A versão do diretor mexicano, Guilherme del Toro da obra Frankenstein (Netflix/2025) viralizou e aparentemente foi bem recebida pela maioria. Mas... como sei que, infelizmente, o Brasil não é composto por uma maioria de leitores, me sinto na obrigação de começar a postagem citando a autora da obra de 1818, Mary Shelley (1797-1851). Há afastamentos da obra literária e da obra cinematográfica. Não é a intenção aqui pontuar uma por uma.
Seu livro foi publicado inicialmente sem os devidos créditos autorais. Ela, com 19 anos, havia criado uma criatura que transitava entre os debates científicos, a moral cristã e a mitologia grega. Frankenstein, sobrenome de uma família que tivera contato, e Prometeu, o titã que apresentou o fogo roubado para a humanidade fazem parte de uma obra de terror gótico que influencia produções artísticas até os dias atuais.
A criatura de Shelley é perversa e quase não digna de compaixão. Claro que não podemos ser anacrônicos. A época pedia esse resultado desastroso da ação humana em desejar criar com a capacidade divina. O sopro da vida era dado por Deus e o homem não poderia ultrapassar o seu papel de criatura sem sofrer as terríveis consequências. Mas, quando o assunto é o monstro de Del Toro, já sabemos que não será bem assim. Meu segundo contato com o diretor foi em A Forma da Água (2017). Já havia assistido O Labirinto do Fauno (2006), mas levei mais em conta o contexto do conflito da Guerra Civil Espanhola por estar História na época. Sou apaixonada pelos monstros de Del Toro.
A criatura é vítima do criador e escravo de uma eternidade envolta de solidão e maldade humana. Os únicos que oferecem afeto é Elizabeth e um ancião cego. Ele deseja uma companheira. Seus atos de maldade são reações e jamais iniciadas por uma maldade que tem gênesis em si mesmo. Ele deseja vingança, já que seu criador não vai anestesiar a dor da sua existência. Ele perdoa, mas primeiramente, conta a sua versão. Nessa apresentação da criatura, como sempre, nas obras de Del Toro, tomamos partido. O monstro é o ser mais benevolente do rolê todo.
Os figurinos, os atores, a fotografia, ... tudo cooperou para a aceitação da obra de Del Toro. Se a autora aprovaria? Acredito que sim. Fruto da nossa época, lembro da autora Chimamanda N. Adichie em O perigo de uma história única. Precisamos conhecer ambas as versões. A obra original não nos convence da legitimidade da criatura em ser mal. Del Toro com sua poética faz isso sem muito esforço. Indico!




.jpeg)
.jpeg)