sábado, 6 de julho de 2013

Diário literário julho/2013


O Evangelho Maltrapilho - Brennan Manning

Essa é a segunda vez que leio esse livro, pois trata-se do tipo de literatura que deve ser lida várias vezes no decorrer da trajetória chamada vida. Confesso que absorvi mais a leitura agora, ao contrário da primeira vez. Se você me perguntar qual livro escolheria para reler em 2013, eu afirmaria "O Evangelho Maltrapilho", o que não faria com "A Bacia das Almas" de Paulo Brabo ou os vários livros do autor Caio Fábio. 
Brennan, diferente de muitos autores ditos cristãos, foi acusado diversas vezes de herege, universalista, desequilibrado, espiritualmente imaturo e intelectualmente confuso. Para o mesmo, o motivo é simples, os legalistas e puritanos não querem que o cristianismo nos ajude a nos tornamos pessoas completas e sim amedrontar-nos sob o peso do controle de regras e regulamentos.
Publicado em 1990, o Evangelho Maltrapilho não foi escrito para os super espirituais, muito menos para acadêmicos, místicos, destemidos ou zelotes que confessam em alto e bom som que guardam todos os mandamento. O livro foi escrito para os vacilantes de joelhos fracos, para os discípulos instáveis, para os homens e mulheres fracos e pecaminosos com falhas hereditárias e talentos limitados. Para pessoas inteligentes que sabem que são estúpidas, e para discípulos honestos que admitem que são canalhas. 
A igreja há anos aceita a graça na teoria, mas nega-a na prática. A maioria dos cristãos vive na casa do temor, na ênfase do esforço pessoal, onde a espiritualidade começa no eu, não em Deus. O perfeito eu é baseado na disciplina pessoal e na autonegação, uma vez que o fervor passa, a fraqueza e a infidelidade aparecem. Somos todos mendigos, igualmente privilegiados, mas não merecedores, às portas da misericórdia de Deus.
Diante do deus imprevisível, errático e capaz de toda espécie de preconceito, há o cristão legalista compelido a qualquer mágica para aplacá-lo. Mas a confiança no Deus que ama de forma consistente, produz discípulos que possuem a consciência que nada fizeram para merecer o amor e nem a salvação. Afinal, o arrependimento não é o que fazemos para obter perdão, é o que fazemos porque fomos perdoados.
Esses discípulos, maltrapilhos, combinam um senso de incapacidade pessoal com uma confiança no amor de Deus. Os maltrapilhos não sentam-se para serem servidos, eles ajoelham-se para servir. Porém, embora possam ter coração mole, os maltrapilhos são cabeças-duras. Não vivem num mundo ilusório e fora da realidade, pontificado sobre a vida cristã vitoriosa. Eles formam a igreja mendicante, e não a igreja triunfante. 
Os maltrapilhos não são santos, tropeçam com frequência, mas não gastam horas sem fim em autorrecriminação. São justos, não por justiça própria, e sim, pelo sangue que os justificam. A estrada do maltrapilho conduz sempre ao calvário, pois reconhece que o seu eu é a sua cruz, e deve ser negado. 
Somos filhos que abandonam, que voltam por motivos errados, votamos maltrapilhos, mas estamos sempre voltando, pois temos a consciência de que apenas Ele tem palavras de vida eterna. Temos ciência do cansaço e fardo do esforço próprio, e temos Nele o alívio e o amor de sermos quem somos, maltrapilhos.