terça-feira, 20 de outubro de 2020

Cultura Letrada: Literatura e Leitura

 



Acho o assunto muito pertinente. É um livro fino, mas o seu conteúdo e a possibilidade de reflexão valem muito a pena. Bom, no término do século XX, a imprensa começou a se dedicar nas escolhas dos melhores representantes dos anos mil e novecentos em diversas categorias. Eleições dos melhores romances e autores de ficção (mundial e brasileiro) foram promovidas. Nem preciso informar que desde então surgiu duas classes de literatura: a popular e a erudita. A escola ensina a ler e a gostar da literatura, entretanto o que quase todos aprendem é o que devem dizer sobre determinados livros e autores, independentemente de seu verdadeiro gosto pessoal. 

Para que uma obra seja considerada Grande Literatura ela precisa ser declarada literária pelas chamadas "instâncias de legitimação". Universidades, jornais, revistas especializadas, livros didáticos... Assim, o que torna um texto literário não são as suas características internas, e sim o espaço que lhe é destinado pela crítica. O prestígio social dos intelectuais encarregados de definir Literatura faz que suas ideias e seu gosto sejam tidos não como uma opinião, mas como a única verdade, como um padrão a ser seguido. 

Infelizmente, a escola tende a aproximar-se da opinião dos intelectuais e esquecer (ou estigmatizar) o gosto das pessoas comuns. Obras não eruditas são avaliadas como imperfeitas e inferiores, quando na verdade são apenas diferentes. Podemos sim, nas escolas, ler os livros preferidos pelos alunos e discuti-los em classe. Podemos comparar com texto eruditos para entender e analisar como diferentes grupos culturais lidam e lidaram com questões semelhantes ao longo do tempo. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Angústia Graciliano Ramos

 

Luís da Silva, 35 anos, neto de Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva, funcionário público em um jornal, residente de um subúrbio em Maceió na década de 30. Dos vários personagens, que valem várias resenhas, a ênfase do livro está em suas recordações:

"Há nas minhas recordações estranhos hiatos"

Seria suas angústias os hiatos de suas recordações ou suas recordações os hiatos de suas angústias?

O que sabemos é que o início e o fim do romance dão-se com o estado profundo de angústia que domina o Sr. Luís da Silva. A sua capacidade de consciência vai engendrando matematicamente passado e presente, construindo com a memória o seu futuro crime. 

Daqueles que o cercam, um constante sentimento de desconforto e deslocamento:

"Insuportável!" (Diante dos desfavorecidos)

"Não podemos ser amigos!" (Diante dos mais abastados)

Homem introvertido que luta para ter a "dignidade dos bípedes" torna-se revoltado contra tudo e todos à medida que a memória incumbe-se de selecionar suas lembranças. 

"Tão bom José Baía! Ninguém falava alto, ninguém lhe mostrava a cara feia".

Essa insistência da memória em crimes e criminosos soma-se a uma notável influência psíquica que transforma sua inércia em brutalidade. Ato que não correspondeu à expectativa, visto a continuação do círculo vicioso da angústia existencial.