domingo, 20 de junho de 2021

As alegrias da maternidade


As alegrias da Maternidade foi o livro de maio do grupo literário Leia Mulheres Petrópolis. Uma das características do grupo é escolher autoras ou personagens femininas marcantes. Li um pouco da biografia de Buchi Emecheta e já me senti atraída por outras obras literárias da mesma. 

Nnu Ego é filha de um líder tribal, logo vamos analisar a tradição e o contemporâneo existente não apenas na atual Nigéria. Sua mãe tem um histórico de amante, muito amada e só lendo mesmo para compreender que naquele contexto o homem tribal podia ter esposas, amantes e escravas. Já Nnu Ego, impossibilitada em ser mãe no seu primeiro casamento, mesmo sendo a preferida do seu pai, é enviada para casar com um pretendente que vive na cidade colonizada pelos britânicos, atual Nigéria. 

O papel da maternidade conduz a trajetória de Nnu Ego e outras mulheres com grilhões tradicionais e os valores femininos são mensurados pelo desempenho dos filhos até a ausência deles. Não existe a mulher como protagonista e sim o papel da maternidade. Sensível e arrebatador. Indico.

O Tigre Branco


O Tigre Branco, de Aravind Adiga, foi o livro escolhido pelo grupo de leitura da BNB no mês de maio. No início, ele é cansativo. Um grande empresário relata a sua trajetória para um político chinês que vai visitar a Índia escrevendo vários e-mails. 

Bom, o tigre branco é um animal raro, aparece de geração em geração. Balram é esse tigre. Sua odisseia começa quando ele decide não seguir o mesmo destino dos homens da sua casta. Sim, fica bem explicado no livro a questão das castas na Índia e como isso compromete até hoje o destino de muitos.
 
A descrição da política (corrupta), das relações familiares e patronais, da miséria paralela ao crescimento e investimento estrangeiro, ... é tão cirúrgica que o autor achou por bem colocar pitadas de um humor ácido para divertir e advertir ao mesmo tempo. É o que torna a leitura possível, pois é revoltante como as permanências só acontecem com a exploração de muitos com o uso da religião e da coerção violenta da polícia a mando do Estado. 

É o oposto do Quem quer ser milionário? e não mostra apenas essa Índia holística e exótica para muitos. Chega a ser a esquina da nossa rua, pois muitas situações citadas não são diferentes no nosso quintal. Já avisando de cara, o filme catalogado na Netflix é muito bom, mas com aqueles desvios de personagens que não dá para compreender o contexto, então, óbvio, o livro é muito indicado. 

 

A Morte e a Morte de Quincas Berro D´Água - Jorge Amado


 

Um modelo perfeito para a sociedade que acaba se transformando em escória da mesma, o que nos faz refletir sobre a morte simbólica para os seus familiares após o não pertencimento do comportamento padrão e as mortes para alívio familiar versus morte como destino desejável daquele que morre. Seria talvez a morte social e depois a física. 

O prefácio foi escrito por Vinícius de Moraes em 1959 que fala do crescimento, segundo ele, do autor que vem desde um livro cheio de defeitos como "O País do Carnaval" até a obra prima em questão "A morte e a morte de Quincas Berro D´Água". É o meu terceiro livro do autor. 

A narração explica bem o título e é tão atemporal pelo fato dessas mortes que temos em vida quando não participamos dos status financeiro, cultural, normativo e padronizado. Sem esquecer o familiar. Mas, o que mais me apeteceu foi a descrição da vida noturna, boêmia, cotidiana e marginalizada do cais da Bahia. 

13º/2021