26/2015 Confesso que o livro “O lobo da estepe” de Hermann Hesse é
complexo, porém imaginativo por sua oscilação entre o simbolismo e o
surrealismo. O personagem principal se chama Harry Haller, um outsider, misantrópico
que vive entre livros e músicas clássicas. O enredo começa com Harry alugando
um quarto mobiliado de uma senhora e por se tratar de um livro autobiográfico,
temos em suas andanças diárias o compartilhamento dos pensamentos de Hesse
sobre a sociedade burguesa na qual ele se sente inadequado. Suas andanças são
dotadas de percepções de si e do mundo ao seu redor. Dentro de si, Harry possui
um animal selvagem e primitivo, um lobo. Esse que não permite que Harry conviva
de forma pacífica com aquilo que não se adapta. Sua luta constante é a
conciliação entre o lobo e o seu ser racional. Tudo muda ao ter contato com um
panfleto e com os personagens: Hermínia, Pablo e Maria, acrescentando o Teatro
Mágico. Esses vão ensinar Harry a se render às novas possibilidades,
consideradas antes por ele como frívolas. Harry, no Teatro Mágico, tem o contato com
o seu inconsciente e é nele que vai perceber que não possui apenas duas
naturezas (a lupina e a humana) como antes pensava. Tendo contato com seu
passado, amores, guerra, reações, personalidades, Harry vai descobrir aos
cinquentas anos que é um ser de várias naturezas. Como o autor afirmou em nota,
é um livro não sobre morte (suicídio), mas de redenção. Redenção ao novo.
Conforme pesquisa, foi um livro bastante lido nos anos da Contracultura, na era
da psicanálise, faz sentido. Indico.