
O livro começa com um texto de Jules Michelet que finda da seguinte
forma: "De uma espécie diferente, sai Satã do seio ardente da Bruxa,
vivo, armado e pronto para atacar, Por mais medo que sintamos, temos de
confessar que, sem ele, morreríamos de tédio". Para o autor/historiador,
as crenças em bruxaria, foram à sua maneira, resposta às angústias
religiosas da época. A crença que alguém poderia prejudicar outro
(principalmente judeus), foi uma maneira de explicar os infortúnios que
afligiam com tanta frequência populações fragéis. Há no livro muitas
figuras (obras de arte) da época para figurar os mitos demoníacos
surgidos no contexto religioso dos séculos XV-XVI.
A bruxaria é uma invenção do século XV, à qual o procedimento
inquisitorial confere uma estruturação orgânica. Uma das características
do período, foi a promoção da imagem de Satã, poderoso e onipresente,
ao qual eram imputados todos os infortúnios da época. (Qualquer
semelhança com a religião contemporânea ocidental, não é mera
coincidência).
Utilizando do livro que foi manual básico de caça às bruxas,(Martelo das
Bruxas Henry Institoris e Jacques Sprenger), os tribunais laicos
perseguiram, investigaram, interrogaram, torturaram e condenaram todos
os suspeitos de bruxaria. Principalmente mulheres anciãs das comunidades
camponesas que conheciam muito bem o segredo das plantas. Claro, que a
crença em bruxaria cresceu em grande parte devido às insuficiências da
medicina e do uso da imprensa.
A partir do século XVI começou um tímido protesto contra a demonologia.
Vários médicos tiveram à frente do combate à repressão. A opinião
pública, principalmente a francesa, a dos magistrados e elites sociais,
evoluiu progressivamente no séc XVII. Foi sob sua pressão que a grande
caça aos bruxos teve fim. Na sociedade do Antigo Regime, a possessão
diabólica era a expressão culturalmente codificada do que os psiquiatras
do fim do século XIX descreveram como histeria.
Os relatos que levavam à fogueira eram inelutáveis e absurdos. De forma
geral, sempre era uma mulher de "má reputação" ou conhecedora do poderio
das ervas medicinais que cedo ou tarde falava algo que a condenava. O
seu pânico considerado de psicose, envolvia todo o vilarejo e a máquina
judiciária. Assim eram as histórias banais, comuns até o final do século
XVII, que como tantas outras, acabou em chamas.
Em meados do final do século VXII que vozes clamaram pela razão e pouco a
pouco, as últimas fogueiras foram extintas. O autor analisa como
historiador, de forma objetiva, o modo de representação que foi a
bruxaria, dos primeiros processos às figuras que povoaram o imaginário
romântico. INDICO para os interessados no assunto.