sobre suas próprias mães, pois as personagens, ambas, possuem mães excêntricas e bem particulares com seus modos práticos de viver. O mesmo pode se dizer das figuras paternas. O desfecho das personagens é um pouco (um pouquinho só) diferente. Ops! Spoiler! Bridget sempre vai viver mais em busca do homem que a salve e a complete. A solidão de fato a incomoda. Talvez Claire pareça diferente, mesmo falando vez ou outra com a fada dos relacionamentos, por causa da maternidade que acontece desde do primeiro livro e ela já era casada com James.

 O que podemos notar em ambas as personagens é o perfil do cara vilão que coloca suas estimas já baixas muito mais arriadas (Daniel e James) e o perfil do cara que elas permanecem após trabalhar o processo de amor próprio (Sr. Dark/professor dos filhos no terceiro livro e Adam, no caso de Claire). Também podemos notar a "tara" obsessiva pelo corpo perfeito, como isso fosse a garantia de isca, de pesca, de caça para fisgar o par perfeito. Ambas são sonhadoras, pensam demais, imaginam demais e SÃO DEMAIS. Além delas, amigos marcantes e famílias excêntricas. Garantia de boas risadas com ambas as autoras.

Do mais, indico. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Diário literário


19/2015 - Mito, sonho e loucura (Nelson Valente)

Confesso que solicitei pela estante virtual Skoob por causa do título. A relação é pouca, talvez porque explique a origem da psicanálise e seus derivados e da psiquiatria. Mas, quem lê-lo há de conhecer a História da psicoterapia, a gênese da psicanálise, os princípios básicos de psicologia no terreno da psicanálise, a teoria freudiana da libido e da sexualidade, sobre personalidade, instintos e emoções, sobre a natureza e interpretações dos sonhos, o ego contrariado e suas defesas, psicopatologia, psicoterapias fora da psicanálise e psiquiatria e seus métodos. (Confesso também que os últimos dois capítulos são cansativos e por mais que a linguagem seja simples, torna-se voltado para especialistas). Para quem deseja conhecer sobre o assunto citado e deixando de lado o posicionamento anti-freudiana do autor (que fica explícito) acho bem válido. Indico.