terça-feira, 14 de junho de 2016

Lavoura Arcaica - livro e filme


Lavoura Arcaica foi um acidente literário de percurso. Na primeira feira de troca de livros do Planetário, ele estava lá disponível. Claro, já conhecia de nome, por isso, o escolhi. O autor, Raduan Nassar, nasceu em Pindorama e cresceu em São Paulo, onde cursou Direito e Filosofia pela USP. Estreou na literatura em Lavoura Arcaica em 1975, autor também da obra Um copo de cólera (próximo dele na lista de espera).

Bom, pelo que li na internet, o estilo é entre o novelesco e o lírico, com bastante recursos poéticos. Isso me fez apaixonar pelo seu estilo. O narrador é em primeira pessoa, o tempo não é linear e na obra conhecemos o núcleo de uma família de imigrantes árabes do Líbano no Brasil. Assisti hoje o filme, então vou colocar o nome dos personagens em parênteses, para economizar tempo. O livro é dividido em duas partes: A partida e O retorno.

André (Selton Mello), personagem principal, criado no meio rural arcaico, foge para uma cidade pequena, no interior. Ele luta contra a rigidez moral, contra a estrutura social análoga à Idade Média, contra a opressão da tradição e contra seu sentimento incestuoso em relação a sua irmã Ana (Simone Spoladore). A mando do pai, Pedro (Leonardo Medeiros), o primogênito, vai buscá-lo. O pai, Iohána (Raul Cortez), figura patriarcal, mantém a família dentro dos padrões impostos pela tradição milenar e familiar. 

À mesa, há a presença da diferenciação, a saber o pai à cabeceira, o ramo do afeto, contendo a mãe, André, Ana e Lula, e o ramo da tradição, com Pedro, Rosa, Zuleika e Huda. O outro lugar da cabeceira, pertencente ao avô, permaneceu vazio, desde a sua morte:

"Eram esses os nossos lugares à mesa na hora das refeições ou na hora dos sermões: O pai à cabeceira; à sua direita, por ordem de idade, vinham primeiro Pedro, seguido de Rosa, Zuleika e Huda; à sua esquerda vinha a mãe, em seguida eu, Ana e Lula, o caçula. O galho da direita era um desenvolvimento espontâneo do tronco, desde as suas raízes. Já o da esquerda trazia o estigma de uma cicatriz, como se a mãe, que era por onde começava o segundo galho, fosse uma anomalia, uma protuberância mórbida, pela carga de afeto."

Os dilemas de André, colocados de forma poética são espetaculares. Os sermões do pai à mesa, sobre o tema "Tempo", também. André retorna ao lar, mas isso não significa a paz, muito pelo contrário, significa a tragédia e o desmoronamento dessa família. Falando sobre desmoronamento, quero ressaltar aqui, a forma espetacular como Ana (Simone Spoladore) foi interpretada. É nela que vamos perceber o limbo entre o sagrado e o profano, a presença da figura cigana, sensual e mediterrânea. Simone não fala uma só palavra no filme, mas sua interpretação é maravilhosa. Sua dança final,... sem palavras. Inclusive, foi a que mais ensaiou. 

Essa com certeza, foi considerada a melhor cena do filme, dirigido por Luiz Fernando Carvalho (seu primeiro e único filme). A cena da conversa final entre André e o pai (Raul Cortez) também não deixou a desejar. Raul simplesmente arrebenta. A face da mãe (Juliana Carneiro da Cunha) carregada de dor, nos convence, marcando também. O filme dá primazia ao diálogo, por isso que para muitos é considerado cansativo. Mas, eu tirei o chapéu para Selton Mello, que pelo visto, se entregou de corpo e alma. Assim é a versão do filho pródigo de Nassar. Indico livro e filme. 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

O grande desafio - Pedro Bandeira


Meu 14° livro! Obra para o sétimo ano e que legal, com a possibilidade de conciliar com o conteúdo do 2° trimestre. A saber, Renascimento. Quem está lendo, vai conseguir identificar. Bom, sem mais delonga, e sem informar muito, pois senão torna impossível o spoiler. Queria antes de mais nada informar que é o meu primeiro livro do autor Pedro Bandeira. Sim, eu sei. Logo eu que aclamo tanto os autores brasileiros. Gostei desse nosso primeiro contato, pois o autor trata de forma literária a inclusão de portadores de necessidades especiais.  Afinal, o personagem principal (Toni) vai demonstrando aos poucos suas habilidades, pois ele tem deficiência visual (ops, falei! Foi mal!). Mas, o que quero deixar aqui registrado é que, podemos tudo. Isso é a frase que a mãe (dona Marta) dele vivia dizendo, e a responsabilidade dessa frase a colocou dentro da aventura. "Você pode fazer tudo..." Resumindo, o enredo se passa no colégio Cidinha Moura, que tem um século de fundação. Toni é um aluno de baixa renda, assim como Carla, e ambos vão participar de uma aventura para investigar a prisão do pai dela. Mas, não vamos nos apegar apenas ao passo a passo dos personagens, e sim a possibilidade de acessibilidade. Essa é uma ótima mensagem. Claro, no meu ponto de vista.