sábado, 17 de julho de 2021

O conto da Aia

 


Bom, eu gosto de distopia. Confesso que a temática é quase profética na onda conservadora que assola a política atual brasileira. A autora, Margaret Atwood, publicou seu livro nos anos 80 e sua obra veio à tona novamente com o sucesso da série, que ainda não assisti. Vale ressaltar que foi o livro de junho do grupo de leitura Leia Mulheres Petrópolis. 

A nação dos EUA após passar por problemas de cunho ambientais, políticos, morais adentra em uma ditadura teocrática baseada em uma autoritarismo puritano. Lembrei muito da obra A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne (Indico!!!). Mulheres são submetidas aos padrões embasados no Livro Sagrado cristão. Doutrinadas por mulheres mais velhas, são preparadas para fornecer o útero às mulheres estéreis casadas com comandantes. São as Aias. 

Essas mulheres perderam a autonomia sobre o próprio dinheiro, emprego e o próprio corpo. Seus úteros servem ao Estado. Recebem novos nomes e suas escolhas são definidas pela verticalidade do poder, pois uma das causas do fracasso da antiga sociedade, segundo o Estado, foi o excesso de escolhas que as mulheres conquistaram. Tendo como causa maior a descendência e não o matrimônio romântico, as esposas dos comandantes participam dos ritos de fecundação seguindo o Velho Testamento (tão atemporal):

"Raquel disse: dá-me filhos ou senão eu morro... eis aqui a minha serva, entra nela para que tenha filhos sobre os meus joelhos e eu, assim receba filhas por ela".

Claro, que, alguns cidadãos de bem quebram as regras e agem na clandestinidade. Enquanto isso, nossa protagonista procura resistir lembrando do seu passado e da sua identidade, já que o destino das que não se conformam é a substituição ou a morte. Apenas seus úteros tem serventia e nada mais. 

Ainda que seja uma ficção, o desejo do poder vertical é regredir em qualquer conquista do sexo feminino, submetendo a mulher ao modelo conservador do modelo patriarcal. Simples assim.