sábado, 19 de abril de 2025

Literatura nas animações do Studio Ghibli (Parte I)

     Citei na postagem anterior sobre a relação entre o título japonês da animação O Menino e a Garça (título internacional) com o livro How Do You Live? (Como você vive?) do autor japonês Genzaburo Yoshiro (1899-1981). Uma das características do Studio Ghibli, fundado em 1985, é a forma como os diretores adaptam obras literárias em suas produções. Como sigo em minha pesquisa acadêmica, achei pertinente compartilhar algumas informações, ainda mais aquelas de cunho ocidental (tema do meu TCC já explanado em outras postagens). 

    Vou começar com Nausicaã do Vale do Vento (1984) que eu ainda não assisti, pois sigo acreditando que vou conseguir ler todos os mangás que foram produzidos entre 1982 a 1994. Só li o volume 1. Oremos! O nome Nausicaã foi escolhido por Miyazaki por causa da princesa de Feácia do livro Odisseia de Homero. Conheco a obra e super indico. Fiquei me perguntando o que teria feito Hayao escolher essa personagem. Devaneios de Sally. No quesito personalidade, Nausicaã tem por referência o conto do folclore japonês A Princesa que amava insetos. Só uma curiosidade, li algo a respeito sobre Rey (Star Wars) e Nausicaã, deixo aos interessados o link Influência Japonesa em Star Wars

Ulisses e Nausícaa, de Michele Desubleo (1602-1676)

    Túmulo dos Vagalumes (1988) produzido pelo diretor Isao Takahata (1935-2018) é considerado o filme mais triste do Studio Ghibli pela maioria dos fãs. Concordo plenamente. O filme foi baseado no livro Hotaru no Haka (1937) do autor Akiyuri Nosaka (1930-2015) e a obra literária é sobre a vivência do escritor durante a 2ª Guerra Mundial. Sua cidade Kobe foi bombardeada em 1945 pela bomba B-29 e sua irmã faleceu de fome. Ele publica o conto que se torna depois um romance biográfico para se desculpar com a irmã. 

Cidade de Kobe antes do bombardeio

    O serviço de entregas da Kiki (1989) do diretor Hayao Miyazaki foi baseado no livro infantil Entregas expressas da Kiki da autora Eiko Kadono. Ela se baseou em um desenho de sua filha  de uma bruxinha com uma vassoura voando no céu escutando um rádio. Kiki tem 12 anos assim como a filha de Eiko Kadono e seu único poder é voar em uma vassoura. Seus problemas devem ser resolvidos com auxílio da sua inteligência. 

Eiko Kadono

    Na animação japonesa, Miyazaki aborda a passagem da infância para a juventude e sobre a superação da personagem Kiki desenvolvendo a sua capacidade longe orientação familiar e sem o poder da vassoura durante um tempo. Duas abordagens maravilhosas sobre a pré-adolescência feminina. Devaneios de Sally. Ah! As aventuras literárias de Kiki acontecem em 8 títulos, enquanto a animação se baseou apenas no primeiro volume. 


mangá Omoide Poro Poro

    Não achei muita informação sobre o mangá que foi a inspiração para o filme Memórias de Ontem (1991) do diretor Isao Takahata (1935-2018). Com o título Omoide Poro Poro, o mangá foi escrito por Hotaru Okamoto e ilustrado por Yuko Tone (também não há muito material na internet em português). Achei um podcast muito bacana no spotify no #96 no canal OverDriver Spotify Podcast e eles até começam o episódio informando que é uma animação pouco falada no universo Ghibli. 


    O interessante do enredo é que explana o Período Shôwa (1926-1989) e como era geral esse sentimento de nostalgia e busca por identidade em um contexto cultural e social que vivia a personagem Taeko Okajima (alter ego da autora Hotaru Okamoto). Mais interessante ainda o fato que Isao Takahata acrescentou uma adulta de 27 anos, solteira e que vivia em Tóquio para relacionar o tempo narrativo entre presente e passado. Foi um tema inédito na época e bem aceito pelo público. Interessante que nas animações do Studio Ghibli o campo é visto como o tradicional e em Memórias de Ontem vai demonstrar esse contraste entre passado e modernidade. 

To be continued