segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Pequeno Príncipe filme, livro e afins.

Aproveitando a febre que já começou devido ao trailler da animação que sai em 2015 do Pequeno Príncipe e da minha releitura (47/2014), vou deixar registrado um pouco sobre o livro. Primeiro, dizer que a música foi muito bem escolhida "Somewhere Only We Know" da banda Keane, na voz de Lily Allen. http://www.vagalume.com.br/keane/somewhere-only-we-know-traducao.html


O livro de Antoine de Saint-Exupéry é clichê, tão clichê que chego a ficar espantada quando alguém lê e afirma que não entendeu nada. Ainda que não conheça a biografia do autor, pois não tem como não relacionar a obra com a vida do mesmo, é estranho não entender a mensagem que O Pequeno Príncipe tenta transmitir. 
O livro foi publicado em 1943 nos EUA, um ano antes da sua morte. O autor escreveu em sua estadia em Nova York, após o início da 2ª Guerra Mundial, chegando até a visitar Recife. Nos EUA tentava convencer a entrada na guerra. A dedicatória foi para seu grande amigo Léon Werth, escritor francês e crítico de arte, além de anarquista e filho de judeu. Na época isso era um peso e tanto. Enquanto Saint estava em Nova York, Léon passou a guerra em Juan, região montanhosa ("essa pessoa grande mora na França e ela tem fome e frio"). 
Saint realmente esteve no Deserto do Saara com seu navegador, André Prévot, na Líbia em 1935. Passaram grandes dificuldades, inclusive alucinações. Foram salvos por um beduíno. A data, que ele no final cita de seis anos que teve  contato com o pequeno príncipe, meio que bate com esse fato na vida do autor. 
O autor cita sobre seu dom podado pelos adultos e é sabido que Saint foi uma criança difícil, desorganizada e viveu com a morte do pai uma transição de aristocracia rica para uma inferior financeiramente (astrônomo turco que é julgado pelas vestes). A mensagem inicial é um desabafo de como os adultos não entendem e também desestimulam a criatividade infantil. A intenção da sociedade é a padronização ("e a dedicar-me de preferência à geografia, à história, à matemática, à gramática").
Bom, filosoficamente falando, o autor fala de uma criança que saiu do seu pequeno planeta (nosso mundo particular, nosso campo de visão limitado) ainda inocente. Apaixonado pela sua rosa (característica da transição entre a infância e a adolescência) e que, apesar do seu cuidado com seu planeta, foi ferido pelo temperamento da rosa (vida adulta). 
O primeiro contato da criança com o piloto é um pedido estranho "Por favor... desenha-me um carneiro!". No primeiro momento o piloto enxerga "um homenzinho extraordinário", afinal como ele mais pra frente admite "Talvez eu seja um pouco como as pessoas grandes. Devo ter envelhecido". Depois que ele o trata como criança. O príncipe acha estranho o fato do piloto desejar amarrar o carneiro, pessoas grandes tem medo e querem se apossar de tudo. 
No pequeno planeta havia a rosa, que como sabem, tratava-se de Consuelo de Saint-Exupéry, mocinha de gênio "forte". Os vulcões foram inspirados em sua terra e sendo três, fica fácil citá-los: Cierro Vierde (inativo), Santa Ana Vulcão e Izalco, na Cordilheira de  Apaneca. Consuelo tinha asma assim como a flor tinha horror das correntes de ar. O relacionamento de ambos foi complicado e após o contato com a raposa, quando o príncipe vai ter com as rosas, fica claro a questão dúvida sobre o casamento e da infidelidade, mas apenas Consuelo lhe interessava. 
A criança visitou seis planetas antes da Terra:
1° rei sem súditos - exigir de cada um o que cada um possa oferecer e o julgamento a si mesmo;
2° vaidoso - necessidade do adulto de autoafirmação;
3° bêbado - fuga da realidade, falta de amor próprio e vícios; comportamentos de autossabotagem;
4° empresário - necessidade de valorizar o que se é e não o que se tem;
5°acendedor - preso ao regulamento sem questionar;
6°geógrafo - teoria sem prática.
Esses planetas são as críticas ao mundo dos adultos. Seu primeiro contato na Terra seria com a serpente, deixando claro que é preciso morrer para voltar à infância; (bom, não tenho certeza). A criança não tem medo, afinal para voltar à sua amada rosa, terá que morrer. Uma linguagem poética. 

Então chega o momento da raposa, que na minha opinião é o mais lindo. Gosto do livro não pelo pequeno príncipe, mas pela raposa. É o momento da mensagem. A responsabilidade nos relacionamentos e o que é essencial, é além da aparência (adultos só enxergam o chapéu). A raposa aceita o desafio do rito de cativar o pequeno príncipe, mesmo sabendo que ele iria embora para sua rosa. Assim, mesmo sem possuir (amarrar o carneiro e possuir estrelas) tornaram-se eles únicos um para o outro.
Inclusive no deserto do Saara, Saint teve contato com uma Feneco, raposa do deserto e provavelmente as falas do personagem, são da antiga colega Silvia Hamilton Reinhardt.  
Os adultos não cativam e não se deixam cativar. Querem ser adorados (rei), elogiados (vaidoso), fogem (bêbado), valorizam posses (empresário), seguem regulamentos que teorizam o amor sem questionar (acendedor) e não praticam o que dizem saber (geógrafos). A inocência morre, mas o amor não sobrevive ao orgulho, é necessário morrer "mas, eu era jovem demais para saber amá-la" (serpente). É necessário entender os ritos para criar laços (raposa) e compreender que somos seres defeituosos, assim como àqueles a quem dedicamos o nosso amor ("deveria tê-la julgado por seus atos,  não por suas palavras"). 
Saint conseguiu pilotar na Segunda Guerra Mundial, mas não chegou a ver seu livro publicado em francês. Custou para seu corpo ser encontrado e tem todo um histórico sobre o assunto. Agora é aguardar a animação... suspirando. 


Isso poderia ser o final de tudoEntão por que nós não vamos
Para um lugar que só nós conhecemos?