quarta-feira, 17 de junho de 2015

Diário Literário - Menino de Engenho



32/2015 - Menino de Engenho, primeira obra de José Lins do Rego e também primeiro livro do ciclo da cana-de-açúcar. A obra publicada em 1932, na narração saudosista de Carlos Melo, descreve uma sociedade rural, aristocrata, latifundiária e escravocrata. Após ter sua mãe assassinada pelo seu pai, Carlinhos vai morar com o coronel José Paulino, no Engenho Santa Rosa. Por ser doente, é criado sem repressão por sua Tia Maria. O que há de mais interessante é o relato do mundo à sua volta, da enchente do Rio Paraíba, da pobreza, das lendas folclóricas contadas por Totonha, o poder que tinha o coronel sobre seus servos e escravos, sobre os bandidos e cangaceiros e muito mais. Após o casamento de Tia Maria, Carlinhos seguiu sendo criado pela rude Sinhazinha, mas a repressão o levou à uma desenfreada sexualidade aos 12 anos. Ele então foi mandado para o colégio, com a promessa de tomar "jeito". Adorei a leitura. Indico. 

Diário Literário - Frida: a biografia



31/2015 - Acredite, é impossível compreender as obras de Frida Kahlo sem conhecer sua biografia. Confesso que no ano de 2010 penei bastante em sala de aula para falar sobre sua obra, pois aqui em Brasília seus autorretratos são (ou eram) solicitados na 1ª etapa do PAS/UNB. Também fez parte do meu trabalho final no curso de espanhol falar sobre sua vida... e a vontade de conhecê-la melhor só cresceu. Então chegou o momento de ler a obra publicado em 1983 "Frida: a biografia" da historiadora de arte e especialista em América Latina, Hayden Herrera. Foi com base nessa obra que um dos roteiros para o cinema foi desenvolvido. 


Sobre Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, nascida em 1907 (ela dizia 1910 por causa da Revolução) vamos saber desde os seus pais, sua infância, a poliomielite que deixou uma lesão no pé esquerdo, fato que em 1950 resulta em amputação do membro inferior, do trágico acidente em 1925 que a deixou com múltiplas fraturas e a destinou a várias cirurgias, ao uso de coletes de couro e gesso, dores constantes a ponto de chegar ao vício de morfina, seu relacionamento com o muralista Diego Riviera e dois casamentos como o próprio, seu caso com homens e mulheres, aliás na relação dos dois era frequente o adultério (ela chegou a ter um caso com Leon Trotsky), sua arte que surgiu a partir da sua limitação e retratava sua própria condição, suas exposições, viagens e vários outros detalhes embasados em cartas e relatos de amigos e parentes. 

Sua obra é marcada por suas angústias, como por exemplo a imagem acima, onde ela tenta descrever a dor que sentia na coluna. Ela passou por várias cirurgias, e passou muitas temporadas da sua vida acamada, o que não limitou a artista a produzir, pois ela sempre dava um jeito.

"Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor" 



Frida era apaixonada por Diego, isso é bem marcante na obra. A autora em alguns momentos deixa transparecer que Frida usava um pouco da sua desgraça para chamar a atenção, tanto de Diego como dos amigos, seja como for, Frida  se superou, superou uma história de frequentes dores, limitações, traições e eu depois da leitura a admiro ainda mais. Haverá uma exposição em São Paulo em setembro desse ano, marcada como surrealista, ela participou dos círculos de artistas surrealistas e exposição, mas a própria afirmou não ser surrealista:

"Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade."

Os últimos dias de Frida foram angustiantes, em 1954 ela morreu de embolia pulmonar, mas ficaram dúvidas por dois motivos, a entrega de um anel de presente a Diego com 17 dias de antecedência do aniversário de casamento e pela frase no seu diário:

"Espero alegremente a saída, e espero nunca mais voltar". 

