Texto II – Malditas lembranças
Cínthia
sabia que estava apegada apenas às lembranças e nem tanto ao homem com quem
compartilhou vários momentos felizes. Estava presa às sensações que sentiu, as
risadas, os passeios, o sexo, o gemido, o mar, ela sabia. Sabia também que
aquele homem, nem a faria no mínimo satisfeita, em uma relação baseada em
convivência, relacionamento e compromisso.
Aliás,
nem nome ele dava aos relacionamentos, pois ele gostava de viver momentos e ela
não tinha sido domesticada para isso, ela queria pagar sim um alto preço para
ter esses momentos ao lado daquele ser que não tinha nada a ver com ela, mas precisava
de segurança pra isso.
Não
obtendo e sendo vítima daquele comportamento sutil e masculino que ao desejar
abandonar se faz abandonado, deixou-a no vácuo, cheia de dúvidas e culpas. Sim,
sim! Ele mentiu, culpa dele. Você se iludiu, culpa sua. O fogo da paixão não
deixou você perceber nada com clareza, mas em um dado momento a razão te fez
pressão e você optou em parar de se humilhar. E o que restou? As malditas
lembranças.
Esses
momentos, em forma de lembranças que confundem e fazem Cínthia, Maria, Josefa,
Grace idealizar, desejar um retorno de novela, um telefonema, um e-mail, uma pitada de ódio. Mas, nada
acontece e para pior a situação, o tempo se torna lento e eterno. Só restou uma
herança, um pacote com as malditas lembranças. Pra que servem afinal?
Seria uma forma de não deixar morrer
a sensação momentânea de felicidade que sentiu? Um ataque das paixões que
militam contra sua alma e a tornam cativa? Talvez porque lembramos do último e
não do primeiro ou terceiro homem que acreditamos ser o grande amor da nossa
vida? Para nos mutilar com a verdade de ter sido tudo teatro?
Cínthia
não tinha as respostas e chorava ao lembrar desses momentos. Saudade? Falta de
amor-próprio? Não. Apenas a conseqüência de uma tentativa frustrada, de um
risco desnecessário, momentos certos com a pessoa errada, mas e quem afinal,
tem bola de cristal?
O
fim: desastroso. Mas, não forte o suficiente para apagar esses flashes dessas
malditas lembranças. E nesse processo, sobreviver é sua meta atual. Até que
Cínthia compre no mercado clandestino uma bola de cristal, um manual ou um
radar de encantados disfarçados.
14/01/2011 Sally Barroso