O livro descreve o velório e cremação de Frida e várias ilustrações no final, que foram detalhadas no decorrer da obra. Super indico. 

domingo, 7 de junho de 2015

Diário literário - O guardião de livros

30/2015 - A autora do romance "O guardião de livros", Cristina Norton, é argentina, naturalizada em Portugal. A base para compor o livro, fora outras fontes de pesquisa, foi o presente recebido por Laurentino Gomes, as Cartas de Luís Joaquim dos Santos Marrocos. Com esse material, a autora escreveu não apenas sobre a vida de Luís, mas também sobre o cotidiano do Rio de Janeiro do início do século XIX. 
No primeiro capítulo "A escrava" é possível ao leitor visualizar a escravidão a partir da captura na África. Os próximos capítulos tratam da invasão francesa, de Napoleão Bonaparte, a Portugal. Então entramos em contato com a família de Francisco José dos Santos Marrocos, bibliotecário na Biblioteca Real da Ajuda em Lisboa e pai de Luís. 
Luís Joaquim era desde 1802 ajudante da Real Biblioteca e durante a invasão francesa, serviu na Junta direção Geral dos Provimentos para o exército, e pouco depois, foi nomeado capitão de uma das companhias das Legiões Nacionais. Quando a Família Real decidiu "fugir" para colônia, Luís trabalhava na Biblioteca e ajudou seu pai no empacotamento de 60 mil livros que seriam embarcados. Porém, não foi isso que aconteceu, os livros ficaram no porto e não foram objeto de despojo pelos franceses. 
Até a terceira e última invasão dos franceses, a autora nos remete às cenas pitorescas de Portugal, aos acontecimentos após o terremoto de 1755 em Lisboa e ao cotidiano da família dos Marrocos. Em março de 1811 acontece o tema base do livro, a convocação de Luís para levar a segunda remessa de livros da Real Biblioteca para a colônia portuguesa. A primeira remessa foi enviada antes da terceira invasão francesa, pois o Príncipe Regente acreditava que era melhor mandar em duas viagens, para no caso de naufrágios ou ataques piratas. Também deveria ser acompanhada por alguém da biblioteca, que ficaria trabalhando na colônia até que a corte decidisse que havia condições para poderem voltar a Portugal. 
A partir daí vamos ter noção da cidade do Rio de Janeiro do início do século XIX e suas transformações pela análise do bibliotecário. O livro tem uma característica interessante na sua narrativa, ora é narrado por Luís, ora por suas cartas remetidas ao seu pai em Portugal, ora narrados por outros personagens. Nelas lemos a descrição de problemas de higiene da cidade, epidemias, violência urbana, escravidão, conflitos entre os brasileiros e portugueses, as intrigas da corte, rebeliões, acontecimentos ocorridos nos países vizinhos, questões políticas e etc. 
Nas primeiras cartas, Luís escreve seu desprezo pela terra, seu povo e seus costumes. Sua opinião muda consideravelmente quando apaixona-se pela carioca Ana Maria de Santiago Sousa, de 22 anos, filha de um comerciante português com uma brasileira. Esse fato vai esfriar a relação e a troca de cartas entre Luís e sua família. Se no início, Luís desejava ardentemente voltar à sua Pátria, após o seu casamento escreve elogios sobre a terra e tentar convencer a sua família a se mudar para o Brasil. Ele apoiou a Independência em 1822 e continuou crescendo profissionalmente, sendo em 1838, ano da sua morte, o oficial-maior da Secretaria de Estado dos Negócios do Império. 
A autora no final, nos agradecimentos, afirma ter inventado situações e personagens, e que guardaria segredo sobre tais. Ainda assim, acho uma leitura interessante para os apaixonados por História, mesmo sendo pelo viés desse personagem melancólico, hipocondríaco, sarcástico que muito contribuiu por meio de sua correspondência, que hoje encontra-se na Biblioteca Real da Ajuda em Portugal.